Controle do ritmo pode reduzir mortalidade na IC com fração de ejeção preservada?

Portadores de IC com fração de ejeção preservada obtêm benefício de redução da taxa de mortalidade se a FA for tratada com estratégia de controle do ritmo.

Há alguns dias foi publicado no Journal of the American Heart Association um estudo observacional (coorte retrospectiva), o qual sugere que pacientes portadores de insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) e fibrilação atrial (FA) concomitantemente obtêm benefício de redução da taxa de mortalidade em um ano, se a FA desses pacientes (portadores simultâneos de ICFEP e FA com mais de 65 anos) for tratada com estratégia de controle do ritmo (cardioversão química, cardioversão elétrica ou ablação eletrofisiológica) em vez de se usar tratamento com estratégia de controle da frequência cardíaca (FC), usando-se betabloqueador, bloqueador de canal de cálcio ou digitálico.

eletrocardiograma de paciente que precisa de controle do ritmo em ic

Controle do ritmo na ICFEP

Sabemos que pacientes com ICFEP têm morbidade e mortalidade similares às dos pacientes portadores de insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER). Também é de conhecimento prévio que a FA é a arritmia sustentada mais comum em pacientes com insuficiência cardíaca. Até um terço dos pacientes portadores de insuficiência cardíaca têm também a arritmia FA. Sabe-se ainda que até em torno de 40% dos pacientes portadores de IC com fração de ejeção preservada têm concomitantemente fibrilação atrial.

A ICFEP é a forma mais comum de IC em pacientes com mais de 65 anos e representa mais de 50% dos casos de IC prevalentes na comunidade. A ICFEP é virtualmente a única forma de insuficiência cardíaca observada em nonagenários. Essas informações mostram claramente a magnitude da importância dessa evidência de associação entre redução de mortalidade em um ano e tratamento da FA através da estratégia de controle do ritmo versus a estratégia de controle da frequência cardíaca, observada nesse estudo, de maneira estatisticamente significativa, nos casos de ICFEP.

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Metodologia

Entre 2008 e 2014, foram analisados retrospectivamente os registros médicos de 15.682 pacientes, no registro americano GWTG-HF (Get With The Guidelines – Heart Failure).

O estudo foi uma coorte retrospectiva e evidenciou uma estatisticamente significativa associação entre tratamento de FA com controle de ritmo e redução na mortalidade de pacientes simultaneamente portadores de ICFEP e FA que trataram a FA por controle do ritmo, e não apenas com controle da FC, no período de um ano do tratamento.

Resultados

Observou-se que em um ano de acompanhamento o hazard ratio para mortalidade de quem, sendo portador de ICFEP, teve tratamento da sua FA com controle do ritmo foi de 0,86, significando que os pacientes do estudo que trataram a FA por controle do ritmo, comparados àqueles que trataram essa arritmia com controle da FC tiveram 14% a mais de chance de sobreviver ao final de um ano.

Esses resultados ainda precisam ser confirmados por estudos randomizados, no entanto mostraram associação estatisticamente significativa entre tratar FA pela estratégia de controle do ritmo em caso de paciente portador de ICFEP e redução da mortalidade por todas as causas em um ano nesses pacientes.

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Conclusões

A literatura médica mostra que mais da metade dos pacientes portadores de IC têm a forma de insuficiência cardíaca chamada de ICFEP – insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada, acima de 65 anos de idade. Dos pacientes com ICFEP, sabe-se que entre 30% e 40% têm concomitantemente a arritmia FA.

O estudo possui alguns vieses, sendo um deles o fato de não ter sido estratificado o tipo de fibrilação atrial (paroxística, persistente ou permanente), o que pode por certo interferir no resultado terapêutico, conforme a estratégia adotada para o tratamento da FA.

Ainda assim, mesmo com alguns vieses, o resultado do presente estudo é bastante promissor em termos de aperfeiçoamento da terapêutica consensualmente recomendada na ICFEP, visto que atualmente não se tem conhecimento de nenhum tipo de intervenção médica que altere prognóstico de mortalidade na ICFEP. Esse estudo demonstrou associação entre controle do ritmo cardíaco de FA e redução do risco de mortalidade por todas as causas em um ano em pacientes com 65 anos ou mais.

Há a necessidade de que estudos randomizados mais provavelmente ratifiquem (ou mais remotamente retifiquem) essa associação estatisticamente significativa, em termos de causalidade, definindo que tratar ritmo de FA, quando presente na ICFEP, reduz mortalidade em um ano.

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Referência bibliográfica:

  • Rhythm Control Versus Rate Control in Patients With Atrial Fibrillation and Heart Failure With Preserved Ejection Fraction: Insights From Get With The Guidelines – Heart Failure. J Am Heart Assoc. 2019;8:e011560. DOI: 10.1161/JAHA.118.011560.

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