Covid-19 e variante Gama: estudo avalia eficácia da Coronavac e Astrazeneca no Brasil

Uma publicação descreve a eficácia da Coronavac e da Astrazeneca no Brasil em um momento em que a variante Gama era a predominante.

Com a ampliação da vacinação contra Covid-19 mundialmente, passamos a ter mais informações sobre a eficácia de cada imunizante. Se no início, tínhamos disponíveis apenas os dados dos estudos utilizados para aprovação das vacinas, agora começamos a ter estudos de vida real. Apesar de muito utilizada, há poucos estudos com a Coronavac, especialmente sobre sua eficácia contra as variantes do SARS-CoV-2. Uma publicação — ainda em formato pré-print — descreve os resultados de eficácia da Coronavac e da Astrazeneca no Brasil em um momento em que a variante Gama (antiga P1) era a predominante no país.

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Covid-19 e variante Gama: estudo avalia eficácia da Coronavac e Astrazeneca no Brasil

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo retrospectivo que utiliza cruzamento de dados de três bancos nacionais: SI-PNI para registros de vacinação, o e-SUS Notifica para os registros de notificação de casos suspeitos de Covid-19 e o SIVEP-Gripe para os registros de SRAG.

Foram incluídos todos os indivíduos que receberam a primeira dose de vacina contra Covid-19 (Coronavac ou Astrazeneca) entre janeiro e junho de 2021. Cada indivíduo foi seguido retrospectivamente para avaliar os desfechos do estudo: infecção, hospitalização, admissão em CTI ou morte com diagnóstico confirmado de infecção por SARS-CoV-2 até 30 de junho de 2021.

Critérios de exclusão foram indivíduos vacinados com outros imunizantes que não Coronavac e Astrazeneca, com registros de vacinação inconsistentes, com Covid-19 confirmado antes da data de vacinação e os com ausência de dados considerados essenciais.

Ouça mais: A eficácia das vacinas para Covid-19 sobre a variante delta [podcast]

O status de vacinação foi definido baseado no tempo em relação a administração da vacina: ≤ 13 dias antes da primeira dose (período de referência), ≥ 14 dias depois da primeira dose, mas sem segunda dose (parcialmente vacinado) e ≥ 14 dias depois da segunda dose (completamente vacinado). Somente casos confirmados de Covid-19 foram incluídos na análise.

Os desfechos avaliados foram infecção, hospitalização, admissão em CTI e morte por Covid-19. Para cada desfecho, o status vacinal foi determinado de acordo com o tempo decorrido entre a vacinação (primeira ou segunda dose) e o início dos sintomas.

Resultados

Durante o período de estudo, 61.783.842 indivíduos receberam pelo menos uma dose de Coronavac ou Astrazeneca, dos quais 98,1% – 60.577.870 – preenchiam os critérios de inclusão e foram incluídos na análise. A maioria (63,8%) recebeu pelo menos uma dose de Astrazeneca, enquanto 36,2% foram imunizados com pelo menos uma dose de Coronavac. A maioria da coorte era composta de mulheres, de indivíduos com 60 anos ou mais e de residentes da região Sudeste do Brasil.

Nesse estudo, para os seguintes desfechos foram encontrados em relação com Astrazeneca:

  • Infecção: 70% (IC 95% 68,6 – 71,3%) menos risco para os completamente imunizados e 32,7% (IC 95% 31,9 – 33,5%) menos risco para os parcialmente imunizados;
  • Hospitalização: 86,8% (IC 95% 85,2 – 88,2%) menos risco para os completamente imunizados e 51,7% (IC 95% 50,4 – 52,9%) menos risco para os parcialmente imunizados;
  • Admissão no CTI: 88,1% (IC 95% 85,4 – 90,3%) menos risco para os completamente imunizados e 53,6% (IC 95% 51,4 – 55,6%) menos risco para os parcialmente imunizados;
  • Morte: 90,2% (IC 95% 88,3 – 91,8%) menos risco para os completamente imunizados e 49,3% (IC 95% 47 – 51,5%) menos risco para os parcialmente imunizados.

Para a Coronavac, os resultados foram:

  • Infecção: 54,2% (IC 95% 53,4 – 55,0%) menos risco para os completamente imunizados e 16,2% (IC 95% 15,1 – 17,4%) menos risco para os parcialmente imunizados;
  • Hospitalização: 72,6% (IC 95% 71,6 – 73,6%) menos risco para os completamente imunizados e 26,5% (IC 95% 24,6 – 28,4%) menos risco para os parcialmente imunizados;
  • Admissão no CTI: 74,2% (IC 95% 72,6 – 75,7%) menos risco para os completamente imunizados e 28,1% (IC 95% 24,9 – 31,1%) menos risco para os parcialmente imunizados;
  • Morte: 74% (IC 95% 72,6 – 75,3%) menos risco para os completamente imunizados e 29,4% (IC 95% 26,7 – 32,0%) menos risco para os parcialmente imunizados.

Os resultados se mantiveram quando casos suspeitos também foram analisados juntamente com os casos confirmados laboratorialmente.

Para a Coronavac, os resultados encontrados foram semelhantes aos de outro estudo de eficácia brasileiro, mas menores dos que os de estudos da Turquia e do Chile. Os autores destacam que diferenças nas estratégias de vacinação — no estudo chileno, por exemplo, havia maior proporção de indivíduos jovens vacinados — e o colapso no sistema de saúde em diversos locais do Brasil durante o período do estudo podem ter contribuído para as diferenças de eficácia encontradas.

Outra explicação é o predomínio de diferentes variantes em cada estudo. A variante Gama era a principal variante circulante no país no momento desse estudo, situação epidemiológica diferente da do Chile quando a eficácia vacinal foi avaliada.

A idade mostrou-se um fator que influencia na eficácia vacinal. Para a Coronavac, proteção contra morte manteve-se próxima a 80% em todos os grupos etários até 79 anos, mas, para indivíduos com 80 anos ou mais, a efetividade da vacinação cai, com proteção de 35,4% contra morte em indivíduos com mais de 90 anos. A Astrazeneca, por sua vez, teve a efetividade contra morte reduzida para 70,5% em indivíduos com mais de 90 anos, em contraste com valores próximos a 90% nas faixas etárias mais jovens.

Mensagens práticas

  • Os dados desse estudo sugerem alta proteção tanto de Coronavac quanto de Astrazeneca na população menor do que 80 anos, mas com redução em indivíduos mais idosos, especialmente os com 90 anos ou mais.
  • Esse estudo não avalia a eficácia desses imunizantes sobre a variante Delta, que rapidamente está se tornando a principal variante circulante em diversos locais do mundo. Contra a variante Gama, entretanto, ambos os imunizantes parecem eficazes.

Referências bibliográficas:

  • Cerqueira-Silva T, Oliveira VA, Pescarini J et al. The effectiveness of Vaxzevria and CoronaVac vaccines: A nationwide longitudinal retrospective study of 61 million Brazilians (VigiVac-COVID19). MedRxiv. 2021. doi: 10.1101/2021.08.21.21261501

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