Como o enfermeiro pode abordar o distúrbio por vício em games?

O distúrbio por vício em games ou Gaming Disorder, como citado no CID 11, é uma novidade no quadro de transtornos mentais.

O distúrbio por vício em games ou Gaming Disorder, como citado no CID 11, é uma novidade no quadro de transtornos mentais. Esta desordem pode ser definida como um padrão de comportamento persistente ou recorrente. A doença inicia-se como uma desordem padrão do comportamento de maneira persistente e recorrente, que possui certa gravidade comprometendo o funcionamento pessoal, familiar, escolar, profissional e até do desenvolvimento de acordo com a idade.

Os avanços tecnológicos das últimas décadas tornaram populares a internet e jogos de vídeo game, que puderam ser utilizados em computadores e celulares. Além do avanço tecnológico, o comportamento das pessoas diante do uso da tecnologia se modificou. Indubitavelmente, o uso da realidade virtual cria uma nova realidade para as pessoas e por esse motivo algumas pessoas desenvolvem transtornos do comportamento no mundo real.

criança jogando e sofrendo distúrbio por vício em games

Jogos e uso do computador

O vídeo game e os jogos para computador e celular passaram a ser uma das maiores atividades de lazer para crianças e adolescentes. Já em relação ao uso da internet, não é possível mais especificar que seguem maior utilização por uma faixa etária definida e diversas classes sociais. O uso de jogos não é apenas maléfico, já que pode estar relacionado a melhorar o aprendizado e quanto ao desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras. Pode ainda contribuir com a melhora de orientação espacial e facilita a socialização se corretamente utilizada.

Os indivíduos que possuem um intenso envolvimento com jogos de videogame não apresentam prejuízo significativo em qualquer das áreas do desenvolvimento cognitivo, entretanto o uso excessivo ou compulsivo pode ser um problema. Compreendido como alto envolvimento ou dependência de jogos eletrônicos, são os nomes mais comuns encontrados na literatura. Existem alguns instrumentos que buscam diagnosticar tal transtorno. Algumas evidências podem nos ajudar criando um sinal de alerta.

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Características do uso excessivo de jogos eletrônicos:

  • Saliência: quando o jogo se torna a atividade mais importante do dia da pessoa, dominando os pensamentos e comportamentos;
  • Modificação de humor e euforia: o humor positivo e a euforia só acontecem quando ligados aos jogos relacionados;
  • Tolerância: necessidade de jogar períodos cada vez maiores para atingir a mesma condição de humor;
  • Abstinência: Estados emocionais e físicos desconfortáveis quando acontece a cessação dos jogos;
  • Conflitos: conflitos entre jogadores, com membros da família, na escola ou trabalho;
  • Recaída: tendência de retomar o comportamento obsessivo por jogos em período posterior a abstinência ou controle.

É importante compreender a relação do abuso e do vício. O abuso é uma forma mais branda do vício. A consequência mesmo do abuso pode gerar problemas na vida da pessoa. Uma criança que fica muito tempo utilizando jogos de videogame, poderia esta utilizando o tempo para outras atividades importantíssima. Geralmente, o abuso a jogos levam a problemas nos relacionamentos conjugais e desenvolvimento no trabalho quando o abuso acontece na vida adulta.

Como identificar o abuso e vício

Principais sintomas que devem ser observados:

  • Mudança nos padrões do sono: a mudança nos padrões de sono é um dos primeiros sinais de alerta. A pessoa se comporta em estado de vigília, com o objetivo de jogar;
  • Necessidade de privacidade: a requisição de privacidade ou sigilo no uso do computador. A modificação física do computador, celular ou vídeo game pode ser um sinal. Se incomodado no momento do jogo, reage de forma agressiva.
  • Evidencias de mentir: é comum crianças mentirem sobre o uso e abuso dos games, principalmente em relação ao motivo do uso do jogo.
  • Alterações no comportamento: ao serem questionados quanto a mudanças em relação ao uso de Games a pessoa reage em negação. Há transferência de culpa pela necessidade de jogar.
  • Diminuição do contato familiar: possuem uma menor participação no relacionamento familiar. O contato familiar diminui, evitando reuniões familiares
  • Físicas: os jogadores geralmente queixam-se de fadiga ocular, cefaleia, dores no corpo, rigidez muscular. A associação com a Depressão é alta.

A diversão das pessoas que se envolvem no abuso de games possuem sua realidade alterada. Há fuga de realidade e a pessoa parece viver em uma realidade paralela apenas ficando feliz quando conectado ao jogos. Há uma preocupação grande de especialistas quando a relação de jogos com agressão. Muitos mecanismos imaginários podem ser criados, a participação ativa no jogo violento pode gerar um comportamento violento da pessoa com a sociedade.

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Como tratar

Identificar a dependência e tratar deve ser objetivo da pessoa, família e equipe de saúde. A maior parte dos problemas relacionados a dependência de jogos apresenta uma comorbidade relacionados a questões afetivas e a um quadro de ansiedade. O tratamento da ansiedade relacionada pode ser feita com diversas psicoterapias, sendo elas individual, familiar e com medicamentos adequados. A psicoterapia cognitivo-comportamental possui ótimos resultados.

Na literatura há evidencias de tratamento do transtorno relacionados a games utilizando os mesmos métodos utilizados em tratamento da dependência química. Algumas condições devem ser observadas durante o tratamento e após o tratamento, tais como: maior motivação para não permanecer horas jogando games, maior manejo do tempo, diminuição do isolamento social, diminuição da abstinência.

Compreender problemas familiares, criar empatia com a pessoa e os interesses sociais da pessoa, pode ajudar na construção de um Projeto terapêutico singular para que novas possibilidades possam ser criadas pela pessoa.

Medidas devem ser realizadas em acordo com a pessoa. No caso dos adolescentes e crianças, a psicoterapia infantil deve ser considerada. Novas atividades podem ser construídas entre os membros da família.

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Referências bibliográficas:

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  • Ferreira. M.B.O. Uma Abordagem Cognitivo-Comportamental do Uso Prejudicial de Jogos Eletrônicos. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 11(2), 2018, 306-326
  • Lemos Igor Lins, Santana Suely de Melo. Dependência de jogos eletrônicos: a possibilidade de um novo diagnóstico psiquiátrico. Rev. psiquiatr. clín. [Internet]. 2012; 39( 1 ): 28-33

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