O trauma craniano abusivo/violento é uma forma específica de maus-tratos contra bebês e crianças, que gera consequências graves para o desenvolvimento de suas vítimas, bem como para toda a sociedade, sendo a principal causa de morte por abuso físico. A falta de diagnóstico de traumatismo crânioencefálico, particularmente em sua forma leve, é comum e contribui para o aumento da morbidade e mortalidade.
Os biomarcadores séricos podem ser utilizados como ferramentas quantitativas de rastreamento para identificar as crianças em que a neuroimagem deve ser considerada e para alertar os médicos sobre a possibilidade de hemorragia intracraniana.
Neste contexto, a seguinte pergunta foi formulada: é possível desenvolver um painel de biomarcadores séricos que possam ser usados para identificar bebês que estão em maior risco de ter uma hemorragia intracraniana aguda e/ou traumatismo crânioencefálico?
Para responder esse questionamento, o estudo conduzido por Berger e colaboradores (2017) utilizou uma coorte retrospectiva de 99 pacientes, seguida por uma coorte prospectiva de 599 pacientes para derivar e validar os Biomarkers of Infant Brain Injury Score.
A regressão logística binária foi utilizada para desenvolver um modelo multivariável incorporando três biomarcadores séricos (matrix metallopeptidase 9, enolase específica do neurônio e molécula de adesão celular vascular-1) e uma variável clínica (hemoglobina total).
O modelo, Biomarkers for Infant Brain Injury Score, foi aplicado prospectivamente em 599 pacientes. A média de idade foi de 4,7 (desvio padrão: 3,1) meses. Cinquenta e dois por cento eram meninos, 78% eram brancos e 8% eram hispânicos.
O modelo apresentou sensibilidade de 89,3% (intervalo de confiança [IC] 95%: 87,7 a 90,4) e especificidade de 48,0% (IC 95%: 47,3 a 48,9) para hemorragia intracraniana aguda. Os valores preditivos positivo e negativo foram de 21,3% e 95,6%, respectivamente. O modelo não foi sensível nem específico para anomalias cerebrais não-traumáticas, fraturas isoladas do crânio ou hemorragia intracraniana crônica.
O estudo concluiu que os Biomarkers of Infant Brain Injury Score podem ser úteis na prática clínica para identificar crianças que devem ser submetidas à neuroimagem para avaliar trauma crânioencefálico.
Veja também: ‘TCE na Emergência Pediátrica: o que fazer?’
Referências:
- Berger RP, Pak BJ, Kolesnikova MD, Fromkin J, Saladino R, Herman BE, et al. Drivation and Validation of a Serum Biomarker Panel to Identify Infants With Acute Intracranial Hemorrhage. JAMA Pediatr. 2017 Apr 10:e170429. doi: 10.1001/jamapediatrics.2017.0429. [Epub ahead of print]