Impacto do uso de testes laboratoriais remotos para o diagnóstico molecular do SARS-CoV-2 em hospitais

Foi realizado estudo a fim de verificar o impacto do uso de testes laboratoriais remotos (TLR) para o diagnóstico do SARS-CoV-2.

Por meio de aparelhos compactos, de uso simplificado e de rápida liberação de resultados, os testes laboratoriais remotos (TLR), do inglês point-of-care testing (POCT), cada vez mais são utilizados como uma alternativa às metodologias tradicionais. Especialmente desenvolvidos pela indústria diagnóstica para serem operados por profissionais da área da saúde fora do ambiente do Laboratório Clínico (ex.: clínicas e consultórios, setor de emergência, CTI, centro cirúrgico, etc), esse tipo de instrumento possibilita uma rápida tomada de decisão médica.

O adequado manejo da pandemia do novo coronavírus foi duramente afetado, especialmente nos primeiros meses, em razão do grande intervalo de tempo entre a coleta e o resultado do exame molecular, associado, dentre outros fatores, pelo número reduzido de laboratórios clínicos capazes de realizar a reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR). À nível hospitalar, esse atraso no diagnóstico gera repercussões ainda mais profundas, na medida em que ele interfere diretamente no desfecho clínico e na transmissão intra-hospitalar.

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Nesse sentido, um estudo foi realizado em um hospital secundário da Inglaterra, a fim de verificar o impacto, sob diferentes óticas, do uso desses testes laboratoriais remotos para realização da RT-PCR para o diagnóstico do SARS-CoV-2 no ambiente hospitalar.

Testes laboratoriais remotos (TLR) para o diagnóstico molecular do SARS-CoV-2 em ambiente hospitalar

Métodos

Foi desenhado estudo clínico prospectivo, intervencional, não randomizado, com um grupo controle contemporâneo. Foram recrutados 499 pacientes do grupo intervenção (submetidos a RT-PCR por TLR) e de 555 pacientes do grupo controle contemporâneo (que realizaram a RT-PCR convencional, no Laboratório Central).  Os dados foram coletados entre 20/03/2020 e 29/04/2020, durante a primeira onda de Covid-19 na Inglaterra, no Southampton General Hospital, um hospital-escola de grande porte da região.

Como critérios de inclusão ao estudo, foram utilizadas as seguintes premissas: possuir 18 anos ou mais, capacidade de compreender e assinar um termo de consentimento informado por escrito, ter indicação de internação por uma equipe médica, estar presente no setor de emergência ou similar do hospital, poder ser recrutado em até 24 horas após a admissão e possuir uma doença respiratória aguda ou uma suspeita clínica de Covid. Foram excluídos os pacientes que se recusaram a serem submetidos a coleta do swab de naso/orofarínge, ou que já haviam sido incluídos no estudo, mas que retornaram ao hospital com menos de 14 dias a partir do seu recrutamento.

Resultados

Ambos os grupos demonstraram ser semelhantes do ponto de vista do sexo, idade, grupo étnico, tempo de sintomas e gravidade. Dos 499 pacientes do grupo intervenção, 197 (39%) testaram positivo para Covid-19, enquanto que dos 555 pacientes do grupo controle, 155 (28%) foram diagnosticados com a doença (diferença de 11,5% [95% IC 5,8-17,2], p = 0,0001). Um dado crucial e estatisticamente significante foi o tempo médio menor de liberação dos resultados no grupo intervenção, de 1,7 horas (1,6-1,9), em comparação ao grupo controle, que apresentou um intervalo médio de 21,3 horas (16,0-27,9), (diferença de 19,6 horas [19,0-20,3], p < 0,0001).

Dos pacientes que permaneceram ao menos 24 horas internados, os do grupo submetido ao TLR foram direcionados (baseado pelo resultado do exame molecular), do departamento de emergência ao setor definitivo, mais rapidamente: 8,0 horas (6,0-15,0) no grupo intervenção, contra 28,8 horas (23,5-38,9) no grupo controle (diferença de 20,8 horas [18,4-21,2], p < 0,0001).

Outro ponto importante foi a excelente acurácia diagnóstica do TLR que foi utilizado, quando comparado a um outro teste molecular padrão para fins de validação dos resultados apresentados. A sensibilidade foi de 99,4%, com especificidade de 98,6%, valor preditivo positivo (VPP) de 97,8% e valor preditivo negativo (VPN) de 99,7%.

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Conclusão

O uso dos testes laboratoriais remotos para o diagnóstico da Covid-19 nos departamentos de emergência possui um impacto direto na redução do tempo de liberação do resultado, proporcionando um rápido e adequado direcionamento dos pacientes para áreas Covid-19/não Covid-19 dos hospitais.

Dessa maneira, observou-se um maior controle da transmissão intra-hospitalar, otimização de recursos e melhor fluidez do fluxo de pacientes entre os diferentes setores.

Referências bibliográficas:

  • Brendish NJ, et al. Clinical impact of molecular point-of-care testing for suspected COVID-19 in hospital (COV-19POC): a prospective, interventional, non-randomised, controlled study. Lancet Respir Med. 2020. doi: 10.1016/S2213-2600(20)30454-9

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