Constipação intestinal em pacientes pediátricos com fibrose cística

Foi constatado que 80% dos pacientes pediátricos com fibrose cística apresentavam dor abdominal e flatulência nos três meses anteriores.

Os pacientes pediátricos portadores de fibrose cística (FC), por um bom tempo, tiveram como foco das manifestações gastrointestinais a diarreia crônica e a desnutrição proteico-energética, decorrentes da má absorção de nutrientes. No entanto, após o uso das enzimas pancreáticas melhorando o quadro disabsortivo e nutricional, outras manifestações gastrointestinais também se tornaram prevalentes e assumiram certa importância nessa população, dentre elas a constipação intestinal.

A constipação, do ponto de vista prático, é definida com a eliminação de fezes endurecidas, que podem ser acompanhadas de dor ou esforço evacuatório, podendo também o paciente apresentar outras manifestações, como o comportamento retentivo ou incontinência fecal.

fibrose cística

Sintomas gastrointestinais são frequentes na fibrose cística

Como evidenciado em uma publicação de Tabori et al. de 2017, composta por uma coorte de 131 pacientes, os sintomas gastrointestinais são comuns em pacientes com FC. Nesse estudo, foi constatado que 80% dos pacientes apresentavam dor abdominal e flatulência nos três meses anteriores. Cerca de 50% relataram dor durante a evacuação e fezes endurecidas. 30% foram identificados com constipação.

Em recente artigo publicado no Jornal de Pediatria, trouxeram dados sobre a prevalência da constipação intestinal em pacientes pediátricos portadores de FC através de uma revisão sistemática. Os artigos incluídos avaliaram pacientes com diagnóstico de FC e relataram a prevalência ou a incidência de constipação nesses pacientes em todas as faixas etárias. Foram identificados 1.118 artigos no período de 22 a 28 de outubro de 2018. Após a seleção, exclusão de artigos duplicados e a instituição dos critérios de elegibilidade, foram avaliados oito estudos. Destes, somente dois tiveram, como objetivo primário, a avaliação da frequência de constipação. Nos demais, a condição foi mencionada em associação a outras manifestações gastrointestinais. Um total de 2018 pacientes foram incluídos. A prevalência variou de 10 a 57%. 

Um ponto de discussão importante, que teve impacto na avaliação da prevalência da constipação intestinal nos pacientes portadores de FC, foi a ausência de um consenso entre os estudos em relação a definição conceitual de constipação intestinal, prejudicando as conclusões ou comparações epidemiológicas. Sendo assim, de acordo com os pesquisadores, o conceito proposto pelos especialistas da European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) junto com a escala de Bristol, seriam ferramentas importantes para uniformidade dessa condição. 

Constipação intestinal é mais frequente em épocas de altas temperaturas

Dentre os resultados apresentados, destaca-se a análise realizada por Ooi et al., que  registraram a frequência da constipação de acordo com a temperatura nas diferentes estações do ano. A constipação foi mais prevalente nos períodos mais quentes (temperaturas > 27,9°C), sustentado pela evidência de que as hospitalizações de pacientes com FC por constipação eram significativamente mais frequentes nas épocas de temperaturas elevadas. Isso indica que a  fisiopatologia da constipação em pacientes com FC está fortemente associada à desidratação, levando  a um espessamento adicional do muco secretado pelas glândulas intestinais.

Outro resultado obtido após um seguimento de 15 anos de pacientes submetidos à cirurgia devido a íleo meconial (IM) no período neonatal revelou uma associação entre constipação e história de IM (p = 0,038). Pacientes com história pregressa de IM exigiam mais frequentemente tratamento para constipação intestinal. 

Diante dos resultados de sua revisão, Stefano e colaboradores concluíram que a avaliação da prevalência de constipação em portadores de fibrose cística ainda merece mais estudos que considerem a definição proposta pela ESPGHAN com o objetivo de  melhorar o manejo da constipação e a qualidade de vida desses pacientes.

Referências bibliográficas: 

  • Stefano MA, Poderoso RE, Mainz JG, Ribeiro JD, Ribeiro AF, Lomazi EA. Prevalence of constipation in cystic fibrosis patients: a systematic review of observational studies. J Pediatr (Rio J). 2020 Nov-Dec;96(6):686-692 
  • Tabori H, Arnold C, Jaudszus A, Mentzel HJ, Renz DM, Reinsch S, et al. Abdominal symptoms in cystic fibrosis and their relation to genotype, history, clinical and laboratory findings. PLOS ONE. 2017;12:e0174463
  • Ooi CY, Jeyaruban C, Lau J, Katz T, Matson A, Bell S, et al. High ambient temperature and risk of intestinal obstruction in cystic fibrosis. J Paediatr Child Health. 2016;52:430-5
  • Mentessidou A, Loukou I, Kampouroglou G, Livani A, Georgopoulos I, Mirilas P. Long-term intestinal obstruction sequelae and growth in children with cystic fibrosis operated for meconium ileus: expectancies and surprises. J Pediatr Surg. 2018;53:1504-8

 

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