Cigarros eletrônicos e abstinência a nicotina: metanálise de estudos randomizados

Um estudo teve o objetivo de compilar dados de ensaios clínicos para avaliar se cigarros eletrônicos podem cessar a dependência de nicotina.

Cigarros eletrônicos (e-cigarettes) liberam aerossol aquecendo uma solução tipicamente composta por propileno glicol, glicerina, aromatizantes e nicotina. Nos EUA e na Europa o produto ainda não é liberado para uso na cessação de tabagismo. Alguns estudos observacionais relataram sucesso no tratamento da dependência da nicotina com os dispositivos. O presente estudo teve por objetivo compilar os dados dos principais ensaios clínicos randomizados (ECR) até o momento para avaliar se os cigarros eletrônicos realmente são efetivos na cessação do tabagismo.

Vape: efeitos dos cigarros eletrônicos na saúde respiratória

nicotina

Metodologia

Foram pesquisados nos principais bancos de dados como PubMed, Embase, PsycINFO e Cochrane Central por artigos publicados até julho de 2021. Os estudos foram incluídos se satisfizessem os seguintes critérios:

1) Todos os estudos incluídos deveriam ser ECRs;

2) A exposição foi o uso de cigarro eletrônico com nicotina e a terapia de reposição com nicotina (TRN) como intervenção terapêutica (cessação do tabagismo);

3) O desfecho primário foi parar de fumar;

4) A população-alvo foram adultos com 18 anos ou mais.

Todos os participantes eram fumantes de cigarro no momento da inscrição nos estudos. Todos os estudos incluídos compararam cigarros eletrônicos com todas as formas de  TRN (por exemplo, adesivos de nicotina, gomas, inaladores, pastilhas, sprays nasais, etc). O desfecho primário foi a abstinência de nicotina no ponto de acompanhamento mais longo, definido como abstinência de quaisquer produtos que contenham nicotina.

Resultados

Os quatro ECRs incluídos representaram 1.598 participantes (51,0% do sexo feminino). Esses ensaios foram conduzidos na Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos. A duração desses ensaios variou entre seis e doze semanas. A média de idade dos participantes desses estudos variou de 41 a 54 anos, enquanto o tabagismo basal médio variou de 14 a 21 cigarros por dia. O estudo de Bonevski et al. e Hajek et al. (razão de risco 0,46 (IC 95% 0,25–0,85)) demonstraram que os participantes randomizados para cigarros eletrônicos tiveram taxas de abstinência de nicotina significativamente mais baixas em comparação com aqueles randomizados para TRN. No estudo de Bullen et al., essa diferença entre dois grupos não foi significativa (razão de risco 0,83 (IC 95% 0,41-1,69)). Dados agrupados desses três estudos mostraram menores taxas de abstinência de nicotina em participantes randomizados para cigarros eletrônicos do que naqueles randomizados para TRN (razão de risco 0,50 (IC 95% 0,32-0,77).

Os dados desses estudos sugerem que para cada 100 pessoas que usam cigarros eletrônicos para parar de fumar, 14 ou 15 podem parar com sucesso, mas dez ou onze deles continuarão usando cigarros eletrônicos; enquanto apenas nove de 100 pessoas podem parar de usar TRN, mas apenas duas delas continuarão usando nicotina. Em outras palavras, a maioria dos fumantes que pararam de fumar com a ajuda de cigarros eletrônicos continuam a usar cigarros eletrônicos até o final do período de observação dos ECRs, sendo potenciais caminhos para uso dos cigarros convencionais.

Leia também: Efeitos adversos associados ao uso de cigarro eletrônico por gestantes

Mensagens práticas

  • Os cigarros eletrônicos são dispositivos de liberação de nicotina contendo inúmeras substâncias tóxicas que podem causar lesões pulmonares;
  • Atualmente, não há recomendação de usar os cigarros eletrônicos na cessação de tabagismo;
  • Pacientes que usam adesivos ou gomas de nicotina para cessação possuem mais chances de se curarem da dependência aos cigarros.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Reiner Hanewinkel, Kathrin Niederberger, Anya Pedersen, Jennifer B. Unger, Artur Galimov European Respiratory Review 2022 31: 210215; doi: 10.1183/16000617.0215-2021

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