Como diagnosticar e tratar casos de disfunção neurogênica do trato urinário inferior?

Estima-se que 1 em cada 1.000 recém-nascidos sofra de disrafismo espinhal e provável disfunção neurogênica do trato urinário inferior.

Cerca de 400 milhões de pessoas sofrem de disfunções vesicais decorrentes de doenças neurológicas em todo o mundo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), estima-se que 1 em cada 1.000 recém-nascidos sofra de disrafismo espinhal com provável disfunção neurogênica do trato urinário inferior (DNTUI), também conhecida como bexiga neurogênica.

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Disfunção neurogênica do trato urinário inferior

Incidência no país

No Brasil, não existem dados consistentes sobre a prevalência desta disfunção, porém nos pacientes com lesões medulares a incidência é de 71 casos por 1 milhão de habitantes, esse número é quase o dobro do Japão e Estados Unidos.

“O paciente apresenta alterações na função de esvaziamento e de armazenamento da urina por motivos neurológicos. Doenças ou traumatismos de diferentes partes do sistema nervoso como, por exemplo, lesões medulares no caso dos cadeirantes, podem afetar a coordenação dos órgãos do trato urinário e acarretar variadas formas de distúrbios da micção”, explica o urologista Danilo Galante, pós-graduado em Cirurgia Robótica pelo Hospital Oswaldo Cruz, com doutorado de Urologia pela Universidade de São Paulo (USP), além de fellow observer of Johns Hopkins School of Medicine Brady Urological.

No caso específico dos cadeirantes, o especialista lembra que as alterações da bexiga podem mudar ao longo da vida.

“Aquele que tem uma bexiga hiperativa pode vir a ter uma flácida. Desta forma, a avaliação do urologista deve ser constante e rotineira. Todo cadeirante deve ser examinado por um especialista para a definição do melhor tratamento médico a partir do tipo de alteração, que inclui uso de medicamentos, fisioterapia, uso de sonda vesical ou mesmo a realização de cirurgia”, diz Galante.

Segundo o médico, os urologistas devem identificar se o paciente está conseguindo esvaziar completamente a bexiga, explicar que muitas vezes isso não vai acontecer e apresentar as opções de tratamento.

O urologista ainda tem que avaliar se esse paciente não tem contrações não inibidas, o que aumenta muito a pressão dentro da bexiga. “E essa pressão pode ser transferida para os rins e começar a afetar a função renal. O principal sintoma é quando o paciente perde urina”, esclarece o médico.

Tipos de bexigas neurogênicas

Flácida: ocorre quando a bexiga é dilatada, com grande capacidade para reter urina e péssima função de contração e esvaziamento pleno. O paciente acaba não tendo contração eficiente da musculatura e represa a urina, desenvolvendo infecção urinária de repetição e/ou formação de cálculo dentro da bexiga. A única alternativa nestes casos é o cateterismo intermitente;

Espástica: o paciente apresenta contrações não inibidas (de hiperatividade do detrusor ou bexiga hiperativa). Essas contrações levam a dor abdominal, urgência e eventual perda de urina de forma espontânea. Além disso, a pressão no interior da bexiga se eleva, podendo ser repassada para os rins, o que pode comprometer a função renal. Quando a capacidade da bexiga é diminutiva e há hiperatividade existe indicação formal de ampliação vesical;

Mista: algumas pessoas têm elementos de ambas, bexiga flácida e espástica.

“O mais importante é identificar se o paciente tem problema no armazenamento, no esvaziamento ou nos dois na primeira consulta Os tratamentos irão variar, não somente com a classificação da bexiga”, frisa Galante.

Estudo urodinâmico

O principal exame a ser realizado nos pacientes é o estudo urodinâmico, que vai avaliar as seguintes pressões:

  • na bexiga durante o enchimento vesical de forma artificial (cistometria de enchimento);
  • na bexiga durante a micção (esvaziamento);
  • na uretra (perfilometria uretral);
  • nos músculos pélvicos (EMG).

Em alguns casos, o exame pode ser complementado pelo estudo vídeo-urodinâmico, com a utilização de raios-x e fluoroscopia.

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Opções de tratamentos

O tratamento depende de cada caso. Pode ser por meio de medicamentos, colocação de botox na bexiga, cateterismo vesical intermitente limpo ou ainda intervenção cirúrgica para a inclusão de uma alça no intestino visando aumentar a capacidade da bexiga. Essa intervenção pode ser aberta ou por vídeo.

Quando o paciente tem indicação de cirurgia, o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) cobrem a intervenção cirúrgica, que varia entre 15 a 20 mil reais.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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