Covid-19: maior parte dos brasileiros com anticorpos apresentou sintomas

Para detectar a presença de anticorpos para o coronavírus, cientistas usaram teste rápido previamente validado.

A maior parte dos brasileiros que criou anticorpos para o novo coronavírus apresentou sintomas, além de apresentar anosmia ou ageusia, sugere os resultados de uma pesquisa coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e publicada na plataforma Medrxiv, ainda sem revisão por pares.

Os pesquisadores da instituição são também responsáveis pela Epicovid19-BR, o maior estudo sobre a prevalência da doença no país. No experimento, foram testados 31.869 indivíduos de 133 cidades de todos os estados brasileiros.

Para detectar a presença de anticorpos para o vírus, os cientistas usaram um teste rápido, previamente validado, entre os dias 21 e 24 de junho. Os voluntários foram questionados sobre terem tido ou não algum sintoma da Covid-19 desde o início da epidemia no país.

Leia também: Covid-19: características e poder de evidência dos estudos

Maior parte dos brasileiros com anticorpos da Covid-19 apresentou sintomas

Principais descobertas do estudo de anticorpos

  • 849 indivíduos tiveram anticorpos detectados para o novo coronavírus (referente a 2,7% dos participantes). Desses, apenas 12% afirmaram não ter tido sintomas da Covid-19 desde o início da pandemia. Portanto, a maior parte dos infectados teve sintomas da infecção;
  • Entre os que tiveram anticorpos detectados, a maior parte relatou ter tido cefaleia (58%), seguido de anosmia ou ageusia (56,5%). A febre também apareceu em mais da metade dos pacientes entrevistados (52,1%);
  • Entre os indivíduos que não tiveram os anticorpos detectados, 42% também não tinham os sintomas.

“Nosso estudo identificou que a maior parte das pessoas com anticorpos era sintomática”, afirmam os pesquisadores.

Para a epidemiologista e pneumologista Ana Maria Baptista Menezes, da UFPel, primeira autora do estudo, a relação entre a alta frequência de mudanças no olfato ou paladar e a presença dos anticorpos torna esse sintoma muito importante no diagnóstico da doença.

“A mudança de olfato ou paladar foi cinco vezes mais recorrente entre os que tiveram resultados positivos do que nos negativos”, sinaliza a médica. Essa diferença pode ter sido de até seis vezes, se consideradas as margens de erro definidas pelos pesquisadores.

“Nos primeiros estudos, realizados na China, com pacientes hospitalizados, a população analisada era diferente. Esse sintoma nem era investigado às vezes, nem se sabia desse sintoma. Esse é o maior estudo populacional mostrando a importância e frequência desse sintoma”, lembra Ana Menezes.

Triagem dos pacientes

De acordo com os resultados do estudo, na falta de testes PCR suficientes para a população, a triagem deve ser realizada priorizando os pacientes que apresentarem a combinação de mudanças no olfato ou paladar acompanhado de febre.

Os pesquisadores afirmam, ainda, que as mulheres e pessoas com nível superior relataram sintomas de forma mais frequente. Crianças e adolescentes, por outro lado, tiveram a menor probabilidade de queixas.

“Em resumo, nossa análise mostra que a maioria dos indivíduos com anticorpos para o novo coronavírus relatou ter tido sintomas, mesmo que, na maioria dos casos, leves”, ponderam os cientistas.

“Nossas descobertas podem ser utilizadas para implementar sistemas de vigilância no país, o que ajudaria a identificar casos de forma precoce e guiar procedimentos de testagem”, consideram os autores.

Confira os sintomas mais recorrentes em pacientes com anticorpos para a Covid-19, segundo o estudo:

  • Cefaleia – 58%
  • Anosmia ou ageusia – 56,5%
  • Febre – 52,1%
  • Tosse – 47,7%
  • Dor no corpo – 44,1%
  • Dor de garganta – 33,8%
  • Diarreia – 25,6%
  • Dificuldade de respirar – 23,1%
  • Tremores – 20,5%
  • Palpitação – 20%
  • Vômito – 9,5%

Fonte: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.08.10.20171942v1

Na contramão dos estudos anteriores

No estudo, os pesquisadores também destacam que os achados seguem no sentido oposto ao de pesquisas anteriores, que apontavam que a maior parte das pessoas com Covid-19 não apresentava sintomas da doença.

“Aquela ideia de que a maioria dos casos não tem sintomas não é o que aparece no nosso estudo. Quem disse não para todos os 11 sintomas e teve o teste positivo foi apenas 12% dos casos”, ressalta Ana Menezes.

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Ressalvas

Na opinião da infectologista Isabel Cristina Melo Mendes, colunista do Portal de Notícias da PEBMED, o estudo realizado traz dados importantes, mostrando que a pesquisa de sintomas é uma importante ferramenta na identificação de indivíduos potencialmente transmissores.

No entanto, ao mesmo tempo, a especialista destaca que os sintomas mais frequentes são também altamente inespecíficos, sendo anosmia, ageusia e febre os mais relacionados à presença de anticorpos na pesquisa.

Outro destaque da pesquisa é a distribuição de sintomas por faixa etária dentre os indivíduos com teste rápido positivo, com maior prevalência de sintomas em jovens adultos e maior proporção de assintomáticos entre crianças e adolescentes.

“Um possível viés do estudo é o fato de depender do relato dos participantes em relação à presença de sintomas ocorridos de março de 2020 até o momento do estudo, em junho de 2020. Portanto, por sua natureza, é um estudo sujeito a viés de memória, principalmente em relação a sintomas leves e de curta duração. A queda nos níveis de anticorpos que ocorrem com o tempo também é outro possível viés, uma vez que uma proporção dos indivíduos classificados como negativos seria, na verdade, falso-negativos, o que alteraria a proporção da prevalência de sintomas entre pessoas com e sem a Covid-19”, analisa Isabel Mendes.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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