Covid-19: estudo detecta carga viral mais alta em crianças menores de 5 anos

Quantidades significativas de carga viral foram detectadas em crianças menores de 5 anos em comparação com adultos.

As crianças são suscetíveis à infecção pelo novo coronavírus, mas geralmente apresentam sintomas leves em comparação com os adultos. Elas estimulam a disseminação de doenças respiratórias e gastrointestinais na população, mas o seu papel como fontes de disseminação da Covid-19 ainda é incerto.

Os primeiros relatórios científicos não encontraram evidências fortes de crianças como os principais contribuintes para a disseminação do novo coronavírus, mas o fechamento das escolas no início de respostas à pandemia impediu a realização de investigações em larga escala das instituições como fonte de transmissão para a comunidade.

Como os sistemas de saúde pública buscam reabrir as escolas e as creches, é importante entender o potencial de transmissão em crianças para orientar as medidas de saúde pública.

Um novo estudo, publicado no dia 30 de julho, no periódico JAMA Pediatrics, analisa como a replicação do vírus em crianças mais velhas leva a níveis semelhantes de ácido nucleico viral que os adultos, mas quantidades significativamente maiores deste ácido são detectadas em crianças menores de 5 anos.

Segundo os autores do trabalho, médicos do Hospital Infantil Ann & Robert H. Lurie de Chicago, nos Estados Unidos, as crianças quando ficam doentes apresentam uma carga viral considerável, que pode significar uma capacidade relevante de transmitir a Covid-19, assim como outras enfermidades, como a influenza.

A pista foi fornecida através da realização de testes moleculares (PCR), que encontraram em crianças doentes menores de 5 anos mais fragmentos do material genético do vírus do que em crianças de 6 a 17 anos, ou até mesmo em adultos.

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Carga viral de Covid-19 alta em menores de 5 anos

Estudo de carga viral

Foram reunidas amostras de 145 pacientes com a Covid-19 confirmada por PCR, com sintomas leves a moderados e no estágio inicial da doença, com no máximo sete dias de diagnóstico.

Esses pacientes pertenciam a três grupos:

  • Crianças com até 5 anos de idade (46 pacientes);
  • Crianças com 5 a 17 anos de idade (51 pacientes);
  • Adultos com 18 a 65 anos (48 pacientes).

Os swabs foram coletados usando um procedimento padrão de amostragem nasofaríngea bilateral. Vários controles, incluindo amostras com números de cópias conhecidos, foram incluídos em cada execução de PCR.

Os intervalos mediano e interquartil para cada grupo foram medidos e comparados usando o teste não paramétrico de soma de classificação de Wilcoxon. Valores de P bilateralmente menores que 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. As análises foram realizadas no software estatístico Stata / IC versão 16.0 (StataCorp).

As amostras do primeiro grupo, das crianças mais novas, tiveram menores valores CT para PCR — uma medida técnica que indica os ciclos necessários para a detecção de fragmentos do vírus.

O valor CT mediano foi semelhante para crianças mais velhas (11.1) e adultos (11.0), mas significativamente mais baixo para crianças mais novas (6.5).

“Para tentar remover variáveis que pudessem causar confusão ou parcialidade, foram excluídos os pacientes que estavam com necessidade de suporte de oxigênio; que estavam assintomáticos; ou que tinham duração dos sintomas desconhecida ou maior que uma semana”, explicou Taylor Heald-Sargent, médica e autora principal do estudo, em entrevista ao portal BBC.

Durante o estudo, os pesquisadores não examinaram a replicação viral ou a transmissão do novo coronavírus, mas foi demonstrado para outros vírus que quantidades mais altas do patógeno podem aumentar a capacidade de transmissão.

Presença do vírus, infecção e transmissão

Como apontou Taylor Heald-Sargent, é importante lembrar que ter o material genético do vírus detectado no organismo não significa desenvolver sintomas ou transmitir a doença.

“Sinceramente, nossos resultados nos surpreenderam e nos intrigaram. Não sei dizer por que as crianças pequenas têm níveis mais altos de RNA viral, mas são menos sintomáticas que as crianças mais velhas e os adultos”, afirmou à reportagem a autora do estudo.

“Já foi apontado que esses altos níveis do vírus podem ser capazes de desencadear uma resposta imunológica mais eficiente, impedindo a propagação do trato respiratório superior para o mais baixo. Isso significa que as crianças podem ter apenas sintomas de resfriado e não desenvolver pneumonia. Também é possível que parte da patologia observada na Covid-19 seja devida à própria resposta imune. Talvez as crianças mais novas tenham realmente um tipo diferente de resposta imune ao vírus, que não causa danos a órgãos como os pulmões”, analisou Taylor Heald-Sargent.

O artigo aponta também que há um fator que vai além das células e laboratórios e que pode ter minimizado, no mundo real da pandemia, o papel dos pequenos como transmissores.

“Se tem alguém que está fazendo isolamento são as crianças, principalmente as pequenas. Por estarem mais em casa, isso pode ter reduzido muito a infecção nesta faixa etária”, indicam os pesquisadores.

O artigo diz, ainda, que “relatos iniciais não encontraram evidências fortes de que as crianças sejam contribuidoras significativas para o alastramento do novo coronavírus, mas o fechamento das escolas no início da pandemia acabou afastando a produção de pesquisas de larga escala sobre estes lugares como fonte de transmissão comunitária”.

“Em relação às implicações dessas descobertas para a saúde pública, será importante que essa população de crianças mais novas seja imunizada à medida que as vacinas contra o novo coronavírus se tornem disponíveis”, analisa Roberta Esteves Vieira de Castro, editora de Pediatria do Portal de Notícias da PebMed.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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