O câncer colorretal tem apresentado elevação da sua taxa de incidência ao longo dos últimos anos, que acabou culminando com a recomendação de algumas sociedades em diminuir a idade inicial do screening com colonoscopia para 45 anos.
A fisiopatologia do câncer colorretal é multifatorial, e além do componente familiar, fatores externos influenciam no desenvolvimento da neoplasia. Porém não se conhece exatamente a influência de cada fator, nem se a combinações deles podem influenciar no manejo individual.
O trabalho publicado analisou dois bancos de dados envolvendo profissionais de saúde saudáveis em duas coortes, uma com início em 1976 e a outra em 1986. Os dados foram coletados até 2014, e envolviam informações sobre hábitos alimentares e pessoais, além de acesso a informações sobre colonoscopias prévias. Foram retirados da análise pacientes com doença inflamatória intestinal.
Os fatores abaixo foram considerados como risco para o desenvolvimento do câncer colorretal:
- Parente de primeiro grau com câncer colorretal;
- Tabagismo;
- IMC >25;
- Consumo de álcool (maior que 1 dose diária para mulheres ou duas doses para homem);
- Atividade física;
- Uso de AAS;
- Altura;
- Dieta.
O escore de risco poderia variar de 0-8, e era atribuído um ponto para cada ponto da lista.
Resultados
A análise envolveu um total de 118 748 indivíduos, com idade média de 54 anos no momento do início do estudo. O tempo médio de observação foi de 26 anos. Foram documentados 2407 casos de câncer colorretal com 874 óbitos por esta causa. Do total de casos, 1039 (43,2%) ocorreram nos primeiros 10 anos de observação, e uma discreta maior prevalência de câncer proximal.
Na análise comparativa entre as diferentes pontuações e como base aqueles com pontuação 0-2, os que apresentavam 3, 4, 5, 6-8 pontos possuíam 19,1%, 50,8%, 77,3% e 145,2%, maior risco para o desenvolvimento da neoplasia, respectivamente. A realização da colonoscopia entre as diferentes pontuações também foi associada a uma razão de risco variando de 0,50 a 0,59 (95% de intervalo de confiança), tanto em indivíduos com história familiar ou não.
Foi calculado a incidência acumulada de câncer cólon retal utilizando o parâmetro aos 45 anos com resultado de 0,47%. Ao dividir pela pontuação nos grupos 0-2, 3, 4, 5 e 6-8 a mesma incidência foi obtida na idade de 51, 48, 45, 42 e 38 anos respectivamente, com resultados similares em indivíduos com história familiar ou não. Ao se calcular utilizando a idade de 50 anos como parâmetro elevam porém mantém o mesmo padrão.
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Discussão
Apesar dos resultados deste estudo evidenciarem risco relativo semelhantes em indivíduos com diferentes perfis de risco, o benefício da colonoscopia é maior quando o pacientes possui maiores fatores de risco. Isto extrapola as recomendações, e portanto as indicações de realização de colonoscopia de screening deve ser ajustada para o perfil individual.
Diversos outros estudos já demonstraram o benefício da colonoscopia no screening do câncer colorretal, porém não houve estudo que examinasse a modificação das recomendações baseada nos fatores de risco individual.
Estes achados dão embasamento substancial, com relevância para a saúde pública, que indivíduos com maiores risco de desenvolvimento de câncer colorretal devem ser submetidos a um controle mais rígido por colonoscopia.
Para levar para casa
A colono deve ser cada vez mais valorizada e utilizada como método de profilaxia primária e secundária do câncer colorretal. Este estudo nos dá um embasamento para antecipar a solicitação de colonos de screening em pacientes mais jovens. Esta prática ainda necessita ser confirmada pelas sociedades de especialidade, porém é uma tendência real.
Referências bibliográficas:
- Wang K, Ma W, Wu K, et al. Long-Term Colorectal Cancer Incidence and Mortality After Colonoscopy Screening According to Individuals’ Risk Profiles. J Natl Cancer Inst. 2021;113(9):1177-1185. doi:10.1093/jnci/djab041