Cicatrizes inestéticas da face: o que fazer? Experiência pessoal e uma revisão da literatura

O grande responsável por traumas faciais e consequentemente por cicatrizes faciais inestéticas é o acidente automobilístico, atingindo principalmente adultos jovens.

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A maioria dos pacientes envolvidos em traumas é do sexo masculino. Entretanto, as mulheres procuram mais a cirurgia plástica talvez por ainda estarem mais preocupadas com a estética facial, além do que os homens mais facilmente escondem as cicatrizes com a barba.

O grande responsável por traumas faciais e consequentemente por cicatrizes faciais inestéticas é o acidente automobilístico, atingindo principalmente adultos jovens.

O diagnóstico nem sempre é fácil; pois cicatriz inestética é um termo vago, que depende de fatores subjetivos julgados pelo paciente e pelo cirurgião, entre eles:

– a coloração da cicatriz
– o grau debcontratura ou distorção que causa nos tecidos adjacentes
– seus limites com a pele sã
– distúrbios funcionais que esteja causando
– e, principalmente, a importância dada pelo paciente ao problema.

O diagnóstico mais frequente é cicatriz hipertrófica, irregularidades da cicatriz e trap-door (cicatrizes circulares elevadas). Os queloides verdadeiros são menos comuns.

A região da face mais exposta ao trauma é a frontal, por ser a mais proeminente. Na nossa casuística, ela foi superada pela região geniana, que apresenta cicatrizes mais aparentes. A região frontal apresenta melhores resultados, mais facilmente disfarçadas com o cabelo.

Não existe consenso sobre qual a melhor ocasião para se intervir em uma cicatriz. Alguns autores orientam que se aguarde pelo menos seis meses para maturação adequada do tecido neoformado, facilitando o procedimento de revisão. Outros advogam a reintervenção precoce, a partir de dois meses após o trauma, pois, nessa ocasião, a cicatriz será de pior qualidade, e a melhora, mais evidente após a cirurgia.

A maioria de nossos casos foi operada mais de um ano após o trauma, quando a cicatriz estava bem definida, necessitando muitas vezes de um procedimento mais simples.

Cirurgias mais precoces foram realizadas em pacientes com alterações funcionais associadas.

Na maioria dos casos, um único tempo cirúrgico foi suficiente para atingir os objetivos pretendidos. Pacientes com sequelas mais graves foram submetidos a vários tempos cirúrgicos.

Cicatrizes paralelas às linhas de tensão da pele (LTP) dificilmente tornam-se inestéticas, já as que cruzam essas linhas quase sempre são de má qualidade.

O procedimento cirúrgico a ser utilizado depende da região da face afetada e da orientação da cicatriz em relação às LTP.

Mais do autor: ‘Cirurgia Plástica Estética: como identificar um paciente não elegível?’

A ressecção fusiforme é o procedimento mais simples para o tratamento de uma cicatriz insatisfatória. É feita a excisão e aproximação adequada dos bordos. A cicatriz revisada deve ser paralela às LTP e não deve haver tensão na ferida. Foi utilizada mais frequentemente em cicatrizes da região frontal que acompanhavam as rugas de expressão locais, com bons resultados.

Quando a cicatriz não for paralela às LTP deve-se optar por métodos que mudem a posição da cicatriz, aproximando-as dessa linha. A Wplastia é utilizada em cicatrizes perpendiculares às LTP (ângulo de 90°) e em cicatrizes oblíquas que fazem com as LTP um ângulo de até 35°.

Alguns detalhes técnicos devem ser lembrados: a base dos últimos triângulos deve fazer um ângulo reto com a cicatriz; os ângulos ao longo da Wplastia devem der de 55° a 60° e os segmentos devem medir 5 a 7 mm, dependendo do tamanho e localização da cicatriz; se os segmentos forem maiores, uma maior área será ressecada sem necessidade.

A Zplastia é a aplicação de dois retalhos de transposição para mudar a posição de uma cicatriz oblíqua às LTP (ângulo menor que 35°). O segmento diagonal deve ficar sobre a cicatriz, os planos devem ser paralelos e simétricos, fazendo um ângulo com a diagonal de até 60°, que é o que fornece o maior ângulo possível. Está indicada principalmente em cicatrizes nas pálpebras, lábios e região nasolabial, em cicatrizes pequenas e múltiplas, e em cicatrizes de regiões marginais (borda de enxerto ou retalho que não segue as LTP).

Retalhos locais foram utilizados, principalmente quando havia grande tensão da cicatriz por perda de substância. O advento dos expansores trouxe uma nova solução para o problema. Cicatrizes antes sem solução, hoje podem ser tratadas com a expansão de tecido são circujacente e avançamento do retalho expandido.

O face-lift é uma opção para cicatrizes próximas a região pré-auricular que, após a tração, podem ser ressecadas, em casos de assimetria facial, para reposicionamento dos tecidos, ou simplesmente associado a outros procedimentos de revisão, mudando a polaridade da cicatriz.

A dermoabrasão mecânica foi por nós utilizada associada a outros procedimentos para regularização da superfície lesada. A região é primeiramente abrasada e a seguir são feitas as incisões e suturas.

Outros procedimentos foram eventualmente usados, como a confecção de um novo arco de cupido em casos de irregularidade da linha cutâneo-mucosa labial, enxerto de pele em casos de ectrópios palpebrais, rinoplastias secundárias, reconstrução de supercílio, de asa narinária e outros.

Em alguns casos de cicatriz hipertrófica e queloide, a injeção intradérmica de corticoide ( triancinolona) pode atenuar a cicatriz, facilitando ou até mesmo evitando a cirurgia.

A técnica cirúrgica com adequada manipulação dos tecidos, evitando-se maceração da pele, uso de fios adequados e uma boa sutura com afrontamento perfeito dos bordos da ferida, além de curativos bem orientados, colaboram para o sucesso do procedimento.

Alguns pacientes utilizam a maquiagem, conseguindo dissimular bem algumas cicatrizes. Procedimentos auxiliares à cirurgia, como massagem na área operada, pressão sobre a cicatriz, cuidados com a exposição solar e utilização de radioterapia pós-operatória quando indicada ajudam a conseguir melhores resultados.

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CONCLUSÃO

– A escolha do procedimento adequado para a revisão de uma cicatriz inestética leva em consideração a região da face envolvida e as linhas de tensão da pele.

– Na região frontal, cicatrizes paralelas às rugas de expressão são ressecadas em fuso com ótimos resultados. Outras técnicas que mudam a direção das cicatrizes, quando elas são oblíquas às LTP, também levam a bons resultados.

– As pálpebras são estruturas delicadas da região periorbitária. Zetaplastia produzem excelentes resultados para pequenas cicatrizes nessa localização. Se existir falta de pele, produzindo ectrópio, está indicado o uso de enxertos retirados preferencialmente da pálpebra contralateral ou da região retroauricular.

– Na região superciliar, a alopécia e as irregularidades do alinhamento podem ser tratadas com enxerto de couro cabeludo ou simples ressecções, regularizando o supercílio.

– Já o nariz apresenta uma pele pouco distensível, dificultando o uso de pequenos retalhos de transposição. Cicatrizes longitudinais no dorso nasal são em geral de excelente qualidade. Lesões das asas narinárias podem ser tratadas com enxerto composto de pele e cartilagem, retirado do pavilhão auricular ou da asa contralateral.

– As regiões genianas apresentam cicatrizes mais evidentes que podem ser tratadas com qualquer técnica que as posicionem paralelas às LTP. Os resultados são melhores mais tardiamente.

– Na região perioral, o que chama mais a atenção são as irregularidades da linha cutâneo-mucosa. Resultados satisfatórios podem ser obtidos com a confecção de um novo arco de cupido.

– Finalmente, cicatrizes no mento se tornam bastante inaparentes após revisão cirúrgica que posiciona as cicatrizes na mesma direção das LTP.

– Quando a área lesada estiver com a superfície irregular, a dermoabrasão mecânica ou laser terapia deve ser feita antes da incisão, o que facilitará o procedimento de revisão e levará a melhores resultados.

– Além disso, a maquiagem definitiva ou temporária ajuda a esconder as cicatrizes.

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Referências:

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