Câncer de mama: aspectos clínico-laboratoriais do CA 15-3

O câncer de mama é um dos maiores desafios de saúde pública e um dos exames solicitados para sua detecção é o marcador tumoral CA 15-3.

O enfrentamento ao câncer de mama é, certamente, um dos maiores desafios de saúde pública, dada a sua importância clínico-epidemiológica. Ele lidera as estatísticas nacionais de óbitos por câncer na população feminina e, excluídos os tumores de pele não melanomas, também é o mais incidente nessa população.

Aliado ao exame clínico, estudos anatomopatológicos e exames de imagem, o Laboratório Clínico também possui um papel relevante no arsenal diagnóstico desse tipo de câncer. Um dos principais exames solicitados na prática clínica, é o marcador tumoral CA 15-3 (Antígeno de Câncer 15-3), também chamado de MUC1, DF3 ou de Mucina Epitelial Pleomórfica (PEM).

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Importância do marcador CA 15-3 na detecção do câncer de mama

Os marcadores tumorais e o CA 15-3

Por definição, um marcador tumoral é uma substância (ex.: hormônio, antígeno, enzima, metabólito) presente nos líquidos biológicos (em sua grande maioria no sangue), que pode ter suas concentrações elevadas em decorrência de algum processo neoplásico. De um modo geral, por não serem marcadores 100% específicos, podem ser detectados em níveis aumentados em decorrência de outras patologias, quadros fisiológicos e condições benignas.

O CA 15-3 é uma glicoproteína, produto do gene MUC1, um antígeno que é normalmente encontrado, em baixas concentrações, na circulação de indivíduos sadios. Nos adenocarcinomas, especialmente, mas não exclusivamente, mamários, há uma superexpressão desse antígeno na superfície celular, levando a uma maior liberação na circulação.

A monitorização de suas concentrações é indicada para a investigação da progressão da doença, na predição de desfechos adversos, avaliação da eficácia terapêutica e detecção de recidivas. Um aumento de seus níveis maior que 25% pode estar associado a uma progressão da doença em até 80% a 90% das situações.

No entanto, há que se ressaltar que, por não apresentar suficiente sensibilidade e especificidade, ele não deve ser empregado para fins de triagem populacional para o diagnóstico do câncer de mama.

Esse marcador guarda uma boa correlação com o estágio do câncer de mama, apresentando concentrações séricas maiores quanto mais avançado for o estágio. Além disso, o CA 15-3 é marcador tumoral mais específico e sensível para o monitoramento de pacientes com quadro de câncer de mama metastático.

Particularidades analíticas, limitações e outras causas de alteração

Algumas substâncias, como os anticoagulantes presentes em determinados tubos de coleta (ex.: EDTA, heparina), bem como anticorpos heterófilos e autoanticorpos, podem interferir em algumas reações, promovendo resultados espúrios. Da mesma forma, amostras intensamente lipêmicas e hemolisadas não deverão ser utilizadas para a determinação do CA 15-3 e de outros marcadores tumorais, sob o risco de interferência analítica.

Pacientes em vigência de tratamento radioterápico, quimioterápico, bem como em uso de outras drogas (ex.: tamoxifeno), podem ter suas concentrações elevadas, por um período de tempo variável. A flurosceína, utilizada no exame de angiografia retiniana, também é um potencial fator de distorção dos resultados.

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Para fins de comparação e acompanhamento, é recomendado que os marcadores tumorais do paciente sejam sempre realizados pelo mesmo Laboratório Clínico e plataforma analítica/conjunto diagnóstico, já que os diferentes tipos de ensaios e metodologias disponíveis não são comparáveis entre si.

Alguns tipos de câncer de mama podem cursar com níveis dentro dos limites da normalidade do CA 15-3, por não expressá-lo em grandes quantidades na superfície das células. Dessa maneira, alguns pacientes, até mesmo com doenças avançadas/metastáticas, podem apresentar concentrações séricas normais desse marcador tumoral.

Uma grande variedade de outros tipos de adenocarcinomas, como o de cólon, pulmão, pâncreas e ovário, bem como doenças benignas da mama, também podem expressar esse antígeno. Tabagistas e portadores de outras patologias, incluindo cirrose hepática, hepatite crônica, sarcoidose, tuberculose e lúpus eritematoso sistêmico (LES), podem apresentar resultados aumentados.

Conclusão

O CA 15-3, quando bem indicado e analisado, fornece uma importante ferramenta de auxílio ao raciocínio clínico no contexto do câncer de mama. A avaliação correta de seus resultados depende de uma série de fatores, que devem ser levados em consideração pelo médico assistente para sua interpretação adequada.

Referências bibliográficas:

  • Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Estimativa 2020. Incidência do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2019.
  • Jacobs DS, DeMott WR, Oxley DK. Jacobs & Demott Laboratory Test Handbook with Key Word Index, 5th Hudson, OH: Lexi-Comp, Inc; 2001.
  • Lab Test Online. CA 15-3. Disponível em: https://labtestsonline.org.br/tests/ca-15-3
  • McPherson RA, Pincus MR, eds. Henry’s Clinical Diagnosis and Management by Laboratory Methods. 23rd St. Louis, MO: Elsevier; 2017.
  • SBPC/ML. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): fatores pré-analíticos e interferentes em ensaios laboratoriais. 1a Barueri: Manole; 2018.

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