Caso clínico: gastrenterite eosinofílica com ascite em um menino de 15 anos

Embora a gastroenterite eosinofílica (GE) tenha sido descrito pela primeira vez na década de 1930, sua epidemiologia ainda é motivo de discussão.

Um menino de 15 anos foi levado ao departamento de emergência da Santa Casa de Misericórdia de Santos (SP, Brasil) devido a uma semana de história de dor abdominal forte e progressiva, juntamente com diarreia, náusea e vômito. O exame cardiopulmonar era normal e ele referia dor durante a palpação da fossa ilíaca direita e hipogástrio. O paciente também apresentava história de atopia: rinossinusite alérgica, alergia a camarões e picadas de mosquito.

A tomografia computadorizada mostrou que a última porção do intestino delgado e do ceco estava dilatada, o que levantou a hipótese de apendicite aguda. Durante a apendicectomia, observou-se um líquido amarelo-citrino na cavidade abdominal, juntamente com um intestino estreitado e espessado, a apenas 40 cm da válvula ileocecal. A lesão apresentava coloração vinho e aspecto macroscópico da doença inflamatória intestinal. Alguns fragmentos foram removidos para biópsia.

Enterite aguda e ulcerada com intensa eosinofilia foi demonstrada na histopatologia do intestino delgado, enquanto o linfonodo e o apêndice apresentavam hiperplasia linfoide com eosinofilia sinusal moderada no linfonodo.
A esofagogastroduodenoendoscopia não revelou achados significativos.

O menino recebeu um tratamento oral com 15 mg de prednisolona, ​​que após 7 dias foi reduzido para 10 mg e, finalmente, para 5 mg na terceira semana de tratamento. Ele também recebeu 20 mg de inibidor da bomba de prótons por 3 meses.

Discussão do caso

Embora a gastroenterite eosinofílica (GE) tenha sido descrito pela primeira vez na década de 1930, sua epidemiologia ainda é motivo de discussão. Sabe-se que a GE é uma doença inflamatória rara (22-28/100.000 nos EUA) que afeta ambos os sexos e todas as idades com uma preponderância de homens de meia idade e que está profundamente ligada a uma história de atopia em pelo menos 80% dos casos.

Considerando que esta é uma condição que pode danificar qualquer parte do trato gastrointestinal, as manifestações clínicas podem ser muito abrangentes de acordo com a área afetada, extensão da lesão e profundidade da infiltração. Porém, de maneira geral, dor abdominal, náusea/vômito e diarreia são os sintomas mais comuns e geralmente estão relacionados à forma mucosa da condição que, desde Klein et al (1970), pode ser dividida em mucosa, muscular e subserosa. Curiosamente, embora a maioria das queixas de nosso paciente estivesse relacionada à forma mucosa, ele apresentava ascites, presentes apenas na forma subserosa.

A etiologia da GE é desconhecida, mas já foi dito que antígenos alimentares podem ser a causa da infiltração eosinofílica mediada por linfócitos T Helper tipo 2. De fato, a hipersensibilidade à proteína do leite é uma causa importante de GE em crianças, embora não seja comum.

A terapia com corticosteroides é descrita na literatura médica como a primeira linha de tratamento com boa resposta dos pacientes. Estudos recentes estão sendo feitos sobre o uso de anticorpos monoclonais contra IgE.

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Autores:

Em conjunto com: Marcio Roberto Facanali Junior¹, Aline Marques Ribeiro², Beatriz Carnier², Claudio Messias³, Débora Medeiros² e Luiza Thienne Colombo².

  1. Médico da equipe de Gastroenterologia e endoscopia digestiva e respiratória da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos e preceptor da Liga de Clínicas Médicas e Emergências Clínicas da UNIMES.
  2. Médicos graduados pela Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES) e membro da Liga de Clínicas Médicas e Emergências Clínicas da UNIMES.
  3. Médico da equipe de cirurgiões da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos.

Referências bibliográficas:

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