Codetecção viral e duração da ventilação mecânica em lactentes em UTI pediátrica

Um estudo recente buscou determinar as diferenças na utilização da ventilação mecânica em lactente. Veja os resultados.

Uma pesquisa conduzida por pesquisadores de Ohio, Estados Unidos, e publicado no jornal Annals of the American Thoracic Society concluiu que a identificação do tipo e do número de vírus na bronquiolite viral aguda (BVA) grave é um importante fator preditor da duração da ventilação mecânica com pressão positiva (VMPP) em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP).

O objetivo do estudo “Relationship of Viral Detection with Duration of Ventilation in Critically Ill Infants with Lower Respiratory Tract Infection”, de Shutes e colaboradores, foi determinar as diferenças na utilização da VMPP de acordo com a detecção viral e explorar a associação entre a detecção viral e a duração da VMPP em crianças graves com infecção respiratória presumida.

monitor de UTI pediátrica com lactente em ventilação mecânica

Vírus e ventilação mecânica em lactentes

Foi realizado um estudo de coorte retrospectivo em uma UTIP quaternária em um período de três anos, entre fevereiro de 2014 e fevereiro de 2017. Foram avaliadas 984 crianças com idade inferior a um ano e que receberam VMPP para infecção respiratória presumida, sem cardiopatia congênita significativa, limitações de cuidado, uso de VMPP basal ou traqueostomia.

Os vírus respiratórios foram identificados através de um painel de PCR. Todos os pacientes tiveram um diagnóstico primário ou secundário de BVA, desconforto respiratório ou insuficiência respiratória de vários graus de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) 9 e 10.

Os pesquisadores descreveram que 85 lactentes, correspondendo a 9% da amostra, não tiveram nenhum vírus identificado e 629 lactentes (64%) tiveram um único vírus detectado. O vírus mais encontrado foi o vírus sincicial respiratório (VSR), em 417 bebês (42%), seguido por rinovírus/enterovírus (145/15%). Duzentos e trinta lactentes (23%) tiveram 2 vírus identificados e 40 (4%) tiveram três vírus detectados.

Os lactentes que tiveram a detecção de dois ou mais vírus receberam maior duração total de VMPP na análise ajustada, quando comparados àqueles com apenas um vírus ou nenhum vírus detectado (o risco relativo [RR] foi de 1,4, com intervalo de confiança de 95% [IC 95%] 1,2-1,6; p <0,001, efeito marginal médio [EMM] = 29 horas).

A identificação isolada de rinovírus/enterovírus foi associada a uma duração significativamente menor da VMPP (RR: 0,7; IC 95% 0,62- 0,87; p = <0,001, EMM = -23 horas], VMPP não invasiva (RR: 0,7; IC 95% 0,60-0,85; p <0,001; EMM = -15 horas) e VMPP invasiva (RR 0,7; IC 95% 0,54-0,83; p <0,001, EMM = -54 horas), quando ajustada para peso, prematuridade e administração de antibioticoterapia precoce, em comparação ao VSR isoladamente.

Foi observada também uma associação entre a antibioticoterapia precoce com a ventilação geral mais prolongada (RR, 1,92; IC95% 1,71-2,16; p <0,001). Em contraste, os pesquisadores descreveram que a antibioticoterapia precoce foi associada a menor duração da ventilação nos bebês que foram submetidos a ventilação mecânica invasiva (RR, 0,73; IC 95%, 0,54-0,98; p = 0,035).

Conclusões

Apesar de haver limitações nesse estudo, como ser retrospectivo e ter sido realizado em um único centro, sem um protocolo randomizado, Shutes e colaboradores concluíram que o estudo oferece algum valor preditivo para auxiliar no prognóstico para os pais, orientar a equipe da unidade e fornecer uma referência para a identificação de lactentes cuja gravidade da doença está fora do normal, apesar dos custos de testes virais respiratórios sistemáticos.

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Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o diagnóstico da BVA é essencialmente clínico, com base nas manifestações clínicas da doença, não havendo uma indicação de rotina da utilização de testes específicos de detecção viral.

No entanto, em situações definidas, a detecção da etiologia da infecção respiratória pode ser bastante relevante, como, por exemplo, em pacientes imunocomprometidos; em pacientes que exibem formas de apresentação grave da doença; quando se é necessário guiar a terapia antiviral específica; para diminuir o uso inapropriado de antimicrobianos; para vigilância; para se determinar medidas de isolamento hospitalar e em alguns casos, reduzir os gastos hospitalares e os dias de internação e, especialmente, para melhorar o conhecimento sobre a epidemiologia das infecções respiratórias.

Apesar de ser o VSR ser o principal agente causador da BVA, uma desvantagem das técnicas para a sua detecção exclusiva é que as coinfecções não são diagnosticadas.

Aproximadamente 30% dos pacientes com bronquiolite por VSR podem estar infectados por outros patógenos (metapneumovirus humano, rinovírus, bocavírus, adenovírus, coronavírus, influenza ou parainfluenza).

Na minha opinião, mesmo que não mude o curso do tratamento da BVA em crianças, a identificação dos agentes causais pode auxiliar pesquisas epidemiológicas e também reduzir o índice de infecções nosocomiais.

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