Como estão os atendimentos pediátricos em tempos de Covid-19?

Diante da pandemia da Covid-19, as crianças parecem não ser responsáveis por uma grande proporção de casos e atendimentos pediátricos diminuíram.

Diante da pandemia da doença causada pelo novo coronavírus (Covid-19), as crianças parecem não ser responsáveis por uma grande proporção de casos e aparentam ser relativamente poupadas de formas graves. Esse perfil tem levado a uma rara reorganização dos serviços de saúde pediátrica, globalmente.

As medidas de isolamento social, incluindo o fechamento de escolas, creches e áreas de recreação, têm reduzido os atendimentos de emergência e também as internações de pacientes pediátricos por doenças respiratórias. A bronquiolite aguda (BA), por exemplo, é o principal motivo de internação, tanto em prontos-socorros quanto em enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva Pediátricas (UTIP) nos primeiros dois anos de vida da criança. Em geral, a BQ tem seu pico de incidência entre os 2 a 6 meses de idade do bebê e, na maior parte das vezes, o vírus sincicial respiratório (VSR) é o agente responsável.

Portanto, como as crianças estão em casa, as chances de adoecer devido ao contágio (ou até mesmo de queda em brincadeiras) diminuem. Na Espanha, mas também em toda a Europa e nos Estados Unidos, as emergências hospitalares pediátricas foram reduzidas em 70%.

médica examinando bebê em atendimento pediátrico na Covid-19

Atendimentos pediátricos na pandemia de Covid-19

No Brasil, algo semelhante vem acontecendo. “Em São Paulo, epicentro da crise no país, não se sabia ao certo, de início, como as coisas iriam acontecer, principalmente na pediatria. Não se sabia se haveria uma sazonalidade muito grande, juntando as doenças que normalmente já se tem nessa época do ano, como o VSR e influenza, por exemplo, com o novo coronavírus. Mas na pediatria, está acontecendo exatamente o contrário do que se acontece todo ano e do que está havendo com adultos no momento. Os pronto atendimentos ficaram vazios. Acredito que, na maior parte dos hospitais, o movimento caiu para 10 a 20% do habitual. As UTIP estão vazias. Nos hospitais privados, muitos dos leitos que são abertos como extras, nessa época do ano, não foram ativados ou foram destinados ao atendimento de pacientes adultos”, comentou Dr. José Colleti Junior, pediatra intensivista de São Paulo/SP e coordenador das UTIP dos hospitais Assunção (Rede D’Or/São Luiz) e Alvorada Moema.

Com tão poucas crianças precisando de cuidados hospitalares, muitos pediatras estão auxiliando o atendimento de pacientes adultos. Nos Estados Unidos, por exemplo, os pediatras têm ajudado nos plantões noturnos em UTI ou trabalhando em unidades destinadas a pacientes com Covid-19, que não precisam mais de cuidados intensivos. “Nos hospitais públicos de São Paulo, os pediatras já estão sendo preparados para um possível atendimento de adultos, através do alargamento da faixa etária de atendimento na pediatria para 18 anos”, explicou Dr. Colleti.

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Na cidade do Rio de Janeiro, o Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IEC) se tornou um centro de referência para casos de COVID-19 em todo o Estado do Rio6. “Os pacientes da pediatria foram remanejados para o Hospital Estadual da Criança. O terceiro andar do IEC, onde estão UTI adulto e UTIP, sempre foi compartilhado por ambas as equipes. Diante da pandemia e da indicação de virarmos referência, passamos a ser uma equipe só. Inicialmente, os pacientes foram internados nos outros andares e, por último, ficaram conosco no terceiro andar. Essa fase da expectativa foi pior que o momento de entrar em ação por si. Havia muita ansiedade da equipe sobre os desafios de tratar pacientes adultos. Mas agora que já estamos nessa há duas semanas, entendemos que somos perfeitamente capazes. A maior diferença que observamos diz respeito à sedação e suas estratégias de desmame. O resto das coisas, a gente conduz sem dificuldade. Temos, é claro, o tempo todo, a possibilidade de pedir ajuda aos colegas intensivistas de adulto. Temos recebido muitos elogios pela nossa prática e comprometimento”, comenta a Dra Fernanda Fialho, chefe da UTIP do IEC.

Com o isolamento, as pessoas também podem ter medo de sair de casa e contrair o vírus e podem ter excesso de prudência ao seguir as recomendações. Na Espanha, recente reportagem citou que as famílias também têm mais dificuldade em encontrar a melhor maneira de atender à sua urgência e, com isso, algumas crianças chegaram com quadros mais graves.

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“Em São Paulo, percebemos que as famílias só têm levado pra Emergência quem realmente precisa. Além de termos tido poucos pacientes acometidos pela Covid-19, o atendimento a outros tipos de doenças também está reduzido. Tivemos poucos casos de crianças com Covid-19, em sua maioria leves, com boa evolução e nenhum óbito. Poucas crianças foram intubadas, mas tinham coinfecção por outro vírus. Não sabemos, portanto, se foi pela Covid-19 ou pelo outro vírus”, ressalta o Dr. José Colleti.

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