Covid-19: produção de anticorpos neutralizantes e sua aplicabilidade clínica

Estudos demonstram que a Covid-19 utiliza um tipo de glicoproteína de membrana tipo I para ligar-se ao seu receptor na célula-alvo.

Os anticorpos neutralizantes são glicoproteínas específicas, cuja produção é induzida pela resposta imunológica do hospedeiro no decorrer da infecção propriamente dita, ou através da vacinação. São conhecidos por desempenharem um papel importante para o clareamento viral, com um grande potencial no sentido da prevenção e/ou tratamento de doenças virais, na medida em possuem a capacidade de bloquear a infecção.

Estudos demonstram que o vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, utiliza um tipo de glicoproteína de membrana tipo I, conhecida como sua proteína spike (S), para ligar-se ao seu receptor na célula-alvo. Resumidamente, após um processo de clivagem, a proteína S é ativada, permitindo assim uma fusão das membranas para a incorporação do vírus à célula. No caso da Covid-19, o alvo principal dos anticorpos neutralizantes é justamente a proteína S, inibindo assim seu reconhecimento pelo receptor celular.

Pesquisadores analisam amostra de sangue de paciente curado da Covid-19 para produção de anticorpos neutralizantes.

Anticorpos neutralizantes na Covid-19

Para o acompanhamento e análise dos níveis de anticorpos neutralizantes de pacientes recuperados da infecção pela Covid-19, foi realizado um estudo de coorte retrospectivo em um Centro Clínico de Saúde Pública de Xangai (Shangai), China.

Foram incluídos 175 pacientes adultos, com quadros leves/moderados de doença, que tiveram o diagnóstico laboratorial confirmado da Covid-19, e que apresentaram recuperação e alta hospitalar. A média de idade dos pacientes era de 50 anos (16 – 85), sendo 53% de mulheres. O período médio de internação foi de 16 dias (7 – 30), com duração da doença de 21 dias (9 – 34).

A detecção dos anticorpos foi realizada por meio de um ensaio de neutralização de pseudovírus (PsV), técnica largamente utilizada para a quantificação de anticorpos neutralizantes em outros tipos de viroses patogênicas (ex.: influenza, Ebola, MERS-CoV, SARS-CoV). Essa metodologia é uma variação do teste de neutralização por placas (PRNT), apresentando alta sensibilidade e reprodutibilidade.

A quantificação dos anticorpos neutralizantes de indivíduos recuperados foi determinada no dia da alta médica. Apenas em 6 pacientes foram colhidas amostras sequenciais, no decorrer do curso da infecção. A cinética da produção foi bem similar entre eles, sendo visualizados baixos níveis antes do 10o dia. Do décimo ao décimo quinto dia de infecção foi detectado um aumento de suas concentrações, permanecendo estáveis em seguida. Desse modo a resposta imune humoral parece ocorrer nesse período.

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Foi observado que uma parte considerável dos 175 pacientes, no dia da alta, apresentavam níveis baixos de anticorpos (cerca de 30%), enquanto que apenas 14% apresentavam altos títulos. Esses resultados indicam que uma parte dos pacientes se recuperaram mesmo sem terem títulos elevados. Certamente um achado importante no contexto do seu eventual uso na terapia passiva de anticorpos, como o plasma convalescente, onde apenas os doadores com maiores concentrações parecem ter utilidade.

Os títulos de anticorpos neutralizantes foram maiores em pacientes de idade mais avançada, indicando que suas concentrações podem ser úteis no clareamento viral, ajudando na recuperação clínica desses indivíduos. A idade dos pacientes foi negativamente correlacionada à contagem linfocitária, enquanto que foi positiva para os níveis da proteína c reativa (PCR) na admissão.

Limitações

Os autores relataram que o estudo apresentou uma série de limitações. Não foi realizada, por exemplo, a coleta para a determinação do RNA viral e sua dinâmica de produção e clareamento nos pacientes. Outra limitação apresentada foi o a exclusão de pacientes graves/críticos do estudo. Uma vez que eles receberam, conforme o protocolo local, a transfusão de plasma convalescente durante a internação.

Conclusões

As concentrações de anticorpos neutralizantes são largamente utilizadas para a avaliação da eficácia da resposta vacinal a outras doenças virais, como na poliomielite e influenza, e serão muito úteis ao desenvolvimento de uma vacina.

A transfusão de plasma convalescente de indivíduos recuperados pela Covid-19, mostra-se uma terapia promissora, tanto para a profilaxia, quanto para o tratamento da infecção (condição já experimentada com êxito em infecções como o Ebola e o SARS-CoV). A titulação dos níveis de anticorpos neutralizantes, no plasma de doadores recuperados, é de fundamental importância para o sucesso da terapia. Tal medida deve ser implementada, como uma forma de triagem dos potenciais doadores, melhorando assim a custo-efetividade da terapia.

Referências bibliográficas:

  • Fan W, et al. Neutralizing antibody responses to SARS-CoV-2 in a COVID-19 recovered patient cohort and their implications. Shanghai Public Health Clinical Center and Key Laboratory of Medical Molecular Virology (MOE/NHC/CAMS), School of Basic Medical Sciences, Fudan University, Shanghai, China. Disponível em: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.03.30.20047365v1.full.pdf

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