Chocolate quente pode ajudar pessoas com esclerose múltipla?

Pesquisadores do Reino Unido realizaram um estudo que avaliou os efeitos do chocolate na melhora da qualidade de vida dos pacientes com esclerose múltipla.

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A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença autoimune, que acomete o Sistema Nervoso Central (SNC) de maneira crônica, cuja população tem por volta de 24 a 30 anos ao diagnóstico, e que pode ser incapacitante. Há duas maneiras principais de manifestação da doença, a forma Remitente-Recorrente (EMRR), que acomete a maior parte das pessoas com este diagnóstico, e surgem sintomas neurológicos subagudos, dentre eles os mais comuns são parestesias, neurite óptica, alterações de força, disfunções urinárias, dentre outros, que no início de seu curso tendem a melhorar espontaneamente.

A outra forma, a Primária Progressiva (EMPP), acomete de maneira lenta e gradual o SNC, evoluindo inicialmente com transtorno de marcha e equilíbrio. Há ainda a forma Secundária Progressiva (EMSP), evolução da forma Remitente-Recorrente quando não controlada adequadamente.

Nos últimos 20 anos, diversas terapias modificadoras da doença surgiram, principalmente para a forma Surto-Remissão, mas inclusive já há uma alternativa terapêutica para a forma Primária Progressiva. Contudo, ainda não há terapias realmente eficazes para uma complicação muito importante da doença, comum a qualquer uma de suas formas: a fadiga.

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A fadiga da EM tem uma prevalência de até 80% em alguns estudos, e pode estar presente até mesmo naquelas pessoas que atingem bom controle de surtos clínicos e imagens de ressonância magnética. É um cansaço central, incapacitante, que atrapalha as atividades de vida diária, que muitas vezes faz a pessoa interromper ou parar de realizá-las. A fadiga, portanto, é um fator importante no impacto sobre as atividades socioeconômicas da pessoa com EM, e merece a nossa atenção.

O uso do chocolate amargo com alta concentração de cacau como antioxidante já é largamente difundido, mas para avaliar se este benefício poderia ser relacionado à concentração de flavonoides, um grupo de pesquisadores do Reino Unido, liderado pela nutricionista Shelly Coe, sua assistente Jo Cossignton, do Centro de Medicina do Esporte e Saúde em Nutrição da Universidade Brookes Oxford, publicaram em março no Neurology and Neurosurgey Journal, do British Medical Journal, um trabalho para viabilidade de conceito, duplo-cego, com duração de seis semanas, que incluiu 40 pacientes, divididos em dois grupos, que pela manhã tomavam em jejum uma bebida da seguinte maneira:

  • 19 pacientes bebiam chocolate quente com um cacau rico em flavonoides, feito com leite de arroz e um pacote de cacau em pó,
  • 21 tomaram o mesmo preparado, porém com baixo teor de flavonoides.

Todos eram orientados a aguardar 30 minutos para tomar medicações ou alimentar-se com outras coisas.
Os pacientes foram avaliados não só para fadiga, mas também para dor, cognição, atividade física, qualidade de vida.
Em seis semanas houve uma melhora significativa, porém pequena, em 11 dos 19 que tomaram a bebida rica em flavonoides, no tocante à melhora do tempo de caminhada, chegando a ter uma diferença média de 34 metros a mais no tempo de caminhada. Também houve melhora nas escalas de dor de autorreporte.

Não houve diferença na escala de avaliação para cognição, apenas uma pessoa mostrou melhora. Ainda são necessários estudos de fase III para comprovar estes resultados iniciais, mas sem dúvida eles já são um bom sinal para poder estimular o uso de chocolate com alta concentração de cacau e flavonoides. Estes resultados chamam atenção para as intervenções dietéticas e seus benefícios nos sintomas associados à esclerose múltipla, e que vêm acumulando evidências de qualidade para recomendar-se cada vez mais mudanças dietéticas com importantes impactos na qualidade de vida e na produtividade dos pacientes de EM.

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Referências:

  • Referencia: Coe et al, 2019 J Neurology and Neurosurgery, BMJ: A randomised double-blind placebo-controlled feasibility trial of flavonoid rich cocoa for fatigue in people with relapsing and remitting multiple sclerosis doi 10.1136/jnnp-2018-419496

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