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Estudos têm demonstrado o benefício dos probióticos orais no tratamento de patologias cutâneas, como acne, dermatite atópica e psoríase. Os trabalhos que relatam o seu uso tópico nessas doenças, no entanto, ainda são incipientes.
Os probióticos são descritos pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e Organização Mundial da Saúde como “microrganismos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro”.
Dentre os benefícios estudados, pesquisas mostram que o microbioma intestinal apresenta papel importante na regulação da inflamação sistêmica e nas doenças de pele, por meio da imunomodulação. Essa correlação ocorre devido ao eixo intestino-pele, em que alguns tipos de bactérias e metabólitos intestinais alteram o microbioma cutâneo e, consequentemente, a produção de citocinas e a proliferação, migração e adesão de células inflamatórias na pele. (Figura 1)
Investigações adicionais são necessárias para a completa elucidação dessas vias envolvidas na comunicação entre o microbioma intestinal e cutâneo e o sistema imunológico.
A acne é uma doença dermatológica com prevalência de cerca de 85%. Pode ser causada por diversos fatores, como: alteração da queratinização folicular, excesso de produção de sebo, colonização folicular por Propionibacterium acnes e mecanismos inflamatórios. Propionibacterium acnes está presente na microbiota da pele e o aumento de sua proliferação está relacionado ao desenvolvimento da acne.
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Di Marzio et al. demonstraram que Streptococcus thermophilus, bactérias ácido-láticas, aumentaram a produção de ceramidas (lipídios presentes no estrato córneo) quando aplicadas topicamente por 7 dias. Posteriormente, Bowe et al. Destacaram que um tipo específico de ceramida — fitoesfingosina — promovia atividade anti-inflamatória e antimicrobiana contra Propionibacterium acnes, sendo então um tratamento promissor para a acne. Outros estudos reportaram que os probióticos tópicos podem atuar como inibidor competitivo pelos sítios de ligação na pele, prevenindo a colonização por outros micro-organismos e funcionando como barreira de proteção.
Dermatite atópica (DA) é uma condição crônica inflamatória da pele prevalente na faixa etária pediátrica. A DA apresenta causas multifatoriais e seus mecanismos ainda não estão completamente elucidados, sendo o Staphylococcus aureus o principal agente etiológico implicado. Entretanto, sabe-se que um dos contribuintes para o desenvolvimento e o curso natural desse quadro é o microbioma intestinal, que, por meio da regulação do sistema imunológico, altera a homeostase cutânea. Essa correlação é de suma importância, uma vez que um dos alvos terapêuticos da DA é a correção da disbiose intestinal.
A alteração na composição e proporção do microbioma intestinal parece estar associada ao grau dos sintomas da DA, via eixo intestino-pele, por meio de neurotransmissores e neuromoduladores. Estudos mostram que a administração de probióticos via oral altera a resposta imune do hospedeiro e a integridade da pele, por interagir com a mucosa gastrointestinal e o tecido linfoide associado ao intestino (GALT), apresentando potencial terapêutico para a DA.
A psoríase é uma doença inflamatória, imunomediada e crônica. Caracteriza-se pela presença de lesões cutâneas avermelhadas, espessas, delimitadas e com áreas de descamação. Os fatores de risco associados são: estresse, história familiar de psoríase, tabagismo, etilismo e obesidade.
Estudos recentes demonstram um importante papel da microbiota nessa condição, associada à via de ativação dos linfócitos Th17. Foram observadas diferenças significativas entre a microbiota da pele saudável e da pele afetada pelas lesões psoriáticas, com tendência de diminuição da diversidade bacteriana. A redução de bactérias como Staphylococcus epidermidis, Actinobacteria e P. acnes no microbioma da pele psoriática pode levar a maior colonização por Staphylococcus aureus, provocando inflamação cutânea.
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Apesar da limitação dos dados, evidências demonstraram que a suplementação oral de probióticos pode apresentar resultados promissores no tratamento da psoríase, através dos efeitos imunorreguladores, com redução da inflamação cutânea. O papel dos probióticos tópicos, entretanto, permanece desconhecido.
O microbioma intestinal pode contribuir no desenvolvimento, persistência e gravidade das doenças dermatológicas. Assim, o uso oral de probióticos parece ser benéfico na melhora desses quadros. Investigações adicionais são necessárias para a completa identificação desses benefícios e dos agentes potenciais para cada uma dessas doenças e definição do esquema terapêutico.
Em conjunto com: Jordana Almeida Mesquita¹, Isabella Barreto de Souza Machado²
¹ Acadêmica de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais. Diretora de Pesquisa da Sociedade Brasileira de Ligas Acadêmicas do Aparelho Digestivo (SOBLAD). Lattes: 4134333640641468
² Acadêmica de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais. Corpo de Apoio Científico da Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais. (SAMMG). Lattes: 5732802318428135
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