Características epidemiológicas e clínicas de casos do novo coronavírus, na China

Em janeiro, um novo coronavírus foi identificado pelo Chinese CDC, por meio de um swab de orofaringe de um dos pacientes.

Muitos casos de pneumonia de etiologia desconhecida vem sendo relatados em Wuhan, província de Hubei, China, desde dezembro de 2019. A maioria dos primeiros pacientes trabalhava no mercado atacadista local de frutos do mar ou morava próximo a ele. Nesse mercado, animais vivos também estavam à venda.

Sintomas graves de infecção respiratória aguda ocorreram nos estágios iniciais dessa pneumonia. Alguns pacientes desenvolveram rapidamente síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), insuficiência respiratória aguda e outras complicações graves.

Em 7 de janeiro, um novo coronavírus foi identificado pelo Chinese Center for Disease Control and Prevention (CDC), por meio de um swab de orofaringe de um dos pacientes. Esse novo coronavírus foi posteriormente nomeado 2019-nCoV pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

médico em terapia intensiva anotando sobre paciente com coronavírus

Coronavírus

Os coronavírus podem causar múltiplas infecções do trato respiratório de animais e humanos, como síndrome respiratória aguda grave (SARS) e síndrome respiratória do Oriente Médio (Middle East respiratory syndrome – MERS). A maioria dos pacientes apresenta sintomas leves e bom prognóstico. Todavia alguns pacientes com 2019-nCoV desenvolveram pneumonia grave, edema pulmonar, SDRA ou falência de múltiplos órgãos e evoluíram para óbito. Todos os custos do tratamento 2019-nCoV são cobertos pelo seguro médico na China.

Visando a um maior esclarecimento sobre as características epidemiológicas e clínicas da pneumonia 2019-nCoV, Chen e colaboradores efetuaram o estudo retrospectivo Epidemiological and clinical characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study, publicado no jornal The Lancet.

Nesse estudo de centro único, os pesquisadores incluíram todos os casos confirmados de 2019-nCoV no Hospital Wuhan Jinyintan, de 1° a 20 de janeiro de 2020. Os casos foram confirmados por PCR em tempo real (RT-PCR) e analisados quanto aos dados clínicos, epidemiológicos, demográficos, radiológicos e laboratoriais. Os resultados foram acompanhados até 25 de janeiro de 2020.

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Características epidemiológicas e clínicas

Dos 99 pacientes com pneumonia por 2019-nCoV:

  • 49 (49%) tinham histórico de exposição ao mercado de frutos do mar de Huanan;
  • A idade média dos pacientes foi de 55,5 anos [desvio-padrão (DP) 13,1], incluindo 67 homens e 32 mulheres;
  • O 2019-nCoV foi detectado em todos os pacientes por RT-PCR;
  • 50 (51%) dos pacientes apresentavam doenças crônicas.

Os pacientes apresentaram as seguintes manifestações clínicas:

  • Febre – 82 pacientes (83%);
  • Tosse – 81 pacientes (82%);
  • Dispneia – 31 pacientes (31%);
  • Mialgia – 11 pacientes (11%);
  • Confusão mental – 9 pacientes (9%);
  • Cefaleia – 8 pacientes (8%);
  • Odinofagia – 5 pacientes (5%);
  • Rinorreia – 4 pacientes (4%);
  • Dor no peito – 2 pacientes (2%);
  • Diarreia – 2 pacientes (2%);
  • Náuseas e vômitos – 1 paciente (1%);
  • 17 pacientes (17%) desenvolveram SDRA. Dentre eles, 11 (11%) pioraram em um curto período de tempo e morreram por falência de múltiplos órgãos;
  • 4 (4%) evoluíram com choque séptico.

Segundo o exame de imagem (radiografia e tomografia computadorizada de tórax):

  • 25 pacientes (25%) apresentaram pneumonia unilateral;
  • 74 pacientes (75%) apresentaram pneumonia bilateral;
  • 14 pacientes (14%) apresentaram manchas múltiplas e opacidade em vidro fosco;
  • Um paciente (1%) apresentou pneumotórax.

Em relação às modalidades de tratamento realizadas:

  • 75 pacientes (76%) receberam oxigenoterapia;
  • 13 pacientes (13%) foram submetidos à ventilação mecânica (VM) não invasiva e 4 (4%) foram submetidos à VM invasiva;
  • 9 pacientes (9%) necessitaram de terapia de substituição renal contínua;
  • 3 pacientes (3%) foram colocados em oxigenação por membrana extracorpórea (extracorporeal membrane oxygenation – ECMO);
  • 70 pacientes (71%) receberam antibioticoterapia, 15 (15%) receberam antifúngicos e 75 (76%) receberam antivirais;
  • 19 pacientes (19%) receberam glicocorticoides;
  • 27 pacientes (27%) receberam imunoglobulina humana intravenosa.

Esses resultados mostram que a infecção por 2019-nCoV teve início em local de aglomeração, é mais provável que afete homens mais velhos com comorbidades e pode resultar em doenças respiratórias graves e até fatais, como SDRA.

Os pesquisadores descreveram que, em geral, as características dos pacientes que morreram estavam alinhadas com o escore MuLBSTA, um modelo de alerta precoce para predizer mortalidade em pneumonia viral. O sistema de pontuação MuLBSTA contém seis índices: infiltração multilobular, linfopenia, coinfecção bacteriana, histórico de tabagismo, hipertensão e idade.

No entanto, mais pesquisas são necessárias para explorar a aplicabilidade do escore MuLBSTA na previsão do risco de mortalidade na infecção 2019-nCoV.

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Referência bibliográfica:

  • Chen N, Zhou M, Dong X, et al. Epidemiological and clinical characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study pdf icon. The Lancet. Published online January 29, 2020. https://doi.org/10.1016/ S0140-6736(20)30211-7

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