Caixa de acrílico em Covid-19: uma solução para escassez de EPI?

Um dos grandes problemas desta pandemia de Covid-19 tem sido a escassez de EPI. Um estudo buscou entender a eficácia da caixa de acrílico.

Um dos grandes problemas desta pandemia de Covid-19 tem sido a escassez de equipamentos de proteção individual (EPI). A questão, que é mundial, tem feito com que os profissionais tenham que improvisar seus próprios equipamentos. A caixa de acrílico para suporte na intubação surgiu neste contexto. O NEJM publicou recentemente um artigo sobre o equipamento, que pode ser útil para reduzir a contaminação da equipe durante a intubação.

A caixa de acrílico consiste em um cubo de plástico transparente projetado para cobrir a cabeça do paciente e que incorpora duas portas circulares pelas quais as mãos do médico são passadas para executar o procedimento das vias aéreas.

Caixa de acrílico projetada por Dr. Lai Hsien-Yung | Reprodução: Supplement to: Canelli R, et al. N Engl J Med. DOI: 10.1056/NEJMc2007589

médico em terapia intensiva na covid-19

O experimento com a caixa de acrílico

Na publicação, foi realizada uma simulação que ocorreu da seguinte forma:

Um laringoscopista, vestido com EPI padrão, assumiu a posição de um manequim de vias aéreas. A ideia era simular uma tosse forte e gerar uma propagação de gotículas e aerossóis, usando um pequeno balão de látex contendo 10 mL de corante fluorescente alocado hipofaringe do manequim. O balão foi inflado com oxigênio comprimido que passou através da tubulação dentro do manequim até o balão estourar. Com isso, a explosão do balão representou uma simulação grosseira de uma tosse.

O experimento foi repetido sem e com a caixa de aerossol e, após cada simulação, a cena foi iluminada com luz ultravioleta para visualizar a propagação do corante.

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Resultados

1. Com o uso apenas de EPI: foi encontrado corante no vestido, luvas, máscara facial, protetor ocular, cabelo, pescoço, orelhas e sapatos do laringoscopista. A contaminação do piso ocorreu a aproximadamente 1 m da cabeceira da cama e também em um monitor localizado a mais de 2 m de distância.

Corante fluorescente expelido de uma tosse simulada de paciente que terminou no laringoscopista | Reprodução: Canelli R, et al. N Engl J Med. DOI: 10.1056/NEJMc2007589

2. Com a caixa de acrílico: contaminação apenas da superfície interna da caixa e das luvas do laringoscopista e dos antebraços revestidos. O exame do laringoscopista e da sala com luz ultravioleta não mostrou contaminação macroscópica fora da caixa.

Cabe ressaltar que foi um método simulado e que a detecção não conseguiu identificar quantidades muito pequenas de material que poderiam ser infecciosas. No entanto, o experimento sugeriu que a caixa de acrílico forneceu um pouco de proteção adicional e poderia ser considerado um complemento do EPI padrão.

Um outro ponto importante que não pode ser desconsiderado é que a caixa restringe o movimento das mãos e exigiria treinamento antes do uso no tratamento de pacientes.

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A caixa de acrílico no Brasil

A imprensa já tem divulgado bastante o uso da caixa de acrílico no Brasil na prática em Unidades de Terapia Intensiva. Neste contexto, algumas Sociedades brasileiras escreveram uma nota técnica a respeito do uso do equipamento. A nota traz considerações importantes sobre este dispositivo que precisam ser debatidas antes da sua aplicação em UTIs: “Não há estudos clínicos que comprovem a eficácia do dispositivo como forma de proteção para os profissionais de saúde. Por isso, ainda há a necessidade de uso de todos os equipamentos de proteção individual necessários, mesmo neste cenário. Existem ainda relatos de profissionais de saúde com dificuldade em manipular equipamentos e manusear o paciente durante o procedimento com estes dispositivos, o que poderia aumentar a chance de contaminação em alguns casos”, diz a nota técnica enviada para a imprensa.

Outro questionamento importante é que a caixa acrílica precisaria ser descontaminada através de uma autoclave, o que poderia danificar o material do dispositivo. Com a dificuldade de descontaminação há risco de aglomeração de patógenos, que podem contaminar pacientes e profissionais.

Falamos mais sobre o uso da caixa de acrílico no Brasil nesta reportagem.

Covid-19 Box produzida por professores do IFB — Foto: IFB/Divulgação

Take-home message

O NEJM fez um experimento simulado com a caixa de acrílico, em que ela pareceu conferir uma maior segurança à equipe envolvida, reduzindo riscos de contaminação. Porém, há muitos pontos que precisam ser considerados na hora de optar pelo uso do equipamento, como restrição de movimentação na hora da abordagem ao paciente e dificuldade de higienização correta do equipamento.

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