Coronavírus: características clínicas de pacientes graves na Itália

No dia 20 de fevereiro, o primeiro paciente diagnosticado com coronavírus, na Itália desenvolveu insuficiência respiratória aguda e foi admitido em UTI.

No dia 20 de fevereiro, o primeiro paciente diagnosticado com Covid-19, a doença pelo novo coronavírus, na Itália desenvolveu insuficiência respiratória aguda e foi admitido em uma das unidades de terapia intensiva (UTIs) da Lombardia, região no norte da Itália. Desde então, o número recorde de casos contabilizados na Lombardia colocou a Itália como segundo país mais afetado pela pandemia no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (dados até 27 de março).

Coronavírus na Itália

Foi publicado no último dia 05, no Journal of the American Medical Association (JAMA) o estudo “Baseline Characteristics and Outcomes of 1591 Patients Infected With SARS-CoV-2 Admitted to ICUs of the Lombardy Region, Italy”. O estudo retrospectivo é a maior casuística de pacientes graves com Covid-19 (1.591 pacientes) admitidos em Unidades de Terapia Intensiva publicada até o momento na literatura.

O mesmo incluiu pacientes com Covid-19 (confirmados laboratorialmente) que foram admitidos nas UTIs da Lombardia no período de 20 de fevereiro a 18 de março.

Vamos então resumir os principais pontos do estudo.

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População

  • Total de 1591 pacientes com diagnóstico laboratorial confirmado de Covid-19;
  • Idade: 63 anos (mediana: IQR, 56-70). Em relação à idade, o estudo dividiu dois grandes grupos (idade ≤ 63 anos e idade ≥ 64 anos);
  • Homens: 82% (1.304 pacientes).

Comorbidades: 68% dos pacientes tinham pelo menos 1 comorbidade. Mais comuns:

  • Hipertensão arterial sistêmica (49% de 1043 pacientes com dados disponíveis);
  • Doença cardiovascular (21%);
  • Hipercolesterolemia (18%).

Todos pacientes > 80 anos apresentavam pelo menos 1 comorbidade e 76% dos pacientes acima de 60 anos tinham pelo menos 1 comorbidade.

Veja também: Coronavírus: guideline do Surviving Sepsis Campaign para manejo de pacientes graves

Suporte respiratório

1.300 pacientes com dados disponíveis sobre suporte respiratório:

  • Necessidade de suporte ventilatório invasivo ou não invasivo (à admissão na UTI): 99% dos pacientes admitidos;
    Intubação endotraqueal e ventilação mecânica: 1.150 pacientes (88%) necessitaram intubação endotraqueal e ventilação mecânica;
  • Ventilação não invasiva: 137 pacientes (11%) foram tratados com ventilação não invasiva;
  • Taxa de utilização de ventilação mecânica entre o grupo idade ≤ 63 anos e idade ≥ 64 anos foi similar (88% x 89%).

Parâmetros ventilatórios e terapias adicionais

1. PEEP (Pressão Positiva Expiratória Final): Valor da mediana da PEEP foi de 14 cm H2O (IQR, 12-16).

2. FiO2 (Fração Inspiratória de Oxigênio): De um total de 999 pacientes com dados relacionados à FiO2:

  • FiO2 > 50%: 89% dos pacientes necessitaram;
  • FiO2 de 100%: 12% dos pacientes necessitaram.

3. Relação PaO2/FIO2:

  • A mediana da relação PaO2/FIO2 foi de 160 (IQR, 114-220);
  • Maior em pacientes mais jovens.

4. Posição Prona: 27% (240 de 875 pacientes).

5. ECMO: 1% (5 de 498 pacientes)

Desfechos

Análise dos pacientes com dados disponíveis até o dia 25 de março (1.581 pacientes).

  • 920 pacientes (58%) ainda estavam internados na UTI;
  • Alta da UTI: 256 (16%) haviam recebido alta da UTI;
  • Mortalidade: 405 (26%) haviam morrido na UTI;
  • Mortalidade foi menor no grupo de pacientes com idade ≤ 63 anos quando comparada ao grupo com idade ≥ 64 anos (15% vs 36% diferença, −21% [95% CI, −26% a −17%]; P < .001));
  • O percentual de pacientes que recebeu alta da UTI foi significantemente maior no grupo idade ≤ 63 anos se comparado ao grupo com idade ≥ 64 anos (21% vs 11%; diferença, 9% [95% CI, 6%-13%]; P < .001).

Veja mais: Coronavírus em Terapia Intensiva: orientações de abordagem do COVID-19

Limitações do estudo

  1. Estudo retrospectivo com coleta de dados por telefone;
  2. O cenário caótico na Lombardia dificultou a obtenção de informações mais detalhadas (como, por exemplo, medicações de uso contínuo dos pacientes);
  3. O tempo de follow-up é relativamente curto quando comparado ao curso natural da doença (com um maior tempo de follow-up é factível imaginar que a taxa de mortalidade e tempo de internação pode variar em relação ao que foi reportado no estudo atual);
  4. Para alguns desfechos, houve grande quantidade de dados ausentes.

Mensagens práticas

Na maior série de casos graves de pacientes com Covid-19 confirmado admitidos em UTI já publicada até o momento, a maioria dos pacientes:

  • Eram homens com idade acima de 64 anos;
  • A comorbidade mais comum foi a hipertensão arterial sistêmica;
  • Necessitaram de ventilação mecânica com altos níveis de PEEP;
  • A taxa de mortalidade na UTI foi de 26%.

Referência bibliográfica:

  • Grasselli G, Zangrillo A, Zanella A, et al. Baseline Characteristics and Outcomes of 1591 Patients Infected With SARS-CoV-2 Admitted to ICUs of the Lombardy Region, Italy. JAMA. Published online April 06, 2020. doi:10.1001/jama.2020.5394

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