Consórcio com pesquisadores de 45 países identifica genes específicos de esquizofrenia

Um estudo identificou um grande número de genes específicos que desempenha papéis importantes no desenvolvimento da esquizofrenia.

O maior estudo genético internacional já realizado até hoje sobre esquizofrenia identificou um grande número de genes específicos que desempenha papéis importantes no desenvolvimento da doença psiquiátrica. Os resultados revelaram que 24% da origem da esquizofrenia pode ser atribuída a um tipo de variante genética chamada SNVs (do inglês Single Nucleotide Variants).

O mega trabalho foi realizado pelo Consórcio de Genômica Psiquiátrica (PGC) e liderado pelos cientistas Michael O’Donovan e James Walters, da Universidade de Cardiff, do país de Gales, com participação dos pesquisadores Sintia Belangero, Ary Gadelha, Rodrigo Bressan, Cristiano Noto, Marcos Santoro e Vanessa Ota, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Quirino Cordeiro, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

O grupo de centenas de pesquisadores de 45 países analisou o DNA de 76.755 voluntários com esquizofrenia e 243.649 sem o distúrbio (grupo de controle) para entender melhor os genes e os processos biológicos que sustentam essa condição.

Principais achados

De acordo com a pesquisadora-líder Sintia Belangero, coautora do artigo publicado na revista Nature, foi encontrado um número muito maior de associações genéticas com a esquizofrenia como nunca antes reportado na literatura científica, com associações presentes em 287 regiões diferentes do DNA.

As associações se concentraram em genes que são expressos em neurônios excitatórios e inibitórios do sistema nervoso central, mas não em outros tecidos ou tipos celulares.

Utilizando um mapeamento fino com dados genômicos funcionais foram identificados 120 genes (106 codificadores de proteínas) que provavelmente sustentam associações em alguns desses cromossomos, incluindo 16 genes com variação de região não sinônima ou não traduzida causal credível.

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Segundo os pesquisadores, esses genes são capazes de contribuir fortemente para o distúrbio. Além disso, os novos dados apontam que o risco genético da esquizofrenia é visto apenas nos neurônios, sugerindo que o papel biológico dessas células é crucial para o desenvolvimento da doença e que esses genes cerebrais específicos podem auxiliar a desenvolver novas terapias.

“Identificamos processos biológicos relevantes para a fisiopatologia da esquizofrenia; que mostram a convergência de associações variantes comuns e raras na esquizofrenia, além de distúrbios do neurodesenvolvimento; que fornecem um recurso de genes e variantes priorizados para avançar nos estudos mecanicistas”, disse o artigo.

O estudo mundial também lançou luz sobre as bases genéticas da esquizofrenia. “Como grande parte dos pacientes não responde bem aos tratamentos atuais, estudos desse nível são fundamentais para que a ciência avance na compreensão do transtorno e contribua no desenvolvimento de novos alvos terapêuticos”, disse outro coautor do artigo, Ary Gadelha.

Variante genética SNVs

Os resultados revelaram que 24% da origem da enfermidade pode ser atribuída a um tipo de variante genética chamada SNVs. “Lembrando que outros fatores genéticos também podem estar envolvidos, como as mutações e os fatores ambientais”, esclareceu a professora Sintia Belangero, em entrevista ao portal da Unifesp.

De acordo com o professor Michael O’Donovan, co-líder da pesquisa, pesquisas anteriores já haviam mostrado associações entre a esquizofrenia e sequências anônimas de DNA, mas raramente foi possível vincular as descobertas a genes específicos.

“Além de aumentar enormemente o número dessas associações genéticas, o estudo conseguiu associar muitas delas aos genes específicos, um passo necessário no que continua sendo uma jornada difícil para entender as causas deste distúrbio e identificar novos tratamentos”, complementou o pesquisador.

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As descobertas ainda sugerem que a função anormal dos neurônios na esquizofrenia afeta muitas áreas cerebrais, o que poderia explicar seus diversos sintomas, incluindo alucinações, delírios e distorções de pensamento.

Maior representatividade nas pesquisas científicas

Um fato que deve ser destacado é que foram incluídos no levantamento mais de 7 mil pessoas com ancestralidade afro-americana e latina, pessoas normalmente não incluídas em estudos mundiais. Para os pesquisadores envolvidos, esse é um pequeno passo para garantir que os avanços que vêm dos estudos genéticos possam beneficiar uma quantidade maior de indivíduos.

Outras iniciativas de inclusão de uma maior representatividade de populações africanas e latino-americanas já estão sendo realizadas, como o projeto Populations Underrepresented in Mental Illnesses Association Studies (PUMAS), que inclui pesquisadores de quatro países na África e três na América Latina, incluindo o Brasil.

No país, o projeto começou recentemente sua coleta de dados, sendo liderado pelos professores Ary Gadelha e Sintia Belangero, que também participam do estudo mundial citado.

Sobre a esquizofrenia

A esquizofrenia é um distúrbio psiquiátrico grave que afeta 24 milhões de pessoas no mundo, sendo 2 milhões de brasileiros. Isso representa que 1 em 300 indivíduos em todo o mundo sofre com a doença, e essa taxa é ainda maior entre os adultos (1 em cada 222 indivíduos).

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