Cerca de 10% das crianças e adolescentes sofrem de enurese noturna, indica estudo

Um estudo envolvendo 804 crianças revelou que 10% das crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos sofrem de enurese noturna.

Um estudo publicado no Journal of Pediatric Urology, envolvendo 804 crianças da Bahia e de Minas Gerais, revelou que 10% das crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos sofrem de enurese noturna, com uma prevalência maior entre os meninos.

Os autores da pesquisa, os urologistas Ubirajara Barroso Jr., chefe da disciplina de Urologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e José Murillo Netto, coordenador do Departamento de Urologia do Adolescente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), alertam para a necessidade do entendimento por parte dos pais que urinar na cama não é culpa da criança, mas sim uma condição médica que requer tratamento especializado.

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Os especialistas ressaltam que essa fase faz parte do amadurecimento e desenvolvimento infantil normal até os cinco anos de idade. A partir daí, progressivamente, os pequenos ganham controle da bexiga com o tempo. E, quando isso não acontece, deve-se procurar a orientação de pediatras e urologistas.

Segundo dados coletados do estudo, aos cinco anos, entre 15% e 20% das crianças urinam na cama; aos sete anos, 10%; aos dez anos, 5%; e, aos 15 anos de idade, por volta de 1% a 3% ainda não controlam a bexiga durante a noite.

“Há uma melhora progressiva, porém não a custo zero”, frisou Ubirajara Barroso Jr., em entrevista ao portal da Agência Brasil.

Cerca de 10% das crianças e adolescentes sofrem de enurese noturna, indica estudo

Tipos de enurese noturna

Existem dois tipos de enurese noturna:

  • Enurese primária: quando a criança nunca teve controle da bexiga à noite e sempre fez xixi na cama;
  • Enurese secundária: quando uma criança teve controle da bexiga à noite por um período de, pelo menos, seis meses, mas perdeu esse controle e agora faz xixi na cama novamente.

A enurese primária é muito mais comum. Já a enurese secundária em crianças mais velhas ou adolescentes deve ser avaliada por um especialista, uma vez que pode ser um sinal de infecção do trato urinário ou outros problemas de saúde, como problemas neurológicos e episódios de estresse, como o divórcio dos pais e a morte de alguém da família.

Transtornos

A enurese noturna traz muitos transtornos para a criança, que tende a se isolar, ter baixa autoestima e até sofrer punições. O estudo também revelou que em Minas Gerais cerca de 60% dos pequenos que fazem xixi na cama ficam de castigo e 40% chegam a apanhar dos pais.

O urologista destacou que os médicos devem esclarecer aos responsáveis no momento da consulta que as crianças não devem ser punidas. “Na verdade, o correto é que os pequenos pacientes tenham um acompanhamento médico para que o melhor tratamento seja iniciado, garantindo, assim, a qualidade de vida de toda a família. A punição nunca será um caminho. A criança deve ser acolhida e cada noite seca precisa ser vista como uma vitória”, orientou Ubirajara Barroso Jr.

Possíveis causas

Embora ainda não seja completamente entendido por que a enurese noturna ocorre, acredita-se que seja devido a um atraso no desenvolvimento da bexiga (menos espaço na bexiga à noite), e/ou dos rins (mais urina é produzida à noite), e/ou do cérebro (incapaz de acordar durante o sono).

Outras possíveis causas são:

Genética. Segundo estudos, se um dos pais fez xixi na cama após os cinco anos de idade, seus filhos podem ter o mesmo problema em 40% das vezes. Se ambos os pais molharam a cama quando crianças, cada um de seus filhos tem 70% de chance de desenvolver o mesmo problema;

Estresse. Essa é uma das razões mais comuns para a enurese secundária. As crianças experimentam estresse quando se mudam para uma nova casa ou escola, experimentam um divórcio dos pais ou perdem um dos pais ou outras pessoas que amam;

Sono profundo. Um padrão de sono profundo pode fazer parte do desenvolvimento normal do adolescente, assim como um horário de sono ruim e poucas horas de sono. Isso tudo é comum durante a puberdade e, especialmente, durante os anos de ensino médio de um adolescente;

Apneia obstrutiva do sono/ronco. Em casos raros, a enurese acontece porque uma criança tem apneia obstrutiva do sono e roncos. Os pequenos com essa condição têm uma via aérea parcialmente bloqueada que pode interromper brevemente a respiração quando dormem, alterando o equilíbrio químico do cérebro, o que pode desencadear a enurese;

Constipação. A bexiga e os intestinos ficam muito próximos um do outro no corpo. Acredita-se que a constipação possa empurrar a bexiga e fazer com que a criança perca o controle da bexiga. Tratar a constipação é, muitas vezes, o primeiro passo para tratar a enurese nestes casos. Se a criança estiver com dor ou fazendo muito esforço para evacuar, isso pode estar contribuindo negativamente para o problema;

Bexiga ou doença renal: Este pode ser o caso se uma criança tiver problemas de controle da bexiga diurnos e noturnos e outros sintomas urinários, como dor ao fazer xixi ou a necessidade de urinar com frequência;

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Doença neurológica. Especialistas alertam que, às vezes, um problema na medula espinhal que se desenvolve com o crescimento ou que está presente no início da infância pode causar enurese noturna. Se o pequeno paciente  tiver outros sintomas como dormência, formigamento ou dor nas pernas, um problema na coluna pode ser considerado. No entanto, essa é uma causa muito rara de enurese.

Acompanhamento médico e tratamento

O acompanhamento médico é recomendado para crianças acima de cinco anos que apresentam episódios de xixi na cama, mesmo que uma vez por semana. Já a partir dos sete anos, o tratamento deve ser realizado com especialistas.

Fatores como metabolismo e alimentação também devem ser considerados. Nestes casos, o tratamento varia de acordo com as necessidades individuais de cada criança, com a indicação de mudanças de hábito, uso de medicamento oral e alarme de enurese (neuroestimulação), que funciona como um sensor que dispara ao primeiro sinal de urina.

O alarme permite aos pais levar a criança ao banheiro e fazer com que ela aprenda a não fazer xixi na cama. Porém, os responsáveis devem ser esclarecidos a ter paciência e dar suporte ao filho (a), pois esse é um tratamento mais demorado que leva, às vezes, até meses.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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