O Congresso Brasileiro de Pediatria, que está ocorrendo em Natal entre os dias 3 e 7 de maio, é o primeiro grande congresso presencial que acontece na área de pediatria após dois anos de pandemia. O dia 3 de maio foi reservado apenas para cursos pré-congresso, e no dia 4 de maio passaram a acontecer as palestras, miniconferências e mesas redondas características de todo congresso. A PEBMED e o Whitebook estão acompanhando o congresso presencialmente, e vamos te contar as principais novidades do congresso!
Coberturas de vacinas e recusa vacinal
A dra. Helena Sato, de São Paulo, ministrou palestra a respeito da cobertura de vacinas e recusa vacinal na população pediátrica brasileira. Segundo ela, registram-se queda dos níveis de vacinação desde 2016, sem alcance das metas de cobertura vacinal, com piora da incidência de doenças imunopreviníveis no pós-pandemia de covid-19. Desde 2015, vem aumentando o número de estados brasileiros que não conseguem cumprir as metas de cobertura vacinal. No momento, nenhum estado brasileiro cumpre essas metas.
A dra. Helena também lembrou que, após anos sem ocorrência da doença, ocorreu um caso confirmado de poliomielite em Israel, agora em 2022, e que esse acontecimento deve deixar todos os países em alerta. Segundo ela, a hesitação vacinal, que consiste no atraso em aceitar ou recusa da vacina, independentemente da sua disponibilidade ou acesso aos serviços, vem acontecendo por diversos motivos, como a percepção enganosa de parte da população de que as doenças imunopreviníveis desapareceram, desconhecimento de quais vacinas fazem parte do calendário de vacinação, medo da reação pós vacina, receio que o número elevado de vacinas sobrecarregue o sistema imunológico, falta de tempo dos pais para levar ao posto de vacinação, fake news, desabastecimento e pela própria pandemia.
Por fim, ela enfatizou o grande papel do pediatra na melhoria dos níveis de vacinação, tendo ele um papel ativo e importante para avaliar se o calendário vacinal da criança está atualizado e reforçar a relevância da vacinação para a saúde da população.
Mesa-redonda de questões cardiológicas no consultório pediátrico
A mesa-redonda de questões cardiológicas no consultório pediátrico contou com a participação de três cardiopediatras, que abordaram assuntos relevantes na área.
Avaliação pré-atividade física em atletas
A dra. Patrícia Guedes, da Bahia, falou sobre a avaliação pré-atividade física em atletas, assim denominados qualquer criança e adolescente que realize atividades físicas coordenadas, mesmo que a nível de competições escolares ou universitárias. Lembrou que a morte súbita, apesar de rara, é um evento de grande impacto e que geralmente é decorrente de doenças cardiovasculares não suspeitadas. A triagem dessas doenças visa prevenir essas mortes através da retirada temporária ou permanente dos esportes e/ou direcionamento de tratamento. O alvo é a realização de avaliações destinadas a identificar anormalidades pré-existentes clinicamente relevantes. O esporte não causa a morte, e sim, é o gatilho para esses acontecimentos.
As principais causas de morte súbita em atletas são a miocardiopatia hipertrófica (principal causa), as anomalias congênitas de artérias coronárias, as miocardites, a displasia arritmogênica de VD, as canalopatias e a síndrome de Marfan.
A triagem mais aceita atualmente é a realização de história clínica focada em fatores de risco importantes, incluindo história familiar de morte súbita em parentes de primeiro grau jovens (< 50 anos), e exame físico completo, com foco em alterações no sistema cardiovascular, além da realização de eletrocardiograma. Podem ser usados escores específicos, como o da American Heart Association, para a avaliação do risco de morte súbita na anamnese. A triagem deve ser realizada a cada dois anos, uma vez que algumas doenças podem levar algum tempo para se manifestar.
Por fim, deve-se indicar sempre a suspensão de treinos nos atletas durante infecções, inclusive de vias aéreas superiores, para prevenção de mortes súbitas ocasionadas por miocardites. O exercício físico potencializa a doença viral, piora a cardiopatia e agrava o processo autoimune nas miocardites.
Kawasaki e covid-19
O dr. Marcio Miranda Brito, de Tocantins, palestrou sobre as alterações cardiológicas existentes na covid-19 pediátrica, com ênfase na síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P). Segundo ele, 86% dos pacientes com SIM-P apresentam alterações cardíacas associadas.
O médico abordou a apresentação do quadro clínico da doença, observando as principais diferenças entre a SIM-P e a doença de Kawasaki, como idade (SIM-P em crianças mais velhas, como escolares e adolescentes) e ascendência (SIM-P mais comum em populações de ascendência africana, afro-caribenha e hispânica, enquanto Kawasaki mais comum em ascendentes do leste asiático) e características laboratoriais (SIM-P cursando com plaquetas e contagem de linfócitos mais baixas e provas inflamatórias mais altas).
Lembrou que nos pacientes com SIM-P, o eletrocardiograma e ecocardiograma são fundamentais e devem ser realizados sistematicamente. No ecocardiograma, alguns sinais precoces são a tortuosidade e aumento da hiperrefringência da parede vascular, indicando sinais de arterite, que podem evoluir com dilatações e aneurismas de coronárias. Também enfatizou a importância do strain no ecocardiograma, que pode ser um parâmetro precoce de disfunção subclínica na síndrome, auxiliando tanto na avaliação precoce como no seguimento.
Por fim, a palestra abordou o seguimento e o tratamento de pacientes com SIM-P, tanto sem alterações perceptíveis quanto em pacientes com disfunção cardíaca e dilatação ou aneurismas de coronárias, incluindo as indicações de anticoagulação terapêutica ou profilática nesses pacientes.
Sopro cardíaco
A dra. Gisele Correia, do Rio Grande do Norte, realizou uma excelente palestra sobre a causa mais comum de consulta do cardiopediatra: os sopros cardíacos. Trouxe diversos casos clínicos que enfatizaram a importância da avaliação clínica dos pacientes com sopro, ou mesmo sem sopro, lembrando que algumas cardiopatias graves podem se manifestar sem sopro cardíaco.
Além disso, a médica abordou questões de exame físico que nem sempre são avaliadas, como a necessidade de auscultar a fontanela e o abdome de crianças, além do tórax, pesquisando malformações arteriovenosas e alterações da aorta. Também indicou a importância de avaliação da criança em repouso e durante choro para avaliação de algumas cardiopatias congênitas críticas que podem ser mais aparentes durante atividade física e se manifestando na forma de palidez, cianose, alterações de pulsos periféricos e moteamento cutâneo durante o choro.
Fiquem conosco que traremos as principais novidades do Congresso Brasileiro de Pediatria!