Corticoide para infecções agudas de vias aéreas inferiores em adultos não asmáticos: tem benefício?

Apesar de serem motivos comuns de pacientes buscarem atendimento médico de urgência, infecções respiratórias agudas ainda não possuem tratamento muito bem estabelecido.

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Apesar de serem motivos comuns de pacientes buscarem atendimento médico de urgência, infecções respiratórias agudas ainda não possuem tratamento muito bem estabelecido. Apesar de existirem diretrizes recomendando que não se prescreva antibióticos nesses casos, isso ainda ocorre frequentemente para quadros tipicamente virais como: resfriados, sinusites agudas, traqueobronquites, etc.

Infecção de vias aéreas inferiores (IVAI; ex: traqueobronquites) podem se apresentar como um quadro semelhante à descompensação de asma, tendo sintomas como: tosse, falta de ar, dor torácica, chiado no peito e secreção respiratória purulenta.

Alguns estudos sugerem que tal entidade clínica causa alterações inflamatórias transitórias no epitélio brônquico e consequente redução do fluxo expiratório forçado, tal como na asma. Para a última, está bem estabelecido o uso de corticoide oral por 5 dias para casos de exacerbação. Será que haveria benefício em usar tal tratamento em casos de IVAI em pacientes sem diagnóstico de asma?

O JAMA publicou recentemente o trial OSAC (Oral Steroids for Acute Cough) no qual cerca de 400 adultos com quadro agudo de tosse, associado a pelo menos um outro sintoma (secreção respiratória, dor torácica, sibilos e/ou dispneia) foram randomizados para receber ou 40 mg de prednisolona oral ou placebo e analisar a gravidade e duração dos sintomas.

Para se analisar a gravidade, os pacientes responderiam diariamente a questionários e um score de 0 a 6 pontos para a intensidade dos sintomas por 28 dias. Também mediriam seu peak-flow 2 vezes/dia durante o acompanhamento. Foram excluídos: pacientes com DPOC, uso de medicação para asma nos 5 anos anteriores, pacientes que necessitaram internação hospitalar e/ou antibióticos na admissão.

O desfecho diário mais importante foi o tempo desde a randomização até o último dia de tosse com score de, pelo menos, 3 (tosse moderadamente ruim) na escala de 0 a 6. O outro desfecho diário analisado foi a média do score (0 a 6) de gravidade dos sintomas principais (tosse, secreção, dispneia, qualidade do sono, adinamia, limitação funcional) nos dias 2 e 4 após a randomização.

As características dos dois grupos após randomização foram muito semelhantes mas vale ressaltar que o grupo que recebeu corticoide tinha mais homens, idade mais avançada e mais pacientes tinham recebido a vacina da gripe nos 12 últimos meses.

Mais do autor: ‘Atividade Física X IMC X IC’

Resultados

A duração média de tosse score 3 a 6 (moderada ou pior) foi de 5 dias para ambos os grupos. No grupo que recebeu corticoide, houve uma taxa um pouco menor (-3,61%) de pacientes com tosse moderada ou pior no 7º dia após randomização. A análise secundária ajustada por alguns fatores (idade, sexo, vacinação e tabagismo) que eram pouco diferentes entre os grupos não mostrou impacto no resultado.

A média dos scores de gravidade dos diferentes sintomas entre o 2º e o 4º dia após a randomização foi de 1,99 para o grupo que recebeu corticoide e de 2,16 para o placebo. Isso evidencia uma diferença relativa de 9,3% no grupo do corticoide. Foi acordado pelos desenvolvedores do estudo que uma redução significativa seria de no mínimo 20%. Não houve diferença significativas entre os 2 grupos em relação aos resultados do peak-flow.

Os resultados deste OSAC trial sugerem não haver benefício na prescrição rotineira de corticosteroides por via oral em adultos não asmáticos com IVAI de etiologia viral.

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Referências:

  • Alastair D. Hay et al, Effect of Oral Prednisolone on Symptom Duration and Severity in Nonasthmatic Adults With Acute Lower Respiratory Tract Infection. JAMA Agosto 2017

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