Como interpretar um hemograma: o que o clínico deve saber – Parte II

A interpretação do hemograma deve estar fortemente vinculada à entrevista clínica e exame físico para melhor elucidação da suspeita clínica. 

No artigo anterior, falamos da abordagem de interpretação do hemograma com foco na série vermelha. Hoje, discutiremos os pontos de atenção para a série branca. Antes de começar a leitura deste artigo, acesse também: Como interpretar um hemograma: o que o clínico deve saber – Parte I.

hemograma

Como interpretar um hemograma: série branca

Leucocitose (Aumento do Global de Leucócitos): Aqui é importante o médico estar atento para a velocidade de instalação da alteração observada (aguda x crônica/subaguda) assim como à classe celular afetada e a distribuição dos diferentes estágios maturativos. Leucocitoses com desvio escalonado a esquerda (linhagem de neutrófilos): respeitam a distribuição normal no sangue periférico, com células mais maduras correspondendo a maior parte dos componentes observados. São vistos principalmente em condições reacionais como infecções/sepses e em quadros crônicos como na Leucemia Mieloide Crônica.

A contagem de bastonetes > 2% , ou em número absoluto superior ao valor de referência fornecido pelo laboratório, é tida classicamente na literatura como ponto de corte para definição do desvio escalonado. A presença de qualquer série maturativa anterior aos bastonetes é classificatória. Essa alteração também está presente em pacientes esplenectomizados ou com asplenia funcional, como nos pacientes com Anemia Falciforme. Leucocitoses acima de 100.000/mm³de evolução rápida ou associadas a sintomas como cefaleia, sangramentos nasais, confusão mental, dispneia – como regra geral – devem ser encaminhados à emergência e de preferência com atenção especializada em Hematologia.

Leucopenia (diminuição do Global de Leucócitos)

Temos de ter atenção redobrada para este tipo de condição. Tendem a ter mais impacto do que leucocitoses. Podem se dar tanto às custas do setor granulocítico quanto linfocítico e estarem tanto associada a condições benignas como leucopenias familiares (geralmente de evolução crônica e presente em outros membros da família), infecções virais (linfopenia) e hiperesplenismo, quanto a condições malignas como Leucemias Agudas e Mielofibrose em estágio avançado.

Monocitose

Por que devemos ter atenção a essa série? A monocitose (acima dos valores de referência) podem estar associadas a infecções por micobactérias (ex: tuberculose), infecções fúngicas (ex: aspergillus fumigatus), quadros sépticos como também podem ser confundidos com blastos em sangue periférico.

Blastos 

Blastos são as células mais imaturas da linhagem linfoide ou mieloide e que podem estar associadas a quadros de recuperação medular pós-estresse da medula (ex: pós-quimioterapia) ou neoplasias hematológicas como na Leucemia Linfoblástica Aguda ou na Leucemia Mieloide Aguda.

Neutrófilos Hipersegmentados 

São classicamente vistos na anemia por deficiência de B12 ou após uso de medicamentos que interferem na síntese do DNA celular e na replicação das células, como nos casos de análogos de purina ou anticonvulsivantes.

Série Plaquetária 

As alterações plaquetárias podem ser primárias (doenças medulares), reacionais (secundárias), ou associadas a limitações do método laboratorial. As trombocitopenias (contagem anormalmente baixa) podem sugerir desde invasões medulares com no caso das leucemias agudas (geralmente associadas a outras citopenias de sangue periférico e com valores abaixo de 50.000/mm³) até doenças benignas como aplasia medular, sepse, deficiência de vitamina B12, hiperesplenismo e uso de alguns fármacos.

Por sua vez, as causas mais comuns de trombocitose são: anemia ferropriva e quadros infecciosos sistêmicos. Neoplasias medulares mieloproliferativas e mielodisplásicas também estão associadas ao aumento na contagem das plaquetas e apresentam tendência de alta sem grandes flutuações nos valores absolutos entre um exame e outro.

Macroplaquetas 

São alterações sugestivas de produção aumentada da linhagem megacariocítica em resposta a um estressor periférico. São encontradas principalmente em casos de plaquetopenia autoimune (PTI).

Volume Plaquetário Médio (VPM ou MPV) 

  • Assim como o RDW, este mede a diferença de tamanho das plaquetas e geralmente encontra-se aumentado em casos associados a destruição periférica destes componentes.
  • Devido a interação das plaquetas com o anticoagulante EDTA (uma causa importante de falsa plaquetopenia) quando analisados em tempos mais curtos de incubação, muitos laboratórios não disponibilizam esse parâmetro devido a análises falseadas.

Grumos plaquetários 

  • Em geral associados ao EDTA e à presença de imunocomplexos associados a imunoglobulina IgM. Devem ser novamente avaliadas no CITRATO.

Método de Fônio 

Como curiosidade: o método de Fônio consiste na contagem manual de plaquetas como forma de confirmação de uma alteração vista no contador automático e é muito utilizado para confirmação dos achados laboratoriais.

Valores de referência

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • American Society of Hematology Self-Assessment Program; Edited by Adam Cuker, MD, MS; Jessica K. Altman, MD; Aaron T. Gerds, MD; Ted Wun, MD, FACP Seventh Edition, 2019.
  • Williams Manual of Hematology, 9th edition. McGrawHill Education.

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