Como estresse psicológico evoluiu na pandemia de Covid-19?

Desemprego, isolamento e medo são alguns dos potenciais causadores de estresse psicológico na população durante a pandemia da Covid-19.

A pandemia por Covid-19 vem alterando a vida cotidiana das pessoas, em um período mais curto, de maneira que nem mesmo crises econômicas e desastres naturais alteraram. Desemprego, isolamento social e medo são alguns dos exemplos de problemas potenciais causadores de estresse psicológico na população na crise da Covid-19. Muitos estudos já evidenciaram os efeitos adversos na saúde mental por desastres naturais, incluindo pandemias. De mesmo modo, demonstraram que existem preditores da vulnerabilidade a esses efeitos, incluindo o status pregresso de saúde mental.

Ainda há pouca informação detalhada sobre os efeitos no estresse psicológico durante a pandemia por Covid-19, com falta de estudos de abordagens longitudinais que permitam uma comparação com os status individuais de saúde mental pré-pandemia. Existem estudos comparativos nesse sentido, mas utilizando amostras de populações e metodologias diferentes entre os dois períodos.

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Dados longitudinais poderiam permitir uma avaliação prospectiva de possíveis quadros de piora no status de saúde mental de cada indivíduo, quando comparados ao período pré-pandêmico. Essa análise possibilitaria o entendimento de efeitos a longo prazo da pandemia na saúde mental e o direcionamento de intervenções e recursos para os grupos mais vulneráveis.

Estresse psicológico na pandemia de Covid-19

Portrait of young man suffering for depression

Estudo comparativo dos períodos

Seguindo essa linha, um estudo nos EUA utilizou dados longitudinais de uma amostra nacionalmente representativa entre adultos do país para comparar o estresse psicológico vivenciado pelos indivíduos durante a pandemia com o maior nível de estresse que eles experimentaram nos 12 meses anteriores ao início da pandemia. Usando a base de dados Rand American Life Panel (ALP), uma amostra de 1.870 americanos maiores de 20 anos teve as informações sobre estresse avaliada em dois momentos: durante o ano de 2019, através de informações de um instrumento aplicado à época; e em maio de 2020, com o mesmo questionário, 8 semanas após a declaração de emergência nacional nos EUA devido à Covid-19.

O estresse psicológico foi avaliado através do escore pelo instrumento Kessler-6, feito para identificar condições psiquiátricas clinicamente significativas. Esses escores foram, então, divididos nas categorias: sem estresse/baixo estresse; estresse moderado; e estresse grave. O pior escore mensal de 2019 de cada indivíduo foi selecionado e comparado com o escore dos últimos 30 dias em maio de 2020. Foi considerado que o indivíduo possuiu aumento de estresse no período caso a categoria do escore tenha aumentado.

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Os resultados da análise não demonstraram aumento de prevalência de estresse grave quando comparados os piores meses de 2019 com maio de 2020. No entanto, percebeu-se que a ocorrência de estresse psicológico durante a pandemia estava ligado fortemente à existência dessa condição no período anterior. Ou seja, pessoas com estresse grave no pior mês em 2019 apresentaram mais chances de ter estresse grave durante a pandemia também, o que colocaria a população com problemas de saúde mental prévios como alto risco nesse cenário. Além disso, um aumento geral de estresse entre os dois períodos foi verificado em 12,8% da amostra.

Os aumentos de estresse foram mais comuns em mulheres (resultado consistente com outros estudos que avaliam estresse após desastres naturais), em menores de 60 anos (possivelmente ligados a ameaça de desemprego e perda de renda) e em pessoas de etnia hispânica. Um aumento de estresse acima do esperado — caso não houvesse pandemia — foi observado em todos os grupos demográficos, o que mostra algo diferente de outros desastres naturais, por potencialmente afetar toda a população dos EUA.

Conclusão

O estudo conclui discutindo sobre como os impactos da Covid-19 na saúde mental foram sem precedentes em termos de alcance nacional. Apesar disso, apresenta também resultados similares a estudos anteriores sobre consequências desse tipo após a ocorrência de outros desastres ou crises. Pessoas com maior vulnerabilidade social e econômica devido ao isolamento social e aquelas com maior risco de desenvolver estresse grave por possuírem problemas prévios de saúde mental devem ser os alvos do direcionamento prioritário de recursos e intervenções clínicas.

Apesar de estudos anteriores demonstrarem o retorno ao estado anterior de estresse após certo período de tempo, o mesmo pode não ocorrer no caso da pandemia por Covid-19, devido às suas devastadoras consequências sociais e econômicas. Portanto, novos estudos devem buscar informações a respeito da prevalência desses impactos na saúde mental a médio e longo prazo, bem como sobre alternativas para abordar esses problemas, de maneira a garantir o adequado cuidado em saúde das pessoas atingidas.

Autor(a):

Referências bibliográficas:

  • Breslau J, Finucane ML, Locker AR, Baird MD, Roth EA, Collins RL, A longitudinal study of psychological distress in the United States before and during the Covid-19 pandemic. Preventive Medicine. 2020;106362. doi: 1016/j.ypmed.2020.106362.

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