Como lidar com o crescimento das doenças dispépticas na pandemia

Segundo um levantamento, quase metade dos brasileiros sente algum sintoma de doenças dispépticas, como má digestão, refluxo e azia.

Segundo um levantamento realizado pela Federação Brasileira de Gastroenterologia, em 2018, quase metade dos brasileiros sente algum sintoma de doenças dispépticas, como má digestão, refluxo, azia e tosse seca. Aliás, a azia foi o sintoma mais relatado nas cinco regiões do país, com maior proporção no Nordeste, totalizando 48% dos relatos. 

Os dados podem nos ajudar a montar um perfil dessas doenças a nível nacional, uma vez que com a chegada da pandemia de covid-19, as queixas de problemas digestivos aumentaram e se tornaram recorrentes nos consultórios médicos. 

De acordo com o médico Rodrigo Rodrigues Henriques, do setor de gastroenterologia e endoscopia digestiva do Hospital Badim, do Rio de Janeiro, “esse crescimento de casos com doenças dispépticas, relacionadas à acidez do estômago, têm uma relação muito importante com o estresse, os quadros de ansiedade e as características alimentares do paciente. E consequentemente, uma íntima relação com esses tempos de pandemia, seja por conta das alterações de humor, do estilo de vida, principalmente por conta da piora da alimentação. Ou até mesmo os dois juntos”, destacou o especialista, em entrevista ao Portal PEBMED. 

E a mudança dos hábitos alimentares ajuda a controlar esses problemas, como enfatiza o médico especialista em cirurgia do aparelho digestivo e credenciado da Paraná Clínicas, André Rodrigues Martim Neto. “O controle de peso é fundamental no manejo do refluxo, uma vez que o ganho de peso habitualmente é um fator desencadeante de sintomas como pirose e queimação, principalmente, ao deitar-se e após as refeições. Alimentos ricos em gorduras e proteínas podem precipitar a sensação prolongada de distensão. Fazer as refeições em quantidades adequadas e balanceadas ajuda no controle dos sintomas e, ocasionalmente, permite a retirada da medicação nos casos de refluxo”, ressaltou. 

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doenças dispépticas

Anti-inflamatórios e corticoides 

Outro fator trazido pela pandemia foi o crescimento de prescrições de medicamentos anti-inflamatórios e corticoides, que podem levar a enfermidades mais graves, como gastrite e úlcera. 

Vale ressaltar que a prostaglandina é uma substância produzida pelo organismo em maior quantidade quando a acidez no estômago está muito alta, que inibe as células que produzem o ácido e estimula as células que secretam o muco de proteção do estômago. E os anti-inflamatórios impedem que a prostaglandina seja formada. 

 Se os medicamentos anti-inflamatórios forem tomados durante o tempo certo e na dose adequada é menos provável que causem danos ao estômago, por isso é fundamental escrever com letra legível a prescrição médica, assim como explicar e ter certeza de que o paciente entendeu corretamente o plano terapêutico. 

É importante lembrar que para pacientes mais sensíveis ou que já apresentam problemas gástricos deve-se prescrever em conjunto com o anti-inflamatório outro medicamento para a proteção do estômago. 

E atenção: quando os sintomas de azia e desconforto abdominal se tornam recorrentes, com náuseas e vômitos associados, pode ser sinal de doença mais grave, como gastrite ou úlcera. 

“O tratamento mais eficaz vai depender da causa de cada uma delas, sendo geralmente associado a remédios específicos como antimicrobianos e bloqueadores de produção de ácido”, explicou o médico André Neto. 

Gatilhos 

Os episódios de estresse e ansiedade também são considerados gatilhos para o aparecimento de doenças dispépticas, como gastrite ou refluxo, como explica melhor o especialista.

“Mesmo que os exames do paciente estejam normais, é possível que fatores emocionais desencadeiam queimação, azia, dores abdominais, náuseas e sensação de distensão. Contudo, é preciso uma avaliação clínica detalhada para excluir causas orgânicas, entender os sintomas e analisar a associação da crise a outras doenças funcionais”, esclareceu o médico da Paraná Clínicas. 

Isso acontece porque o estômago é o órgão que mais sente o estresse. E a ansiedade causada pelo estresse libera substâncias como cortisol e adrenalina, que fazem com que o corpo produza ácido do suco gástrico em excesso e acaba reduzindo a camada de proteção presentes no estômago. A alta acidez deixa todo o sistema digestivo irritado, causando dores e náuseas, levando a pessoa a ter uma gastrite nervosa ou úlceras. 

Existem outras doenças dispépticas associadas ao estresse e ansiedade, como o refluxo gastroesofágico e a síndrome do intestino irritável.  Especialistas explicam que o intestino é como se fosse o nosso segundo cérebro, sendo o responsável por produzir a maior parte da serotonina, que nos causa a sensação de bem-estar. E descargas de adrenalina podem mexer com o intestino, causando espasmos e, eventualmente, causando dores de barriga inesperadas. 

Diagnóstico e tratamento 

Já o médico Rodrigo Henriques, do Hospital Badim ressalta que a melhor forma é conversar com o paciente para saber a sua história e o momento atual que está passando para realizar uma anamnese mais detalhada. “Ele mesmo dá as dicas do que está sentindo e vivendo para o médico. Histórico de doença dispéptica, com idas e vindas de endoscopias, algumas delas sem mostrar lesão nenhuma, pode indicar o principal componente desse problema é a ansiedade, ao invés do componente orgânico. E, portanto, devemos individualizar o tratamento para verificar se o componente orgânico é tão importante quanto o emocional”, esclareceu o especialista, que complementou que todos os pacientes que chegam com queixas de desconforto abdominal, queimação no estômago e má digestão merecem tratamento para a redução da acidez, pois mesmo no quadro de ansiedade é possível controlar esses sintomas. 

Da mesma forma, existem pacientes que são mais suscetíveis a desenvolver enfermidades gastroenterológicas, como os portadores de doenças reumáticas, articulares ou com dor crônica devido ao uso de anti-inflamatórios e corticoides com mais frequência. 

“O tabagismo e o consumo de bebidas alcóolicas também aumentam as chances de gastrites, úlceras gastroduodenais e câncer de esôfago e estômago”, pontuou o médico André Neto. 

O acompanhamento desses pacientes é fundamental para identificar mudanças de comportamento, sintomas, indicadores de complicações ou apenas para o controle de medicamentos e ajustes alimentares. 

“Portadores de lesões ulceradas devem ser acompanhados por especialista para avaliar a cicatrização, excluir malignidade e confirmar a erradicação do H. Pylori, quando presente. Pacientes com dispepsia funcional e gastrite devem ser acompanhados de acordo com os sintomas após a exclusão de doenças orgânicas mais graves” concluiu o médico André Neto. 

 *Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED 

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