Cefepima para enterobactérias produtoras de AmpC: uma opção segura?

A produção de betalactamases do tipo AmpC é um importante mecanismo de resistência. Mas a possibilidade de uso de cefepima permanece incerto.

A produção de betalactamases do tipo AmpC é um importante mecanismo de resistência aos antimicrobianos apresentada por bactérias Gram-negativas, notadamente as enterobactérias. Capazes de hidrolisar cefalosporinas de terceira geração, como ceftriaxona, sabidamente não têm ação sobre carbapenêmicos. Entretanto, a possibilidade de uso de cefepima contra bactérias produtoras dessa enzima permanece incerto.

Estudos in vitro demonstram uma excelente atividade de cefepima contra organismos produtores de AmpC que sejam suscetíveis a esse antibiótico. Ao mesmo tempo, essa substância apresenta suscetibilidade reduzida a betalactamases e parece ser fraco indutor de AmpC. Por outro lado, estudos também in vitro sugerem que, na presença de grandes inóculos, cefepima pode ser um agente menos confiável para tratamento.

enterobactérias em imagem digital resistentes a antimicrobianos, com possibilidade de cefepima

Cefepima para enterobactérias

Um estudo realizado no Hospital Johns Hopkins avaliou dados de pacientes com infecções de diversos locais causadas por enterobactérias produtoras de AmpC, procurando comparar a eficácia do uso de cefepima em relação ao de meropenem.

Foram selecionados pacientes com bacteremia, pneumonia ou infecções intra-abdominais em que houve isolamento de Enterobacter spp., Serratia marcensces ou Citrobacter spp. de amostras clínicas relevantes para o foco de infecção e que demonstraram, a partir de testes fenotípicos, produção de AmpC e suscetibilidade in vitro ao tratamento instituído. Para serem incluídos, os pacientes deveriam ter recebido cefepima ou meropenem como terapia empírica e por pelo menos 72h.

Foram incluídos 96 casos de infecções por produtores de AmpC, sendo 38% causados por Enterobacter spp., 15% por Serratia spp. e 1% por Citrobacter spp. Nenhum organismo identificado era suscetível à ceftriaxona, mas 96% eram suscetíveis à cefepima, 97% a meropenem, 22% a piperacilina/tazobactam e 19% a aztreonam. Dos 96 pacientes, 78 eram elegíveis para a análise de mortalidade em 30 dias. Destes, 46 receberam cefepima e 32 receberam meropenem.

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Resultados

Pacientes que receberam meropenem eram mais propensos a ter um número maior de comorbidades, ter história prévia de colonização ou infecção por Gram-negativo multirresistente e a ter alguma condição imunossupressora. Nas análises uni e multivariada, não houve diferença de mortalidade em 30 dias entre os pacientes que receberam cefepima ou meropenem.

Após exclusão dos pacientes que morreram nos primeiros 30 dias, também não houve diferença na média de duração de hospitalização da primeira cultura positiva até a alta (12,6 no grupo do cefepima vs. 14,6 no grupo do meropenem).

Os resultados têm plausibilidade, uma vez que, devido à sua carga dipolar, a molécula de cefepima é capaz de penetrar a membrana externa bacteriana e evitar a ação das enzimas betalactamases, além de apresentar menor afinidade por essas enzimas e de aparentar ser um fraco indutor de AmpC.

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O estudo possui algumas limitações, como uma amostra numericamente pequena, o fato de ter sido realizado em um único centro e a ausência de dados sobre a prevalência de produção de ESBL nos organismos isolados, o que dificulta sua generalização. Estudos maiores, de preferência de natureza prospectiva e multicêntrica seriam necessários para averiguar se os resultados são reproduzíveis.

Portanto, os dados sugerem que cefepima pode ter um papel importante no tratamento de infecções por enterobactérias com resistência mediada por AmpC, o que pode contribuir com estratégias de políticas de uso racional de antibióticos, uma vez que constitui uma opção poupadora de carbapenêmicos.

Referência bibliográfica:

  • Tamma, PD, Girdwood, SCT, Gopaul, R, Tekle, T, Roberts, AA, Harris, AD, Cosgrove, SE, Carroll, K. The Use of Cefepime for Treating AmpC β-Lactamase-Producing Enterobacteriaceae. Clinical Infectious Diseases 2013;57(6):781–8 doi: 10.1093/cid/cit395

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