Conheça a nomofobia ou no-mobile: a ansiedade por afastamento do celular

A nomofobia está sendo estudada de forma inicial, mas é sem dúvida uma discussão necessária nos dias atuais e o avanço tecnológico.

A modificação das relações de comunicação tiveram um abrupto incentivo no surgimento dos smartphones. Diversas possibilidades nos geraram facilidades como a diminuição do tempo e da distância para realizar atividades. Podemos observar maior flexibilidade e interação, além de possibilidades quanto a localização, lazer e estudo, trabalho e até se tornou durante a pandemia o canal mais importante de comunicação da sociedade. 

No entanto, o aumento do uso dos dispositivos móveis, sendo mais conhecido de nós, o celular, está na palma da mão, ou seja com fácil acesso, podendo se tornar um grave problema. Esse pequeno dispositivo multifacetado está gerando muitas potencialidades, mas não podemos esquecer de suas vulnerabilidades, até para que uma educação do uso, possa ser melhor compreendida pela sociedade. 

Estamos falando da nomofobia, o medo de ficar sem o celular e/ou a tecnologia, que está sendo estudada de forma inicial, mas é sem dúvida uma discussão necessária, principalmente pela possibilidade de dano que pode causar, quando há mau uso dos dispositivos.  

Conheça a nomofobia ou no-mobile a ansiedade por afastamento do celular

A nomofobia

De acordo com Oliveira et.al. (2017), a nomofobia tem origem na Inglaterra, baseada na expressão no-mobile, que quer dizer “sem celular”. A observação do fenômeno teve início de acordo com queixas observadas sobre o uso abusivo dos celulares, computadores e aparelhos celulares. A utilização do celular não é um problema, mas a utilização obsessiva dos celulares, principais dispositivos mobile, deu vazão ao sentimento de angústia e medo nas pessoas quando estas se afastam do aparelho eletrônico, da internet e/ou computador. 

O caso começa a ficar mais grave na medida que o não uso do celular começa a levar a pessoa a não instrumentação da vida, quando a pessoa está afastada do aparelho em questão. É importante diferenciar a dependência aceitável ou dita “normal” daquela compreendida como patológica. Podemos considerar a dependência “normal” aquela que segundo Mazieiro e Oliveira (2016) é utilizada para relacionamentos, sociais, trabalho e crescimento pessoal, entre outras coisas. As patológicas aquelas que estão acompanhadas de inadequação do uso, causando um histórico de sintomas psíquicos, provocadores de adoecimento. 

Leia também: Níveis mais elevados de obsessão-compulsão e o uso de smartphones

É de suma importância, compreender que a angústia ou o desconforto causados pelo medo de ficar off-line, pode ser um problema. A pandemia veio nos trazer a potencialização desse problema, uma vez que trata das únicas formas de interação humana de muitas pessoas e ainda do lazer, do afeto, de uma forma de viver através da imaginação. A afecção causada pelo medo da impossibilidade de utilização do móbile, é um sério problema, visto que o dispositivo tornou-se parte do corpo da pessoa, ou de suas dimensões sensoriais, afetivas e instrumentais, como é o caso do estudo e trabalho. Não discutimos mais sua importância. Estamos aqui tentando compreender sinais, que como tudo na vida, em desequilíbrio pode gerar o adoecimento. 

É extremamente estranho pensar para pessoas que nasceram e viveram no período anterior a essa ferramenta social, que hoje as pessoas fazem praticamente tudo através do celular. Estudam, trabalham, namoram, fazem sexo, interagem, aprendem, se divertem, ficam tristes. Vivem o mundo no isolamento social, através de um pequeno aparelho. Então não podemos estar aqui, dizendo que é algo ruim para a sociedade. Mas podemos refletir que se esse pequeno dispositivo nos causa tamanha afecção, também pode nos causar o adoecimento. O importante aqui é compreender então como evitar o adoecimento, uma vez que não há possibilidade no mundo contemporâneo de negligenciar que o uso dos dispositivos móbile, tornou-se parte fundamental da sociedade. Conhecer os principais sinais e sintomas da nomofobia pode nos possibilitar ações de reparação do comportamento, ou mesmo de prevenção. 

Maziero e Oliveira revelam que muitas questões ainda não são compreendidas nos diagnósticos sobre o adoecimento relacionado ao uso das tecnologias. Também revela que ainda não compreendemos totalmente seu impacto psicopatológico. Na elaboração desse texto foi constatado o que o autor revela em 2016, adicionando ainda, a pouca literatura sobre o tema para consulta nas bases de dados científicas. 

A ligação com os transtornos de ansiedade

A nomofobia leva a um estado de ansiedade que pode se tornar patológico, levando principalmente a um transtorno de ansiedade social, ao transtorno do pânico e agorafobia. O transtorno de ansiedade social é o mais comum. O medo e a ansiedade são intensos em situações sociais, a nomofobia se liga isso, pois a falta do mobile leva a falta do contato social. Ou seja, podemos ter uma crise que não é manifestada pela exposição, que também é possível, mas pela falta de contato com o meio social. É como se a pessoa perdesse um membro ou o meio, ou a forma por onde a existência se solidifica e se assegura. Inclusive há aqui uma questão importante, que é a consolidação de uma postura de repetição do comportamento de uso, gera a dependência e com esta a ansiedade aumenta, uma vez que , o cérebro pode compreender o prazer através do meio consolidado. 

Outra complicação comum que pode emergir nesse processo, é o transtorno do pânico com agorafobia. Sabemos que o transtorno do pânico se materializa em um estado de pânico inesperado, é um forte surto com desconforto e medo intenso que pode chegar a um ápice que gera diversos sinais e sintomas desconfortáveis e muitas vezes traduzidos como desesperador para a pessoa. Uma crise de pânico  gera um súbito medo ou  um grande desconforto. Importante compreender que esse transtorno revela a necessidade de considerar no mínimo quatro sintomas, dentre 13 sintomas. Sendo eles, classicamente apontados pela literatura:

  • Desconforto torácico;
  • Sensação de obstrução das vias áreas;
  • Vertigem e síncope;
  • Medo de acontecimento imediatos, como a morte;
  • Medo de enlouquecer, ser julgado ou na atualidade cancelado;
  • Sensação de estar em outra realidade, estranhamento ou distanciamento social;
  • Problemas gastrointestinais;
  • Dormência ou formigamento no corpo;
  • Aumento das funções cardíacas, gerando palpitação e aumento da pressão arterial e frequência cardíaca; 
  • Aumento das funções respiratórias, com sensação de asfixia ou falta de ar;
  • Sudorese;
  • Tremores, espasmos ou outras disfunções motoras

A associação desses sintomas com a agorafobia acontece, e pode ser danoso para pessoa, uma vez que gera medo e/ou ansiedade acentuado e intensos, relacionadas a fato de utilizar transporte público, saída de casa sozinho e principalmente permanecer em locais abertos. Claro que neste caso, da nomofobia, temos a ligação direta com a falta do móbile nessas circunstâncias, gerando assim a insidiosa crise. É importante dizer que quando associamos a nomofobia, devemos compreender que o disparador dessas doenças mesmo que transitórias se fazem a partir da percepção da falta do aparelho, na maioria das vezes, referenciadas na literatura na figura do aparelho celular. Que hoje se tornou o principal aparelho mobile.

O que pode ser feito? Bom, para responder essa pergunta é importante compreender a relação de valor que o dispositivo tem na vida da pessoa. Além disso, a questão já se tornou cultural e um comportamento social, principalmente ligado aos mais jovens. Como na pandemia essa demanda pode aumentar para os profissionais de saúde, é importante compreender os sinais e sintomas e identificar a ligação do aparelho móvel nessa relação. A lei 9199/21, que foi instituída pelo estado do Rio de Janeiro, também presente em outros estados, efetivadas ou enquanto projeto de Lei, dispõe sobre a instituição de Campanha sobre os Riscos da Nomofobia na Rede de Saúde Pública e Privada. O Objetivo é reforçar um calendário permanente de campanhas da Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, para tratamento da temática devido sua importância.

Saiba mais: Ansiedade é o transtorno mais comum entre os brasileiros durante a pandemia

Compreendemos a importância da questão, sendo necessária ações de saúde sobre a temática e a inclusão das discussões nas academias e nos consultórios dos profissionais de enfermagem, principalmente na consulta de enfermagem, uma vez que pode desvelar as relações sociais da pessoa, problemas relacionados ao uso da tecnologia e ainda questões de adoecimento psíquico relacionados ao isolamento ou a essa nova forma de existir no mundo. Sendo assim, a divulgação dessa condição se faz por demais importante. Esperamos que mais profissionais possam discutir essa questão e levantar novas possibilidades de tratamento e convivência com o uso dos dispositivos tecnológicos, como os dispositivos móveis.

Referências bibliográficas:

  • Oliveira, T.S. et.al. Cadê meu celular? Uma análise da nomofobia no ambiente organizacional. Rev. adm. empres.,  São Paulo ,  v. 57, n. 6, p. 634-635,  Dec.  2017. http://dx.doi.org/10.1590/s0034-759020170611
  • Maziero, M.B; Oliveira, L.A. Nomofobia: uma revisão bibliográfica. Unoesc & Ciência – ACBS Joaçaba, v. 8, n. 1, p. 73-80, jul./dez. 2016. https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/acbs/article/download/11980/pdf/
  • Rio de Janeiro. Lei 9189/21 -Dispõe sobre a instituição de Campanha sobre os Riscos da Nomofobia na Rede de Saúde Pública e Privada do Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências. Governo do Estado do Rio de Janeiro – 2021.

 

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