Controle álgico pós-operatório: o uso de opioides é o ideal?

Uma grande parte das adicções a opioides se inicia após uma prescrição médica para o controle da dor no pós-operatório.

A crise norte-americana de opioides não é uma realidade no Brasil, no entanto devemos ficar atentos com a realizada deles uma vez que diversos fatores e interesses podem mudar a prática médica aqui no Brasil.

Uma grande parte das adicções a opioides se inicia após uma prescrição médica para o controle da dor no pós-operatório, o que torna os cirurgiões uma parte desta problemática. O trabalho apresentado na revista The Lancet, realiza uma metanálise e revisão sistemática que tenta responder até que ponto o uso de opioides no pós-operatório influencia no controle álgico quando comparado com os pacientes que não tomaram opioides.

Controle álgico pós-operatório o uso de opioides é o ideal

Métodos

Revisão sistemática e metanálise, onde se buscou artigos de ensaios clínicos que compararam dois grupos em paralelo com o controle álgico da dor no pós-operatório com opioides e o outro grupo sem opioides. Foram incluídos pacientes a partir dos 15 anos de idade, e excluídos aqueles que receberam apenas 1 dose de opioide no pós-operatório. O desfecho primário a ser estudado foi a intensidade da dor no primeiro dia de alta hospitalar. O desfecho coprimário analisado foi o índice de náusea e vômitos nos 30 dias de pós-operatório. Quando disponíveis dados adicionais do uso de opioide como, tempo exagerado de uso, uso inadequado e até dependência também foram analisados.

Resultados

Após o levantamento de 23.977 artigos, 567 foram selecionados para a leitura completa sendo que 47 preencheram critérios para serem incluídos no estudo, sendo que 36 analisaram a dor no primeiro dia de pós-operatório e 12 estavam relacionados a vômitos no período pós-operatório. No total de todos os artigos foram analisados 6.607 pacientes, com 59% de mulheres e média das idades variando de 21-63 anos. A maioria dos artigos foram realizados na América do Norte (53%) e Europa (23%). Nenhum dos artigos incluíram cirurgias de grande porte, e 49% dos artigos analisaram cirurgia ambulatorial. No braço de analgesia sem opioides foram prescritos anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) com ou sem acetaminofen. Quanto aos opioides os mais utilizados foram codeína, hidrocodona e tramadol. A dose média prescrita de opioide por dia foi equivalente a 27 mg de morfina oral.

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A análise demonstrou uma evidência moderada que o uso de opioide não estava relacionada a uma diminuição da intensidade da dor no primeiro dia de pós-operatório, com 95%de IC variando 0,26 a 0,27 cm na escala métrica da dor. Quanto ao surgimento de vômitos houve uma evidência forte de vômitos com um risco relativo de 4,5 (95% IC, 1,93-10,51).

Discussão

A análise deste estudo, não demonstrou melhora do controle álgico com o uso de opioides nas primeiras 24 horas após o procedimento e alta hospitalar. Estudos anteriores demonstraram que este período é quando ocorre o pico da dor. Os ensaios clínicos envolvidos nesta análise apenas englobam cirurgias de menor porte e portanto não podem ser extrapolados para procedimentos de maior complexidade.

O uso de opioides foi diretamente relacionado ao aumento de náusea e vômitos pelos pacientes, assim como eventos de tonteira e constipação. O resultados desta meta análise corrobora a prática clínica de diversos países que, diferente dos EUA, raramente prescrevem opioides para controle da dor após a alta.

Para Levar Para Casa

O uso na dose correta dos analgésicos usuais é uma excelente medida para o controle da dor e não deve ser desvalorizado o seu potencial. Especialmente no Brasil onde temos a possibilidade do uso da dipirona, que possui uma melhor ação analgésica que o paracetamol. O uso de opioides deve ser restringido somente para os casos de falha com os analgésicos usuais. Para aqueles que não possuem restrição ao uso de AINES, estes ainda podem ser associados numa tentativa de não uso de opioides. Mesmo com tudo isto haverá situações que será necessário o uso de opioides, porém devemos sempre ficar atentos para os casos de adicção.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Fiore JF Jr, El-Kefraoui C, Chay MA, et al. Opioid versus opioid-free analgesia after surgical discharge: a systematic review and meta-analysis of randomised trials. Lancet. 2022;399(10343):2280-2293. DOI:10.1016/S0140-6736(22)00582-7

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