Tempo de leitura: 4 min.
Como noticiamos aqui no Portal, no dia 15 de maio a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um alerta sobre uma nova síndrome inflamatória multissistêmica em crianças com Covid-19. Em 19 de maio de 2020, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com a colaboração do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), divulgou um documento conjunto sobre o manejo clínico de pacientes pediátricos com a doença do novo coronavírus (Covid-19).
Os principais pontos evidenciados neste documento são resumidos a seguir.
- Ainda que as manifestações clínicas mais graves decorrentes da pandemia de Covid-19 tenham repercutido de forma incongruente em pacientes idosos com mais de 60 anos e nos indivíduos com comorbidades prévias associadas, formas mais graves da doença também podem ser vistas em crianças e adolescentes;
- Os primeiros relatos sobre a ocorrência de síndrome inflamatória multissistêmica em crianças começaram a aparecer no Reino Unido, no último mês de abril. Todavia, casos parecidos também foram descritos em outros países, como Espanha, França e Estados Unidos da América (EUA) a posteriori. De acordo com informações divulgadas, o quadro clínico da Covid-19 em pediatria foi assinalado pela presença de síndrome inflamatória multissistêmica, com manifestações clínicas similares às da síndrome de Kawasaki típica, Kawasaki incompleta ou síndrome do choque tóxico;
- Até o presente momento, as evidências com relação à Covid-19 e o surgimento de síndrome de resposta inflamatória multissistêmica não são conclusivas. Portanto, o documento reforça que “os pediatras permaneçam atentos para o rápido reconhecimento dos casos, a fim de efetuar o manejo apropriado nos serviços de emergência, enfermarias e unidades de terapia intensiva”.
Doença inflamatória relacionada à Covid-19
Sinais de alerta:
|
Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Pediatria (2020)
Leia também: Sintomas gastrointestinais podem ser sugestivos de Covid-19 em crianças?
Características clínicas e laboratoriais | |
Clínicas | |
Todos os pacientes descritos | Febre persistente > 38,5°C |
A maioria dos pacientes | Necessidade de O2 Hipotensão arterial |
Alguns pacientes | Dor abdominal / Diarreia / Náuseas e vômitos Confusão mental (torpor e coma) / Síncope / Cefaleia Conjuntivite Tosse e outros sintomas respiratórios Odinofagia Linfadenopatia Alterações em membranas mucosas Edema região cervical / Edema de mãos e pés Exantema polimórfico |
Laboratoriais | |
Todos os pacientes descritos | Fibrinogênio diminuído Ausência de outros agentes etiológicos potenciais que não o SARS-CoV-2 Aumento de D-dímero, PCR e ferritina Hipoalbuminemia Linfopenia / Neutrofilia |
Alguns pacientes descritos | Lesão renal aguda Anemia / Trombocitopenia Coagulopatia de consumo (como coagulação intravascular disseminada) IL-6 e IL-10 aumentadas Proteinúria CK elevada / Marcadores de função miocárdica elevados (troponina e pro-BNP) Aumento de LDH, triglicerídeos e transaminases |
Imagem e Ecocardiograma | |
Raio X de tórax com infiltrados simétricos e/ou derrame pleural Ecocardiograma e eletrocardiograma com evidências de miocardite, pleurite e/ou dilatação de artérias coronárias Ultrassonografia com sinais de colite, ileíte, linfadenite, ascite e/ou hepatoesplenomegalia Tomografia computadorizada de tórax com anormalidades de artéria coronária |
Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Pediatria (2020)
Abordagem terapêutica
Sugestões de manejo clínico |
Abordagem terapêutica precoce |
Utilização adequada de EPI Reanimação e tratamento de suporte (padrão PALS) Antibioticoterapia empírica (segundo protocolos locais de sepse) depois de coletadas hemoculturas Coleta de exames
Atenção para a possibilidade de rápida piora e agravamento da inflamação
Monitoração cardiorrespiratória
Considerar imunoglobulina intravenosa (IgIV) e ácido acetilsalicílico em casos que se enquadrem em critérios para síndrome de Kawasaki / Considerar IgIV se preencher critérios para síndrome do choque tóxico Monitoração rigorosa se houver envolvimento miocárdico (troponina e/ou pro-BNP elevadas/ ECG com alterações cardíacas e/ou anormalidades no ecocardiograma). |
Tratamento |
Conversar sobre o caso com as equipes de medicina intensiva pediátrica e infectologia pediátrica/imunologia/reumatologia Todas os pacientes devem ser tratados como suspeitas de Covid-19 Aplicar protocolos locais de manejo da Covid-19 suspeita ou confirmada e as recomendações para antibioticoterapia empírica Doença leve ou moderada: tratamento de suporte Deterioração clínica ou doença severa: discutir transferência com equipes de terapia intensiva pediátrica Terapias antivirais e imunomoduladoras devem ser avaliadas somente com protocolos clínicos, e discutidas com comitês de ética locais |
Legenda: EPI – Equipamento (s) de proteção individual; PALS – Pediatric Advanced Life Support | Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Pediatria (2020)
No Whitebook você encontra mais detalhes sobre a conduta de crianças com Covid-19. O conteúdo está liberado gratuitamente durante a pandemia.
Autora:
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação.
Referência bibliográfica:
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. “Em parceria com Ministério da Saúde, SBP divulga nota sobre COVID-19 e síndrome inflamatória em crianças e adolescentes”. 2020. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/em-parceria-com-ministerio-da-saude-sbp-divulga-nota-sobre-covid-19-e-sindrome-inflamatoria-em-criancas-e-adolescentes/ Acesso em: 22/05/2020