Como a tecnologia pode ajudar na detecção de microrganismos e genes de resistência relacionados à sepse

De acordo com a OMS, cerca de 11 milhões de pessoas vêm a óbito anualmente vítimas de complicações causadas pela sepse. 

O avanço nas últimas décadas da medicina laboratorial trouxe novas técnicas, metodologias e exames, especialmente aqueles relacionados à biologia molecular, que abriram um novo caminho para o diagnóstico médico. 

Mais especificamente em relação à sepse, a tecnologia pode ajudar decisivamente na detecção de microrganismos e genes de resistência relacionados a essa grave infecção, que ao não ser diagnosticada e tratada prontamente, pode evoluir para o choque séptico com falência de órgãos e até mesmo ao óbito do paciente. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 11 milhões de pessoas vêm a óbito anualmente vítimas de complicações causadas pela sepse. 

Especificamente no Brasil, estima-se que a marca chegue a 240 mil óbitos, a maioria concentrada entre recém-nascidos, crianças e idosos. No entanto, é importante lembrar que a sepse afeta também indivíduos com imunossupressão. 

A infecção, mais comumente nos pulmões, abdômen ou trato urinário, é causada por certos tipos de bactérias, geralmente adquiridas em hospitais. Raramente, fungos, como a Candida, causam essa infecção. 

Os sintomas incluem febre, dificuldade respiratória, queda da pressão arterial, aceleração do ritmo cardíaco e confusão mental. 

No entanto, se diagnosticada precocemente, a infecção pode ser controlada e tratada, evitando a piora do quadro e garantindo a recuperação completa e sem sequelas do paciente. 

sepse

Realização de testes de hemocultura 

É aí que entra a importância da realização precoce de testes laboratoriais, como a hemocultura, que isola a cultura do patógeno causador do quadro. 

“Ainda não existe um teste de ampla utilização em laboratórios clínicos que faça a detecção direta em amostras de sangue para saber quais seriam os possíveis agentes causadores da sepse, mas já temos metodologias que aceleram os métodos tradicionais, como hemocultura, que quando positivos podem ter a identificação do germe, o que pode encurtar em 24 a 48 horas o resultado”, destacou o diretor do laboratório Richet Medicina e Diagnóstico, o patologista clínico Helio Magarinos Torres Filho, em entrevista ao Portal PEBMED. 

Atualmente, além da utilização do MALDI-TOF, que pode identificar gênero e espécie diretamente da garrafa positiva, também existem métodos moleculares, que fazem a detecção dos principais organismos relacionados à sepse e ainda detectam mutações de multirresistência, o que pode ser de grande utilidade na escolha do tratamento específico.

Vantagens dos testes moleculares 

Os testes moleculares oferecem uma estratégia mais rápida e eficiente, com o potencial de identificar o patógeno e perfil de resistência em poucas horas, permitindo com segurança o ajuste adequado do tratamento, com descolamento para antibiótico de espectro reduzido, medicamentos com menores efeitos colaterais, que consequentemente reduzem o risco de complicações.  

E mais: favorecem o uso racional dos antibióticos e minimizam a seleção de bactérias multirresistentes 

“Devido à urgência médica da sepse, o manejo clínico inicial é terapia empírica, com o uso de antibiótico de amplo espectro, uma vez que a hemocultura pode levar mais de 72 horas para a identificação do microrganismo e o perfil de resistência aos antimicrobianos. A taxa de mortalidade da sepse pode exceder 40% e estudos mostram que o uso de terapia antimicrobiana empírica inadequada pode aumentar para até 70% essa taxa”, ressaltou a especialista de produtos em microbiologia na Mobius Life Science, Natália Carvalho, em entrevista ao Portal PEBMED.

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Como funcionam 

Os testes moleculares foram desenvolvidos para detectar o patógeno causador da sepse através da análise de DNA e RNA dos pacientes, realizando tanto a identificação como a avaliação de marcadores genéticos responsáveis por mecanismos de resistência aos antimicrobianos. 

“A vantagem de análise de DNA se dá por ser um método rápido e mais sensível, permitindo a detecção a partir de baixas concentrações de agentes infecciosos, dando a capacidade de diagnosticar as infecções mais precocemente, independente da viabilidade desses agentes enquanto para os métodos convencionais, como a microbiologia, sua eficiência está altamente dependente destes fatores”, esclareceu a especialista da Mobius Life Science. 

Esses testes são capazes de em único ensaio detectar simultaneamente a presença de diversos alvos com elevada sensibilidade e especificidade em poucas horas, a partir de diversos tipos de amostras clínicas. Dessa forma, é possível identificar com exatidão o microrganismo causador de qualquer quadro infeccioso, além de sugerir a melhor antibioticoterapia através da análise de genes relacionados ao perfil de resistência aos antimicrobianos. 

Outra vantagem é que o teste também pode ser realizado a partir de hemocultura positiva e swab de vigilância, assim como foi validado para as amostras clínicas, lavado broncoalveolar e líquor, para o rápido diagnóstico de infecções graves pulmonares e do sistema nervoso central, prevenindo a evolução para casos graves, como a sepse. 

No entanto, existem limitações para a sua utilização, que estão relacionadas principalmente com a variável humana, pois por serem testes extremamente sensíveis é necessário dispor de funcionários capacitados que possuam conhecimento sobre biologia molecular e respeitem o fluxo de trabalho para evitar contaminação laboratorial. 

Na visão de Natália Carvalho, outro ponto importante é a logística na realização dos testes e o acesso aos resultados, uma vez que se trata de uma ferramenta que permite uma rápida resposta é necessário que as amostras sejam prontamente encaminhadas para o laboratório e que o médico tenha rápido e fácil acesso aos resultados. 

“Nada adianta ter um teste altamente eficiente, se ele não estiver dentro de sua aplicabilidade, principalmente em casos de doenças graves que exigem uma rápida tomada de decisão e consequente impacto na vida do paciente”, concluiu a especialista em microbiologia.  

*Esse texto foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED. 

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