Câncer e trombose: benefícios e riscos da tromboprofilaxia primária

O câncer é um fator de risco para eventos tromboembólicos, e a trombose representa a segunda principal causa de morte entre os pacientes oncológicos.

O câncer é um fator de risco para a ocorrência de eventos tromboembólicos, e a trombose representa a segunda principal causa de morte entre os pacientes oncológicos. Cerca de metade dos casos de trombose em tais indivíduos é incidental (assintomática), e, independente da presença ou não de sintomas, a complicação tem impacto negativo no prognóstico.

Pacientes oncológicos que já apresentaram um evento trombótico têm risco de recorrência cerca de 2-9 vezes maior do que a população geral.

imagem computadorizada de coágulo de sangue representando trombose

Trombose em pacientes oncológicos

Fatores de risco para trombose nestes pacientes podem estar relacionados: ao paciente, como idade avançada, comorbidades (ex.: obesidade, tabagismo), performance status ruim (ex.: acamado) e história familiar de trombose; à neoplasia, como localização, tipo histológico, estadiamento, tempo de diagnóstico e compressão venosa; e ao tratamento, como cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, eritropoietina e cateter venoso central.

A profilaxia medicamentosa consiste em anticoagulação, o que aumenta o risco de sangramento e os custos do tratamento. Por isso, é fundamental a avaliação da relação risco x benefício individualmente, na tentativa de identificar os pacientes que mais se beneficiarão da tromboprofilaxia primária e selecionar o anticoagulante mais adequado para cada caso. Vale lembrar que os novos anticoagulantes orais podem interagir com os quimioterápicos, bem como com outros medicamentos usados no suporte do paciente oncológico (ex.: antifúngicos). A decisão deve ser compartilhada com o paciente, cujos riscos trombótico e hemorrágico precisam ser reavaliados a cada consulta.

Leia também: Tratamento da trombose de veia porta em pacientes com ou sem cirrose

Risco de trombose

Existem escores para avaliação de risco de trombose nos pacientes com câncer. Um deles é o escore de Khorana, de 2008, que classifica o risco em baixo (pontuação = 0), intermediário (pontuação = 1 ou 2) ou alto (pontuação ≥ 3). Para o cálculo dos pontos, consideram-se:

  • Localização da neoplasia (2 pontos se estômago ou pâncreas, e 1 ponto se pulmão, linfoma, vesícula, ginecológico ou testículo);
  • Plaquetometria antes da quimioterapia (1 ponto se > 350.000/mm³);
  • Valor de hemoglobina antes da quimioterapia (1 ponto se < 10 g/dL ou se uso de eritropoietina);
  • Leucometria antes da quimioterapia (1 ponto se > 11.000/mm³);
  • Índice de massa corporal (1 ponto se ≥ 35 kg/m²).

Pacientes com alto risco de sangramento incluem aqueles com: neoplasia de trato gastrointestinal, com lesão luminal; neoplasia de trato geniturinário, com lesão potencialmente sangrante ou com nefrostomia; alterações de mucosa gastrointestinal (ex.: úlcera, gastrite, esofagite, colite); e trombocitopenia grave (< 50.000 plaquetas/mm³).

Mais da autora: Meu paciente apresenta eosinofilia, o que devo fazer?

Tromboprofilaxia

O guideline de 2019 da International Society on Thrombosis and Haemostasis (ISTH) recomenda o uso de apixabana (2,5 mg 2x/dia) ou rivaroxabana (10 mg/dia) por até seis meses a partir do início do tratamento quimioterápico, em indivíduos com escore de Khorana ≥ 2 e sem risco alto de sangramento e de interação medicamentosa.

Por outro lado, se o escore de Khorana for ≥ 3, mas houver risco de sangramento e/ou interação medicamentosa com anticoagulantes orais, a profilaxia deve ser feita com heparina de baixo peso molecular (enoxaparina 1 mg/kg/dia ou dalteparina 200 UI/kg/dia) por 12 semanas a partir do início do tratamento quimioterápico.

Referências bibliográficas:

  • Frere, Corinne, and Dominique Farge. Clinical practice guidelines for prophylaxis of venous thomboembolism in cancer patients. Thrombosis and haemostasis 116.10 (2016): 618-625.
  • Farge-Bancel, Dominique, et al. Implementing thrombosis guidelines in cancer patients: A review. Rambam Maimonides medical journal 5.4 (2014).
  • Ay, Cihan, Ingrid Pabinger, and Alexander T. Cohen. Cancer-associated venous thromboembolism: burden, mechanisms, and management. Thrombosis and haemostasis 117.02 (2017): 219-230.
  • Kraaijpoel, Noémie, and Marc Carrier. How I treat cancer-associated venous thromboembolism. Blood, The Journal of the American Society of Hematology 133.4 (2019): 291-298.
  • Mulder, Frits I., et al. The Khorana score for prediction of venous thromboembolism in cancer patients: a systematic review and meta-analysis. haematologica 104.6 (2019): 1277-1287.
  • Khorana, Alok A. Cancer-associated thrombosis: updates and controversies. ASH Education Program Book 2012.1 (2012): 626-630.
  • Wang, T., Zwicker, J. I., Ay, C. , Pabinger, I. , Falanga, A., Antic, D., Noble, S., Khorana, A. A., Carrier, M. and Meyer, G. (2019), The use of direct oral anticoagulants for primary thromboprophylaxis in ambulatory cancer patients: Guidance from the SSC of the ISTH. J Thromb Haemost, 17: 1772-1778.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.