Cânula nasal de alto fluxo: inimiga ou aliada na Covid-19?

A cânula nasal de alto fluxo pode reduzir de forma considerável a necessidade de VNI ou intubação. Mas devemos utilizá-la no paciente com Covid-19?

A atual pandemia do SARS-CoV-2 testou a sociedade civil e, principalmente, os profissionais de saúde com a falta de conhecimento sobre a doença, a necessidade de pesquisas científicas cada vez mais breves, a escassez de recursos e, por vezes de forma desafiadora, como nos adaptamos aos constantes questionamentos e mudanças de condutas e protocolos elaborados baseado no que achamos que conhecemos desse vírus.

A publicação da Sociedade Canadense de Anestesiologia levanta uma interessante discussão acerca do uso de dispositivos que ofertam oxigênio para os pacientes em tratamento de Covid-19. Aborda mais especificamente a cânula nasal, sua relação com a evolução para ventilação mecânica e ventilação não invasiva (VNI) e o risco de aumento de aerossóis e contaminação da equipe de saúde.

Publicada em junho de 2020, essa revisão sistemática nos trouxe valiosas informações.

Cânula nasal de alto fluxo na Covid-19

A cânula nasal de alto fluxo (CNAF) utilizada nos casos de insuficiência respiratória hipoxêmica aguda pode reduzir de forma considerável a necessidade de VNI ou intubação. Os estudos não mostraram diferenças na mortalidade, prolongamento da internação em unidade de terapia intensiva ou hospitalar, alteração da clínica respiratória relatado pelo paciente ou complicações relacionadas.

Estudos sobre geração de aerossóis no contexto da CNAF em pacientes com Covid-19 eram escassos e outros estudos experimentais e observacionais não foram conclusivos sobre a dispersão e geração de aerossóis.

Evidenciou-se em um estudo uma região menor de alta densidade de aerossóis ao redor da CNAF, comparativamente ao CPAP nasal, mas não quantificou o volume total de aerossóis. Outras publicações mostraram níveis semelhantes de produção de aerossóis nas várias estratégias de oxigenação a distâncias próximas a cabeça, além de apontarem que a tosse em pacientes recebendo CNAF pode dispersar gotículas a distâncias maiores que 2 metros. Desta forma, foi sugerido uma distância de segurança maior nesses pacientes.

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Conclusões

A decisão sobre a estratégia de oxigenação dos pacientes com Covid-19 deve ser adaptada à região do país em questão. A escassez dos recursos talvez seja o maior desafio desta pandemia e, portanto, qualquer afirmação certeira em relação ao uso ou não da CNAF deve ser encarada com cautela. Esta consideração se reforça pelo desconhecimento do risco real de contaminação com a CNAF e, por outro lado, sua aparente redução da necessidade de ventilação mecânica, considerado um recurso valioso e limitado.

Estratégias já conhecidas, como ventilação adequada do ambiente, limitação da exposição da equipe de saúde ao paciente, uso obrigatório de equipamento de proteção individual (máscaras N95, FFP2), além de máscara cirúrgica em pacientes recebendo CNAF, precisam ser aplicadas de forma sistemática.

Referências bibliográficas:

  • High-flow nasal cannula for acute hypoxemic respiratory failure in patients with COVID-19: systematic reviews of effectiveness and its risks of aerosolization, dispersion, and infection transmission. Can J Anesth/J Can Anesth. https://doi.org/10.1007/s12630-020-01740-2

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