Consulta pré-natal com o pediatra: uma abordagem necessária, mas ainda pouco conhecida

A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou o documento “A Consulta Pediátrica Pré-Natal” com diversos pontos importantes sobre o assunto. Saiba mais.

o Dia da Gestante é celebrado no dia 15 de agosto. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a inclusão do pediatra nos atendimentos de pré-natal no terceiro trimestre de gestação consiste em uma excelente oportunidade de se antecipar riscos para o bebê e representa um dos pilares para a diminuição da morbimortalidade neonatal em conjunto com a assistência ao neonato em sala de parto e a avaliação dentro da primeira semana de vida do bebê.

Infelizmente, essa consulta ainda não é a realidade no dia a dia da maior parte dos serviços de Pediatria. Ainda há muito desconhecimento sobre sua existência e importância por parte da população e dos próprios profissionais de saúde, além de não estar incluída em rotinas do Sistema Único de Saúde (SUS) e na tabela de honorários da maioria dos planos. Com o objetivo do fornecer informações e embasamento aos pediatras para a condução desse tipo de atendimento, a SBP divulgou, em 2020, o documento “A Consulta Pediátrica Pré-Natal”, cujos pontos mais relevantes se encontram sintetizados a seguir.

Saiba mais: Repensando a assistência médica durante o pré-natal

pré-natal

Justificativas e importância da consulta

  • O período que se estende desde a concepção até os dois anos de idade (também chamado de “os primeiros 1.000 dias de vida do bebê”) é decisivo para a saúde da criança, não somente nessa fase, mas também no futuro;
  • Esta consulta cria um canal de comunicação entre o obstetra, a família e o pediatra, por meio de discussões importantes como, por exemplo, vias de parto (o que pode diminuir a realização de cesarianas) e amamentação;
  • A família já começa a construir um vínculo com o pediatra, o que favorece a puericultura, dando força a medidas de prevenção e promoção de saúde.  

Agendamento

  • O início do acolhimento ocorre no momento de agendamento. É importante reservar um período de uma hora para a consulta (que pode ser estendido de acordo com as necessidades da família);
  • O ambiente precisa ser confortável para a gestante, que deve ser orientada a comparecer acompanhada de alguém da sua rede de apoio, seja seu companheiro ou outro membro da família;
  • Deve-se utilizar uma linguagem fácil, evitando-se termos técnicos, para que a família possa entender as orientações;
  • Deve-se pedir para que a gestante leve seus documentos da gestação: cartão de pré-natal, cartão de vacinação, resultados dos exames complementares realizados e prescrições de medicamentos em uso.
  • O prontuário deverá ser registrado com o nome da gestante. Depois, deve ser substituído pelo nome da criança na primeira consulta pós-natal.

Enfoques na consulta de pré-natal

  • Intercorrências no pré-natal: explicar sobre o diagnóstico pré-natal de doenças maternas, síndromes genéticas e malformações. A meta é orientar, dar apoio e envolver a família nos cuidados às crianças com necessidades especiais;
  • Prevenção de doenças infecciosas: apurar infecções na gestação e informar sobre o risco de transmissão vertical, orientar sobre a vacinação da gestante, da puérpera, do núcleo familiar e sobre as primeiras vacinas do bebê;
  • Vias de parto: a indicação de parto vaginal ou cesáreo deverá ser conversada em conjunto com o obstetra e com o casal;
  • Assistência pediátrica na sala de parto: conversar sobre o papel do pediatra na sala de parto, uso da vitamina K intramuscular para evitar a doença hemorrágica do recém-nascido (RN) e de colírio para prevenir conjuntivite infecciosa no bebê;
  • Aleitamento materno;
  • Testes de triagem neonatal;
  • Impacto do nascimento da criança para a família;
  • Cuidados gerais com o RN, como limpeza do coto umbilical, banho, fraldas, cólicas, sono seguro e a perda de peso fisiológica nos primeiros dias de vida do neonato, por exemplo;
  • Segurança da criança em casa e no transporte e sinais de alerta para a saúde do bebê, como a presença de vômitos, diarreia, febre, distensão abdominal, letargia e ganho de peso insuficiente;
  • Abertura de espaço livre para a família expor outras demandas.

Indicações

Deve ser feita de rotina em todas as gestantes, no entanto, é imprescindível em algumas situações em que há aumento do risco de complicações para o feto e para o RN:

  • Gestação em adolescentes com menos de 16 anos ou mulheres com idade acima de 35 anos;
  • Gestação gemelar;
  • Risco de prematuridade;
  • História de aborto espontâneo anterior, óbito fetal ou neonatal;
  • Diagnóstico pré-natal de malformações fetais e/ou de síndromes genéticas;
  • Condições maternas de risco para restrição de crescimento intrauterino (RCIU) e para aumento de morbimortalidade do feto e/ou RN, como alcoolismo, tabagismo, uso de drogas injetáveis, uso crônico de medicamentos, acidentes e traumas, exposição à radiação e sorologias maternas positivas para infecções de possível transmissão vertical;
  • Doenças maternas prévias ou intercorrentes, como cardiopatias, hipertensão arterial sistêmica, nefropatias, alterações neurológicas, hematológicas, nutricionais ou metabólicas, infecções sintomáticas ou assintomáticas com soroconversão na gestação;
  • Situações que envolvam riscos para o parto, como descolamento prematuro de placenta e posições anômalas.

Conhecimentos que o pediatra precisa ter para conduzir a consulta pré-natal

  • Cálculo da data provável do parto;
  • Noções de nutrição para a gestante e para a nutriz;
  • Impacto dos primeiros mil dias de vida sobre a saúde da criança e do futuro adulto;
  • Conceitos de epigenética;
  • Dismorfogênese;
  • Fatores de risco para a saúde da criança, como genéticos, ambientais e gestacionais;
  • Desenvolvimento do feto;
  • Fatores associados à RCIU;
  • Riscos de intercorrências no terceiro trimestre de gestação, como pré-eclâmpsia, sangramentos, parto prematuro, RCIU, complicações infecciosas ou secundárias ao uso de medicamentos e drogas (ilícitas ou lícitas) na gravidez e sua repercussão sobre o feto;
  • Conhecimento do screening de pré-natal, interpretação dos testes sorológicos, da triagem para estreptococos B e dos exames de imagem;
  • Correlação da anamnese com os exames do pré-natal e predição de riscos fetais;
  • Eventos do terceiro trimestre de gestação relacionados ao feto e à possibilidade de transmissão vertical de infecções, com possível alteração da indicação da via do parto;
  • Vacinação da gestante;
  • Aleitamento materno;
  • Testes de triagem neonatal.

Roteiro

  • Identificação dos pais;
  • Anamnese, com história epidemiológica, familiar, obstétrica e avaliação de exames complementares;
  • Exame físico: avaliação do peso da gestante (aferir e comparar o peso atual com o anterior à gestação, calculando o índice de massa corpórea);
  • Aferição da pressão arterial;
  • Avaliação de edema periférico;
  • Exame das mamas;
  • Avaliação da USG obstétrica e do ecocardiograma fetal.

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Orientações e relatórios

  • As orientações deverão ser impressas e entregues para a família consultar em casa sempre que precisar;
  • Relatórios para a família entregar ao obstetra e ao neonatologista na maternidade devem ser preparados, descrevendo a ausência/presença de riscos à saúde fetal na gestação atual e as orientações que foram fornecidas à família.

Referências bibliográficas:

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