Consequências da obesidade na gestação

Quais as principais consequências que a obesidade pode trazer para a gestação? Saiba mais sobre esse contexto clínico de grande relevância.

A obesidade é uma condição crônica cuja incidência e prevalência vem aumentando significativamente em todo o mundo. Além das conhecidas consequências a longo prazo, a gestação é mais uma das situações que merece destaque pelo impacto que o excesso de peso materno pode trazer. Um levantamento do Instituto Nacional de Saúde e Nutrição dos EUA mostrou um aumento da prevalência da obesidade materna, indo de 29,8% em 2001-2002 para aproximadamente 39% entre 2017 e 2018. Apenas 2 em cada 5 mulheres iniciam a gestação com um IMC na faixa da normalidade nos EUA.

A respeito da obesidade na gestação, foi publicado no último mês uma revisão no New England Journal of Medicine (NEJM), uma das mais conceituadas revistas médicas no mundo. Abordaremos as possíveis consequências que a obesidade pode trazer para a gestação, trazendo o que é fundamental saber desse contexto clínico de grande relevância.

Leia também: Manejo da obesidade na gestação

Obesidade versus pré-concepção

A obesidade, por meio de perturbações do eixo hipófise-hipotálamo-ovário, pode levar a irregularidade menstrual, com ciclos anovulatórios e subfertilidade. Também está relacionada a maiores taxas de abortamentos e maior dificuldade em processos de reprodução assistida.

Impacto materno-fetal na gestação

A obesidade leva a uma condição de inflamação crônica e resistência insulínica. Somado a isso, há a influência da resistência adicional gerada por hormônios contra reguladores placentários, como por exemplo o GH placentário e o lactogênio placentário. Tais fatores são parte de mecanismos fisiopatológicos que explicam boa parte das condições associadas à obesidade na gestação.

  • Diabetes Mellitus Gestacional (DMG)

Metanálises evidenciam um risco 3 a 4x maior de DMG em gestantes obesas do que em gestantes com IMC normal. O risco de desenvolvimento de diabetes é de cerca de 70% em aproximadamente 20 anos depois da gestação.

  • Doenças hipertensivas

O risco de Pré Eclâmpsia (PE) dobra a cada 5 kg/m² de aumento no IMC. No entanto, a PE se desenvolve em apenas 10% das gestantes com obesidade.

  • Depressão e ansiedade

Existe associação entre maiores índices de ansiedade e depressão em gestantes com obesidade. É postulado que talvez alterações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, bem como desregulação imunológica explique tais fatos.

  • Consequências neonatais

A obesidade materna também se correlaciona com maior incidência de malformações fetais, sobretudo defeitos do tubo neural e defeitos cardíacos. O excesso de adiposidade pode interferir até mesmo no diagnóstico, uma vez que a ultrassonografia fetal se torna mais limitada devido às dificuldades técnicas. A macrossomia e aumento do tamanho para idade gestacional (acima do percentil 90) também pode ser consequência do excesso de peso materno. Ademais, existe um maior risco de óbito fetal e neonatal, sendo que um aumento de 5 kg/m² no IMC aumenta o risco relativo de natimorto em 1,28 (1,15 – 1,43; IC 95%).

Parto e condições pós-parto

Parto prematuro: a associação é controversa, mas metanálises recentes mostram um aumento de cerca de 17% no risco de parto prematuro em gestantes com obesidade.

Parto e complicações: o risco de distócia de ombro pode ser de 2 a 2,5x maior em gestantes com IMC maior que 35. Ainda, existe maior chance de necessidade de indução do parto e uso de ocitocina. O aumento de tecido adiposo na pelve pode levar a um estreitamento no canal de parto, que em associação a um feto maior, pode explicar porque tais complicações são mais frequentes nesse cenário.
A obesidade em si não é uma indicação de parto cesárea, porém o risco de evolução com parto cesárea é o dobro que em gestantes de IMC normal. Além disso, duas metanálises mostraram maior risco de hemorragia materna pós parto (OR 1,43), risco de infecção de ferida e sítio cirúrgico (OR 3,34) e tromboembolismo, chegando a um risco 4x maior em gestantes com IMC acima de 40 kg/m².

Aleitamento materno: até mesmo no aleitamento a obesidade pode impactar. Puérperas com obesidade têm menor probabilidade de conseguir amamentar seus filhos. Uma metanálise recente mostrou que puérperas com obesidade têm um risco 44% maior de não conseguirem amamentar seus filhos do que mães com IMC normal.
Fatores que podem impactar nesse cenário são um nível elevado de progesterona, maiores índices de depressão e dificuldades na pega pela anatomia mamária, por exemplo.

Mensagem final

A obesidade pode trazer graves consequências à gestação, desde a maior dificuldade na concepção, passando por maiores chances de abortamento e morbidade materno-fetais, culminando em maior risco de óbito fetal.
Portanto, é fundamental a conscientização dos profissionais de saúde sobre a necessidade de seu controle, orientando as mulheres quanto aos desfechos desfavoráveis atrelados ao ciclo gravídico-puerperal e realizando acompanhamento clínico adequado.

 

Este conteúdo foi produzido em co-autoria com Luiz Fernando Fonseca Vieira:
Médico Residente (R4) em Endocrinologia (HCFMUSP) ⦁ Telemedicina no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) ⦁ Residência médica em Clínica médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) – Faculdade de Medicina de Botucatu ⦁ Instagram: @luiz_ffvieira

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Creanga AA, Catalano PM, Bateman BT. Obesity in Pregnancy. N Engl J Med. 2022 Jul 21;387(3):248-259. doi: 10.1056/NEJMra1801040. PMID: 35857661.