Como os probióticos tópicos podem auxiliar no tratamento dermatológico?

Os trabalhos que relatam o uso tópico de probióticos em doenças dermatológicas, como acne e dermatite atópica, ainda são incipientes.

Estudos têm demonstrado o benefício dos probióticos orais no tratamento de patologias cutâneas, como acne, dermatite atópica e psoríase. Os trabalhos que relatam o seu uso tópico nessas doenças, no entanto, ainda são incipientes.

Estudos têm demonstrado o benefício dos probióticos orais no tratamento de patologias cutâneas, como acne, dermatite atópica e psoríase.

O que são probióticos?

Os probióticos são descritos pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e Organização Mundial da Saúde como “microrganismos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro”. 

Como atuam os probióticos na regulação da inflamação sistêmica e nas doenças de pele?

Dentre os benefícios estudados, pesquisas mostram que o microbioma intestinal apresenta papel importante na regulação da inflamação sistêmica e nas doenças de pele, por meio da imunomodulação. Essa correlação ocorre devido ao eixo intestino-pele, em que alguns tipos de bactérias e metabólitos intestinais alteram o microbioma cutâneo e, consequentemente, a produção de citocinas e a proliferação, migração e adesão de células inflamatórias na pele.  (Figura 1)

Figura 1.  Relação entre microbioma intestinal,  cutâneo e o sistema imunológico.

Investigações adicionais são necessárias para a completa elucidação dessas vias envolvidas na comunicação entre o microbioma intestinal e cutâneo e o sistema imunológico.

Probióticos e acne

A acne é uma doença dermatológica com prevalência de cerca de 85%. Pode ser causada por diversos fatores, como: alteração da queratinização folicular, excesso de produção de sebo, colonização folicular por Propionibacterium acnes e mecanismos inflamatórios. Propionibacterium acnes está presente na microbiota da pele e o aumento de sua proliferação está relacionado ao desenvolvimento da acne. 

Leia também: Como o uso de probióticos pode auxiliar na prevenção de vaginose bacteriana recorrente?

Di Marzio et al. demonstraram que Streptococcus thermophilus, bactérias ácido-láticas, aumentaram a produção de ceramidas (lipídios presentes no estrato córneo) quando aplicadas topicamente por 7 dias. Posteriormente, Bowe et al. Destacaram que um tipo específico de ceramida — fitoesfingosina — promovia atividade anti-inflamatória e antimicrobiana contra Propionibacterium acnes, sendo então um tratamento promissor para a acne. Outros estudos reportaram que os probióticos tópicos podem atuar como inibidor competitivo pelos sítios de ligação na pele, prevenindo a colonização por outros micro-organismos e funcionando como barreira de proteção. 

Probióticos e dermatite atópica

Dermatite atópica (DA) é uma condição crônica inflamatória da pele prevalente na faixa etária pediátrica. A DA apresenta causas multifatoriais e seus mecanismos ainda não estão completamente elucidados, sendo o Staphylococcus aureus o principal agente etiológico implicado. Entretanto, sabe-se que um dos contribuintes para o desenvolvimento e o curso natural desse quadro é o microbioma intestinal, que, por meio da regulação do sistema imunológico, altera a homeostase cutânea. Essa correlação é de suma importância, uma vez que um dos alvos terapêuticos da DA é a correção da disbiose intestinal. 

A alteração na composição e proporção do microbioma intestinal parece estar associada ao grau dos sintomas da DA, via eixo intestino-pele, por meio de neurotransmissores e neuromoduladores. Estudos mostram que a administração de probióticos via oral altera a resposta imune do hospedeiro e a integridade da pele, por interagir com a mucosa gastrointestinal e o tecido linfoide associado ao intestino (GALT), apresentando potencial terapêutico para a DA.

Probióticos e psoríase

A psoríase é uma doença inflamatória, imunomediada e crônica. Caracteriza-se pela presença de lesões cutâneas avermelhadas, espessas, delimitadas e com áreas de descamação.  Os fatores de risco associados são: estresse, história familiar de psoríase, tabagismo, etilismo e obesidade. 

Estudos recentes demonstram um importante papel da microbiota nessa condição, associada à via de ativação dos linfócitos Th17. Foram observadas diferenças significativas entre a microbiota da pele saudável e da pele afetada pelas lesões psoriáticas, com tendência de diminuição da diversidade bacteriana. A redução de bactérias como Staphylococcus epidermidis, Actinobacteria e P. acnes no microbioma da pele psoriática pode levar a maior colonização por Staphylococcus aureus, provocando inflamação cutânea. 

Saiba mais: Dermatite atópica pediátrica: gravidade e associação com dificuldades de aprendizado

Apesar da limitação dos dados, evidências demonstraram que a suplementação oral de probióticos pode apresentar resultados promissores no tratamento da psoríase, através dos efeitos imunorreguladores, com redução da inflamação cutânea. O papel dos probióticos tópicos, entretanto, permanece desconhecido. 

Conclusão

O microbioma intestinal pode contribuir no desenvolvimento, persistência e gravidade das doenças dermatológicas. Assim, o uso oral de probióticos parece ser benéfico na melhora desses quadros. Investigações adicionais são necessárias para a completa identificação desses benefícios e dos agentes potenciais para cada uma dessas doenças e definição do esquema terapêutico.

Em conjunto com: Jordana Almeida Mesquita¹, Isabella Barreto de Souza Machado²

¹ Acadêmica de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais. Diretora de Pesquisa da Sociedade Brasileira de Ligas Acadêmicas do Aparelho Digestivo (SOBLAD). Lattes: 4134333640641468

² Acadêmica de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais. Corpo de Apoio Científico da Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais. (SAMMG). Lattes: 5732802318428135

Referências bibliográficas:

  • França, K. Topical Probiotics in Dermatological Therapy and Skincare: A Concise Review. Dermatol Ther (Heidelb) 11, 71–77 (2021). doi: 10.1007/s13555-020-00476-7
  • Salem I, Ramser A, Isham N, Ghannoum MA. The Gut Microbiome as a Major Regulator of the Gut-Skin Axis. Front Microbiol. 2018 Jul 10;9:1459. doi: 10.3389/fmicb.2018.01459
  • Lee SY, Lee E, Park YM, Hong SJ. Microbiome in the Gut-Skin Axis in Atopic Dermatitis. Allergy Asthma Immunol Res. 2018 Jul;10(4):354-362. doi: 10.4168/aair.2018.10.4.354
  • Di Marzio L, Cinque B, De Simone C, Cifone MG. Effect of the lactic acid bacterium Streptococcus thermophilus on ceramide levels in human keratinocytes in vitro and stratum corneum in vivo. J Investig Dermatol. 1999;113:98–106. doi: 10.1046/j.1523-1747.1999.00633.x.
  • Yu, Y., Dunaway, S., Champer, J., Kim, J., & Alikhan, A. (2019). Changing our microbiome: Probiotics in dermatology. British Journal of Dermatology. doi: 10.1111/bjd.18088 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.