Como realizar a abordagem adequada em intoxicações agudas por agrotóxicos (Parte IV): Medidas de descontaminação

Em casos de intoxicações por agrotóxicos, o médico plantonista deve conhecer os recursos disponíveis para o manejo clínico desses pacientes.

Identificado um quadro de intoxicação aguda por agrotóxicos, o médico plantonista deve conhecer os recursos disponíveis para o manejo clínico desses pacientes, tanto em relação aos recursos gerais para suporte clínico, como as medidas específicas para descontaminação dessas intoxicações.

As medidas de descontaminação devem ser realizadas no menor tempo possível, considerando o intervalo de tempo entre a exposição e o atendimento, tendo em conta a via de exposição e as substâncias envolvidas, a fase da toxicocinética do agente tóxico conforme o tempo de exposição, bem como os benefícios e efeitos adversos de cada técnica.

A seguir apresentam-se os modos de se proceder à descontaminação gástrica e intestinal.

Lavagem gástrica 

Não é recomendável a realização rotineira de lavagem gástrica em pacientes intoxicados por agrotóxicos considerando as evidências disponíveis. Realize a lavagem gástrica em casos de ingestão de dose potencialmente letal de agrotóxicos, desde que não tenham sido diluídos em solventes orgânicos e corrosivos e a exposição tenha ocorrido a menos de 60 minutos antes do procedimento.

Deve-se avaliar se os benefícios superam os possíveis danos, devendo ser priorizado o tratamento por meio de cuidados de suporte vital.

As seguintes contraindicações para a realização da lavagem gástrica são descritas na literatura:

  • Falta de treinamento para a realização do procedimento;
  • Perda do reflexo de proteção da via aérea por comprometimento neurológico ou presença de crises convulsivas (contraindicação relativa; pode-se realizar a lavagem gástrica, desde que haja prévia intubação);
  • A intoxicação por agentes tóxicos que aumentam o risco e a gravidade de aspiração brônquica (hidrocarbonetos, por exemplo) ou a gravidade da intoxicação;
  • Pacientes com risco elevado de perfuração gastrintestinal ou hemorragia devido a patologias, cirurgia recente ou outra condição clínica;
  • Pacientes com anormalidades craniofaciais, traumatismo craniano concomitante ou uma série de outras lesões corporais consideradas limitantes para a realização do procedimento;
  • Casos em que o paciente se recuse a cooperar ou resistir devem ser considerados como contraindicação relativa, uma vez que se aumenta a chance de complicações;
  • Nos casos de ingestão de produtos cáusticos, como o paraquat, pelo risco de perfuração esofágica e gástrica.

Indução do vômito 

O vômito não deve ser induzido como medida de descontaminação. Entretanto, também não é indicada a sua inibição, caso ele ocorra de forma espontânea em pacientes intoxicados.

Irrigação intestinal total 

A irrigação intestinal total não deve ser realizada no paciente intoxicado por agrotóxicos. Não há estudos clínicos nos quais tratamento com irrigação intestinal total foi utilizado como medida de descontaminação em casos de intoxicação por agrotóxicos.

Contato com equipe especializada 

No Brasil temos os Centros de informação e assistência toxicológica, serviços regionais gratuitos, com assistência remota (via telefônica) por equipe especializada em Toxicologia que orienta diagnóstico e conduta em casos suspeitos e confirmados de intoxicações. Este serviço é extremamente útil e pode fazer toda a diferença em casos com manifestações clínicas atípicas, de difícil identificação ou em caso de dúvidas em relação ao manejo.

No site da Associação Brasileira de Centros de informação e assistência toxicológica (Abracit), há uma lista com todos os telefones para contato dos centros de intoxicações regionais. O número gratuito do disque-intoxicação é 0800 722 6001.

Ficou interessado pelo manejo de intoxicações agudas? O Portal PEBMED preparou uma série de artigos relacionados ao assunto e a parte V fala sobre as medidas de eliminação em pacientes com intoxicação aguda por agrotóxicos. Confira as partes anteriores:

Referências bibliográficas:

  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública. Diretrizes brasileiras para o diagnóstico e Tratamento de intoxicação por agrotóxicos [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública – Brasília: Ministério da Saúde, 2020.
  • Mycyk MB. Intoxicação e overdose por fármacos ou drogas. In Jameson JL, Kasper DL, Longo DL, Fauci AS, Hauser SL, Loscalzo J. Medicina interna de Harrison. 20 ed – Porto Alegre: AMCH, 2020.
  • Costa JVG, Rodrigues CG, Amoroso D, Marino LO. Manejo inicial das intoxicações exógenas. In: Velasco IT, Brandão Neto RA, de Souza HP, ed. Medicina de emergência: abordagem prática. 13 ed. Barueri-SP: Manole, 2019.

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