Checklist da consulta pediátrica: o que você não pode deixar de perguntar?

A consulta pediátrica apresenta peculiaridades próprias relacionadas às características inerentes de seu público alvo. Veja nesse artigo algumas dicas.

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A consulta pediátrica apresenta peculiaridades próprias relacionadas às características inerentes de seu público alvo. Ou seja, quem lida com crianças deve estar preparado para conduzir e usar como proveito para o diagnóstico as informações coletadas durante a consulta.

As crianças, na sua maioria, não conseguem realizar uma descrição apropriada de seus sinais e sintomas. Dessa forma, o relato do acompanhante e um exame físico minucioso formam a base para a realização de um diagnóstico e orientação de conduta mais apropriada.

A história clínica (ou anamnese) deve ser coletada com o acompanhante, preferencialmente o cuidador principal da criança. Dependendo da idade, a própria criança pode colaborar com informações sobre sua situação, como características da dor, fatores de melhora ou piora, início do quadro, dentre outras.

Consulta pediátrica no 1º ano de vida: tudo que você precisa saber

médica atendendo criança no hospital

Checklist da consulta de Pediatria

Na anamnese, questionar sobre os seguintes fatores:

  • Identificação: Avaliar o nome, idade, sexo, cor e residência do paciente. Alguns transtornos são mais específicos de determinadas faixas etárias, como exemplo a estenose hipertrófica do piloro, que acomete lactentes jovens em sua maioria. O sexo e a cor podem dar pista de determinadas doenças, como doenças com padrão de herança genética (hemofilia, anemia falciforme). A residência pode fornecer informações acerca de doenças infecciosas mais predominantes na localização de moradia do paciente.
  • Queixa principal: Questionar ao cuidador e/ou a criança o motivo principal de sua visita à unidade de atendimento.
  • História da doença atual: Tentar destrinchar melhor as características da queixa principal do paciente. Avaliar início dos sintomas, modo de instalação (se agudo ou crônico), fatores de melhora ou piora, alterações no sono, alimentação ou rotina diária causada pela doença, outras queixas associadas etc. A prática diária fará com que o pediatra se sinta cada vez mais confortável para avaliação desse tópico da anamnese. Estudar clínica pediátrica também é fundamental para se sentir confortável com o quadro clínico característico das diferentes síndromes clínicas.
  • História da gestação e do parto: Questionar como decorreram a gravidez, o parto e o puerpério. Se a gravidez foi ou não desejada, se realizou pré-natal e seus exames associados. Questionar também se houve ingestão de medicamentos ou drogas lícitas ou ilícitas no período gestacional. E, por fim, se houveram complicações no parto ou puerpério, incluindo infecções congênitas ou sepse neonatal, distúrbios respiratórios, alterações hematológicas, icterícia neonatal, prematuridade, dentre outros. Avaliar se foram realizados os exames de triagem neonatal (testes do olhinho, pezinho, coraçãozinho e orelhinha). Perguntar sobre ocorrência de abortos espontâneos, e se houve investigação apropriada para avaliação dessas ocorrências.
  • História patológica pregressa: Questionar sobre doenças prévias, incluindo doenças comuns da infância, doenças crônicas, episódios prévios da mesma doença (exemplo: broncoespasmo de repetição), internações prévias, acompanhamentos com especialistas, cirurgias prévias, uso de medicamentos regulares ou esporádicos. Avaliar também história de traumas e uso de hemoderivados.
  • História do desenvolvimento: Questionar ativamente sobre marcos do desenvolvimento (principalmente os marcos principais do primeiro ano de vida – sustentar a cabeça, sentar sem apoio, engatinhar e andar); questionar início da fala, rotina e desempenho escolar, nascimentos dos dentes, concentração para atividades como leitura e brincadeira com amigos, época do desfralde etc.
  • História do Sono: Perguntar sobre o padrão de sono do paciente: que horas dorme e que horas acorda, quantas horas por dia o paciente dorme, dorme com quem (em quarto próprio ou faz cama compartilhada), se tem sono tranquilo.
  • História das eliminações fisiológicas: Avaliar quantidade e padrão de micção e evacuação. Perguntar sobre o jato urinário em meninos. Questionar presença de enurese (primária ou secundária) ou encoprese; avaliar sinais de constipação intestinal.
  • História vacinal: Perguntar sobre vacinas e imunoglobulinas já realizadas. Checar cartão de vacinação para comprovação. Questionar necessidade de vacinas especiais e avaliar se o calendário vacinal segue o padrão do Ministério da Saúde ou o da Sociedade Brasileira de Pediatria.
  • História familiar: Perguntar sobre doenças que ocorram na família. Questionar sobre sintomas concomitantes em outros membros. Avaliar causas de morte em parentes próximos, especialmente na suspeita de doenças de padrão de herança genético. Nesses casos, também questionar morte e sintomas semelhantes em irmão durante o início de suas vidas.
  • História social: Perguntar sobre questões socioeconômicas da família: quem mora com a criança, profissão dos pais, principal provedor familiar, se a família recebe renda fixa ou não. As condições higiênico-sanitárias são importantes principalmente na avaliação de doenças infecciosas. Interrogar sobre uso de drogas lícitas ou ilícitas pelos familiares e/ou pela criança, perguntar sobre acesso a essas substâncias pela criança. Perguntar sobre atividades físicas e/ou lúdicas, participação em esportes e atividades ao ar livre. Também perguntar sobre contato com animais pela criança. Investigar viagens recentes e atividades relacionadas durante atividades.

A anamnese não finaliza com apenas essas perguntas. Muitas outras podem ser necessárias conforme o caso clínico e podem ser orientadas conforme a experiência do médico.

Pode parecer muito trabalhoso a interrogação de tantas questões numa consulta pediátrica, mas essas são informações extremamente valiosas que orientarão a investigação clínica, poupando tempo com realização de exames complementares desnecessários que trarão angústia para a criança e sua família.

Como já dizia um provérbio árabe: “Perguntar bem é saber muito”. Busquemos novamente essas orientações no atendimento pediátrico, para melhor atendimento de nossas crianças.

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Referência:

  • Pernetta, C. Semiologia pediátrica. 4° edição. Editora Interamericana. Rio de Janeiro, 1980.

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