CFM recomenda continuidade de cirurgias bariátricas e metabólicas durante a pandemia

Pacientes com doenças como a obesidade e o diabetes precisam de tratamento, por isso o mesmo não deve ser postergado, mesmo que sejam cirurgias bariátricas.

Pacientes portadores de doenças graves e ou/crônicas como a obesidade e o diabetes precisam de tratamento e a sua postergação pode resultar no aumento da morbidade e da mortalidade, de acordo com a Recomendação Nº 1/2020, publicada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) no dia 21 de maio.

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), médico e cirurgião, Marcos Leão Vilas Boas, alertou para o fato que o retardo no tratamento cirúrgico de pacientes com obesidade clinicamente severa, principalmente dos que possuem comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão e problemas respiratórios – com indicação cirúrgica – pode resultar em aumento da morbimortalidade decorrente da Covid-19, caso estes pacientes venham a contrair o vírus.

Esta afirmação vem sendo documentada e divulgada em diferentes países no que se refere à redução das chances de sobrevivência para estes pacientes.

“Doenças crônicas como obesidade, diabetes e hipertensão são tratadas com efetividade com a cirurgia bariátrica ou metabólica. E esses problemas mostram-se os principais fatores de risco para as formas graves do novo coronavírus e que inclui internamento em UTI e mortalidade da síndrome respiratória aguda grave. Além de todas as doenças e complicações que são evitadas com a perda de peso, podemos somar agora as gravíssimas consequências da Covid-19”, explica Marcos Leão, em entrevista ao Portal PEBMED.

De acordo com a Recomendação do CFM, a priorização por indivíduos com maior peso ou gravidade está indicada apenas para os hospitais e serviços que possuam uma grande demanda de procedimentos para evitar riscos de agravamento das comorbidades e mortalidade.

“Não devemos minimizar o sofrimento daqueles tantos outros que ainda estão em estágios intermediários da doença obesidade”, ressalta o presidente da SBCBM.

Segundo Thomas Szego, um dos precursores da cirurgia bariátrica no Brasil e ex-presidente da SBCBM, a posição do CFM é importante para dar respaldo ao reinício das cirurgias bariátricas e metabólicas no país, uma vez que os pacientes que aguardam a operação apresentam risco aumentado diante doenças infecciosas como a Covid-19.

“Fica muito claro que isso deve ser feito em comum acordo entre o médico e o paciente em instituições que tenham condições de manter a segurança da sua equipe médica, paciente e família. As instituições devem ter um fluxo Covid-19 Free, que significa sem risco de contaminação, feito com todo o cuidado e responsabilidade. É importante que adiantemos o tratamento desses pacientes, dando preferência aos pacientes mais urgentes, mas todos aqueles que aguardam podem ser operados seguindo as regras de segurança que foram descritas”, explica Thomas Szego.

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Recomendações aos pacientes

Marcos Leão ressalta que pacientes obesos, com diabetes tipo 2, com obesidades mais grave e com diabetes menos compensados estão sob altíssimo risco de desenvolvimento de formas graves, internamento em UTI e evolução desfavorável, levando à óbito, decorrente da Covid-19.

“São pessoas que precisam passar por uma quarentena mais rigorosa, da mesma forma que os idosos, para evitar o contágio. Aqueles que são diabéticos têm que tentar ter um controle mais rigoroso, uma atenção maior as suas medicações, ao controle alimentar e, se possível, algum tipo de atividade física para tentar diminuir a descompensação diabética e o impacto da insuficiência insulínica”, afirma o presidente da SBCBM.

Recomendações aos profissionais de saúde

As cirurgias bariátricas e metabólicas devem ser realizadas, preferencialmente, em instituições de saúde que tenham fluxo de atendimento independente do atendimento aos casos de Covid-19, com salas cirúrgicas isoladas e com ambiente controlado.

Paralelo aos casos de infecção pelo novo coronavírus, existem enfermidades que elevam o índice de morbidez no Brasil, em particular a obesidade e o diabetes.

Veja mais: Obesidade aumenta risco de complicações na infecção pelo novo coronavírus?

É necessário também levar em consideração os números da última Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) que apontou que 55,7% da população adulta no país apresenta excesso de peso e que 19,8% é obesa; além dos dados do 16º Boletim Epidemiológico, publicado pelo Ministério da Saúde, que aponta o diabetes como a quarta principal causa de morte em homens e a terceira causa em mulheres.

Mudanças

Entre as recomendações para continuidade das cirurgias bariátricas e metabólicas, o CFM orienta alguns critérios de priorização de pacientes com quadros e comorbidades mais graves que devem ter os seus procedimentos mais acelerados.

No pré-operatório, a recomendação é que sejam adotadas estratégias de triagem de possível contato dos pacientes com portadores de Covid-19 e realização de testes de diagnóstico. Em casos de sintomas respiratórios, febre ou suspeita clínica de infecção pelo novo coronavírus, a cirurgia deve ser adiada.

No pós-operatório, os critérios para a alta do paciente devem ser os mesmos do período anterior à pandemia. Além disso, em relação à assistência ao paciente após a cirurgia, o CFM sugere que as equipes disponibilizem assistência nutricional, clínica e psicológica remota para auxiliar no distanciamento social sem comprometer o acompanhamento.

Marcos Leão, a Resolução chegou em um momento muito oportuno para demarcar a importância da cirurgia bariátrica e metabólica, diferenciando de procedimentos estéticos. Para mostrar também que nos sistemas de saúde, onde há uma demanda muito grande de pacientes, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS), deve-se priorizar os pacientes que têm um pouco mais de risco.

“Outro ponto importante é que as pessoas que ainda não apresentam grandes comorbidades, mas que já são obesas e que tem indicação de cirurgia, não devem ter o procedimento impedido ou adiado por um grande período de tempo. Essas pessoas também estão sob risco de adoecer. A priorização foi feita não para barrar cirurgias de pessoas que não estejam tão graves, mas sim para acelerar aquelas que estão mais graves, sendo destinada para serviços de saúde que apresentam muita demanda, sobrecarregados e que não consigam atender aos seus pacientes. Não é para triar e eliminar casos menos graves”, frisa o presidente da SBCBM.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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