Covid-19: características clínicas e resultados em pacientes com esclerose múltipla

No contexto da pandemia, populações em risco de desenvolver formas graves de Covid-19 começaram a ser identificadas, como pacientes com esclerose múltipla.

Em dezembro de 2019, os primeiros casos de uma nova infecção por coronavírus (Covid-19) apareceram em Wuhan, China. O vírus se espalhou rapidamente, atingindo mais de 200 países e milhões de pessoas. Neste contexto de pandemia, populações em risco de desenvolver formas graves de Covid-19 começaram a ser identificadas.

Neste contexto, doenças de caráter autoimune torna-se uma preocupação para médicos e pacientes. Grande parte deles fazem uso de imunossupressores/imunomoduladores. O uso destas drogas deixa estes pacientes mais vulneráveis a forma grave da Covid-19? É necessário interromper o tratamento? Ajustar a dose? Prorrogar o início da droga? São muitas as dúvidas.

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Representação gráfica do vírus causador da Covid-19 em pacientes com esclerose múltipla

Covid-19 e pacientes com esclerose múltipla

No universo da neurologia, pacientes com esclerose múltipla (EM) representam uma população que se enquadra nesta condição. Em 13 de março de 2020, a Federação Internacional da Esclerose Múltipla emitiu recomendações sobre o risco de Covid-19 em pacientes com EM, com uma declaração específica sobre terapias modificadoras de doença (DMTs), indicando que “alguns medicamentos para a EM podem aumentar a probabilidade de desenvolver complicações de uma infecção por Covid-19, mas esse risco precisa ser equilibrado com os riscos de interromper o tratamento. ”

Diante destas questões, Louapre C, MD e col. iniciaram um estudo para determinar as características da Covid-19 nessa população e identificar os fatores de risco para o desenvolvimento de uma forma grave dessa infecção.

Foi um estudo de coorte observacional multicêntrico, retrospectivo, de pacientes com EM com diagnóstico confirmado ou altamente suspeito de Covid-19.

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Os critérios de inclusão foram EM e pelo menos 1 dos 4 critérios a seguir:

  • Um diagnóstico de Covid-19 confirmado biologicamente com base em um resultado positivo de um teste de reação em cadeia da polimerase (PCR) de SARS-CoV-2 em um swab nasofaríngeo;
  • Anormalidades típicas da tomografia computadorizada torácica (TC) (opacidades em vidro fosco) em áreas epidêmicas;
  • Anosmia ou ageusia de início súbito na ausência de rinite ou obstrução nasal;
  • Sintomas típicos de Covid-19 (tríade de tosse, febre e astenia) em uma zona epidêmica de Covid-19. O critério de exclusão foi a oposição do paciente ao uso de seus dados médicos.

A gravidade da Covid-19 foi avaliada em uma escala ordinal de 7 pontos (variando de 1 [não hospitalizado sem limitações de atividades] a 7 [morte]) com um ponto de corte em 3 (hospitalizado e sem necessidade de suplementação de oxigênio). Foram coletados dados demográficos, história neurológica, escore da Escala de Gravidade de Incapacidade Expandida (EDSS), comorbidades, e características do Covid-19.

Foram analisados 347 pacientes com idade média 44,6 anos, 249 mulheres e duração média da doença 13,5 anos. Setenta e três pacientes (21,0%) apresentaram escore de gravidade de Covid-19 igual ou superior a 3 e 12 pacientes (3,5%) morreram de Covid-19. A EDSS mediana foi de 2,0 e 284 pacientes (81,8%) estavam recebendo DMT.

Houve uma proporção maior de pacientes com uma pontuação de gravidade de Covid-19 igual ou superior a 3 entre os pacientes sem DMT em relação aos pacientes que receberam DMTs (46,0% vs 15,5%; p < 0,001).

O principal objetivo do trabalho foi responder à pergunta:  Quais são os fatores de risco para o desenvolvimento de uma forma grave da Covid-19 em pacientes com esclerose múltipla (EM)? Os autores identificaram como fatores de risco para a gravidade da Covid-19 nos pacientes com EM: idade, EDSS, evolução progressiva da EM e sexo masculino. As comorbidades também foram identificadas como fatores de risco, incluindo doenças cardiovasculares e pulmonares, diabetes e obesidade.

Achados

Os autores não encontraram resultados que indiquem um risco aumentado de evolução grave da Covid-19 em pacientes de EM em uso de DMTs, o que deve reforçar, segundo os autores, a recomendação de não interromper os DMTs atuais e não atrasar o início do tratamento em pacientes com maior atividade inflamatória da doença, risco de recidivas ou incapacidade subsequente. Deve-se ter cuidado ao interpretar esse resultado, porque é possível que uma coorte maior possa identificar um subgrupo de pacientes com 1 ou mais DMTs que modifiquem o risco de Covid-19, por isso a importância de mais estudos.

A identificação desses fatores de risco auxilia uma tomada de decisão clínica individual em pacientes com EM durante a pandemia de Covid-19.

Referências bibliográficas:

  • Loapre C.; Collongues N; Stankoff B. et al. Clinical Characteristics and Outcomes in Patients With Coronavirus Disease 2019 and Multiple Sclerosis. JAMA Neurol. Published online June 26, 2020. doi:10.1001/jamaneurol.2020.2581

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