Consumo de sódio e potássio e risco cardiovascular

O consumo excessivo de sódio é fator de risco para doença cardiovascular e sua redução é uma maneira custo-efetiva para reduzir a hipertensão.

O consumo excessivo de sódio é considerado fator de risco para doença cardiovascular e a redução desse consumo é uma maneira custo-efetiva para reduzir a hipertensão e consequente doença cardiovascular.

Alguns estudos populacionais relacionam tanto o alto quanto o baixo consumo de sódio com aumento do risco. Porém, para estimar a quantidade de sódio consumida, esses estudos geralmente utilizam amostras isoladas de urina e a estimativa da quantidade de sódio ingerida pode ficar prejudicada. Além disso, a quantidade de sódio na urina de 24 horas também pode não ser fidedigna, já que há grande variabilidade no consumo ao longo dos dias. Apesar disso, a detecção na urina de 24 horas é o método mais acurado para avaliar o consumo de sódio.

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Foi feito então um estudo para avaliar a relação da ingestão de sódio e potássio com o risco cardiovascular, combinando informações individuais de estudos com populações saudáveis que tinham múltiplas amostras de urina de 24 horas por participante.

Consumo de sódio e potássio e risco cardiovascular

Métodos do estudo e população envolvida

Foram incluídas 6 grandes coortes com 11.435 pacientes que tinham pelo menos duas amostras de urina de 24 horas. Após critérios de exclusão restaram 10.709 pacientes.

As medidas de exposição foram a excreção de sódio e potássio, avaliados pela excreção média nas amostras de urina de 24 horas individuais disponíveis. Amostras que tinham volumes menores que 500 ml ou maiores que 5.000 ml, coleta menor que 20 horas ou maior que 28 horas e perda relatada maior que 100ml foram excluídas.

O desfecho primário foi evento cardiovascular, composto por revascularização coronária, infarto agudo do miocárdio (IAM) fatal ou não fatal e acidente vascular cerebral (AVC) fatal ou não fatal. Os desfechos secundários foram AVC, morte por qualquer causa e revascularização miocárdica ou IAM.

A análise primária avaliou a associação da excreção de sódio e potássio e relação sódio-potássio com risco de evento cardiovascular. Essa análise foi feita de forma isolada para cada estudo, foi realizada avaliação em relação a heterogeneidade dos estudos e os resultados foram sintetizados em forma de metanálise.

Resultados

A excreção média de sódio nas 24 horas avaliada em 37.896 amostras foi de 3.270 mg e a estimativa de consumo diário, assumindo perdas não renais, foi 3.516 mg. Já a estimativa de consumo médio de potássio foi 3.292 mg.

No seguimento médio de 8,8 anos ocorreram 571 eventos cardiovasculares (taxa de incidência de 5,9 eventos por 1000 pessoas-ano), sendo 445 eventos relacionados a coronária (232 IAM e 213 revascularizações), 136 AVCs e 12 mortes por causas cardiovasculares.

Houve uma associação linear entre a ocorrência de eventos cardiovasculares e a excreção de sódio, com aumento de 18% no risco cardiovascular para cada 1000mg a mais sódio. Em relação ao potássio, maior excreção de potássio foi relacionada a menor risco cardiovascular quando comparados os valores do quarto e primeiro quartis e cada 1000mg a mais excretados de potássio se relacionou a redução de 18% do risco cardiovascular. Quando avaliada a relação sódio-potássio, para cada aumento de unidade dessa relação houve aumento de 24% no risco cardiovascular. Essas associações foram consistentes na análise de subgrupos de acordo com sexo, idade, hipertensão, altura e anos de seguimento.

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Quanto aos desfechos de AVC, também houve tendência de associação linear, porém com intervalos de confiança mais amplos, provavelmente em decorrência do número pequeno de eventos. Não houve associação da excreção de sódio com mortalidade por qualquer causa, porém quanto maior a excreção do potássio e menor a relação sódio-potássio menor foi a mortalidade.

A associação da excreção de sódio com o risco cardiovascular foi atenuada quando avaliada apenas uma amostra por paciente, porém de forma menos intensa quando aplicados os critérios de exclusão descritos acima.

Conclusão

Este estudo mostra os desafios na avaliação do consumo de sódio, já que mesmo o melhor exame atual, que é a dosagem de sódio na urina de 24 horas, apresenta limitações e pode não ser tão fidedigna por conta da variabilidade da dieta. Como mostrado, a avaliação de mais de uma amostra de urina de 24 horas por paciente evita que ocorram resultados falseados e mostrou relação mais consistente com o risco cardiovascular.

Esses achados reforçam a necessidade de diminuir o consumo de sódio na dieta, com benefício em redução de risco cardiovascular e nos traz a informação de que pessoas que tem maior consumo de potássio tem risco menor. Mais estudos são necessários para confirmar este último resultado e avaliar se aumentar o consumo de potássio tem efeito em reduzir eventos cardiovasculares.

Referências bibliográficas:

  • Ma Y, et al. 24-Hour Urinary Sodium and Potassium Excretion and Cardiovascular Risk. The New England Journal of Medicine. 2021. doi: 10.1056/NEJMoa2109794.

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