Consumo de maconha na gestação e o risco de autismo em crianças

O consumo de maconha na gestação tem aumentado. Um estudo recente sugere que crianças cujas mães usaram cannabis têm maior risco de autismo.

O consumo de maconha (Cannabis) na gestação tem aumentado nos últimos anos. Além disso, muitas mulheres que já a utilizam continuam a usá-la durante a gravidez. Entretanto, segundo um estudo publicado no jornal Nature Medicine, as crianças cujas mães usaram maconha durante a gestação estão em maior risco de autismo quando comparadas a crianças cujas mães não a consumiram.

Consumo de maconha na gestação aumenta risco de autismo

Estudo sobre consumo de maconha na gestação

Os pesquisadores Corsi e colaboradores utilizaram bancos de dados administrativos de saúde da província de Ontário, Canadá, contendo informações sobre gestação e nascimento (BORN), para determinar os resultados do neurodesenvolvimento em crianças.

O estudo consistiu em uma análise retrospectiva de dados de todos os nascidos vivos em Ontário, entre 01 abril de 2007 a 31 março de 2012. Um total de 689.071 nascimentos em Ontário foram registrados nesse período. Após exclusões, a coorte final foi baseada em 508.025 nascimentos. Crianças que perderam o seguro saúde ou faleceram antes dos 18 meses (n = 4.960) ou 4 anos (n = 10.204) de idade foram excluídas das análises primárias de transtorno do espectro do autismo (TEA) e análises secundárias de resultados de neurodesenvolvimento, produzindo coortes analíticas de 503.065 e 497.821, respectivamente.

A idade média das mães foi de 30,1 anos [desvio padrão (dp) = 5,6]. A idade gestacional média no parto era 38,9 semanas (dp = 1,7) e 51,4% das crianças eram do sexo masculino. A taxa de uso de maconha relatada na gestação foi de 0,6%. Na coorte de pacientes com 18 meses de idade, 7.125 crianças (1,4%) foram diagnosticadas com TEA ao final do período de acompanhamento (mediana de 7,4 anos entre os participantes).

Leia também: Leite de mães usuárias de maconha pode conter componentes da droga

Resultados

Dentre as crianças expostas à maconha intraútero, 2,2% tiveram diagnóstico de TEA. Além disso, a incidência de diagnóstico de TEA em crianças expostas à maconha intraútero foi de 4/1.000 pessoas-ano. Já as crianças que não foram expostas tiveram uma incidência de TEA de 2,42/1.000 pessoas-ano. Em comparação às crianças não expostas à maconha durante a gestação, crianças que foram expostas tiveram razão de risco ajustada para TEA de 1,51 [intervalo de confiança de 95% (IC 95%) 1,17-1,96).

Por fim, ao se avaliar gestantes que relataram usar maconha, mas nenhuma outra substância (como álcool, tabaco, cocaína, alucinógenos, opioides ou medicamentos prescritos durante a gravidez), os pesquisadores observaram que os filhos dessas mulheres ainda tinham um risco maior de TEA em comparação às crianças cujas mães não usaram maconha na gestação. Após ajuste adicional, as estimativas para deficiência intelectual e distúrbios de aprendizagem [hazard ratio (HR) = 1,22 (IC 95%: 0,97-1,54)] e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) (HR = 1,11 (IC 95%: 0,98-1,25) não tiveram significância estatística.

O estudo possui diversas limitações:

  1. A prevalência do uso de maconha foi menor do que relatada em outros lugares, embora os dados fossem coletados antes dos recentes aumentos de uso.
  2. Os dados sobre frequência, trimestre e duração do uso não estão disponíveis.
  3. Embora o autorrelato do uso de maconha seja moderadamente confiável para uso em estudos epidemiológicos em comparação com biomarcadores, erros de classificação podem ocorrer. Mulheres grávidas podem subnotificar o uso de Cannabis.
  4. Os estudos observacionais são frequentemente afetados por um viés residual de confusão, portanto, a interpretação das associações deve ser cautelosa.
  5. TEA e outros resultados, incluindo TDAH, podem ter sido diagnosticados incorretamente.

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Conclusão

Apesar de um número grande de amostra, o estudo é observacional, portanto, essas limitações devem ser consideradas. Além disso, mais estudos são necessários para avaliar a quantidade e em que momento o uso de maconha na gravidez leva a esses resultados na saúde de crianças, principalmente após a legalização da Cannabis em muitas jurisdições.

O uso recreativo de Cannabis está legalizado no Canadá. No entanto, isso não significa que a droga seja segura para gestantes ou lactantes. De qualquer forma, esses resultados enfatizam que as mulheres devem estar cientes dos riscos potenciais da maconha durante a gestação e seu uso deve ser desencorajado.

Referências bibliográficas:

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