Covid-19: Profissionais da área da saúde têm 50% mais chance de contaminação

Dados iniciais de campanha de testagem para verificar a disseminação da Covid-19 foram apresentados após a realização de 600 testes rápidos.

Os dados iniciais da primeira etapa da campanha Bora Testar com os moradores de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, entre os dias 8 e 12 de setembro, foram apresentados após a realização de 600 testes rápidos (IGM/IGG) para identificar a presença do novo coronavírus.

Entre as descobertas, foi constatado pela equipe médica que quem trabalha presencialmente na área de saúde está 50% mais suscetível à contaminação, seguido pelos que atuam na área de serviços, com 40%.

“Nossa preocupação, além de levar os testes aos que mais precisam para cooperar com a prevenção da doença, é contribuir com dados que ajudem a traçar políticas públicas para o atendimento de uma das populações mais vulneráveis de nossa sociedade”, diz Claudia Daré, diretora executiva da LatAm Intersect PR, uma das idealizadoras da Campanha Bora Testar.

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Campanha realiza testagem para Covid-19 em áreas carentes

Principais descobertas desta primeira etapa:

  • Os casos positivos estão concentrados em três unidades censitárias, localizadas na região central da comunidade, onde há a maior concentração de pessoas, sendo próxima a um córrego, onde existe esgoto a céu aberto. 48% têm renda familiar até R$ 1.045;
  • Não há distinção entre o grau de instrução, foram contaminados igualmente 40,7% dos que têm o fundamental incompleto e os que têm ensino médio e superior incompletos;
  • O contágio se deu com maior incidência entre os moradores que saem de casa para trabalhar (51,9%);
  • Indivíduos que trabalham presencialmente na área de saúde estão 50% mais suscetíveis à contaminação, seguidos por quem atua na área de serviços, com 40%.

Como está sendo realizada a campanha

Três equipes compostas por enfermeiros e entrevistadores se organizaram para visitar as casas, realizar a triagem para os testes e, quando necessário, aplicar os exames diagnósticos.

As equipes foram divididas em sete quadrantes compostos por 42 setores censitários, os mesmos utilizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para mapear a região.

A triagem foi realizada com 400 moradores. Desse total, 28% fizeram o teste e 6,3% tiveram resultado positivo para a Covid-19.

A triagem traz também perguntas sobre sintomas apresentados anteriormente à data do questionário e no dia da visita, e esses dados apresentam mudanças. Entre os sintomas anteriores (entre março e agosto), a falta de olfato e paladar eram as principais manifestações e afetaram 23% das pessoas, além de tosse 22% e febre e calafrios 21%.

Já na data da visita, apenas 4% apresentavam esses sintomas mais clássicos da doença. Já 6,5% estavam com tosse e nariz congestionado. Entre os que tiveram sintomas, apenas 11% afirmaram ter procurado orientação médica.

O formulário utilizado para triar e encaminhar as pessoas para o diagnóstico foi desenvolvido por um grupo de médicos, parceiros do projeto, e desenvolvedores da plataforma Ciente, através da qual os comunitários são questionados sobre os seus sintomas.

A partir destas informações é possível o cruzamento de dados para retratar a pandemia nas favelas brasileiras, de comunidade em comunidade, até o final da campanha.

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Censo das Favelas

No Brasil, existem mais de 6.300 favelas, segundo o IBGE, que abrigam 13,4 milhões de pessoas, retratando uma grande desigualdade social de acesso à saúde. Por isso, uma das maiores preocupações com o contágio da Covid-19 é a disseminação e a letalidade do novo coronavírus nessas comunidades.

A metodologia aplicada na triagem também auxilia no combate à Covid-19 de maneira objetiva, pois revelou que os casos positivos estão concentrados em três unidades censitárias.

Segundo Gilson Rodrigues, coordenador nacional do grupo G-10 das Favelas, esta é a região central da comunidade, onde há maior concentração de famílias, e próxima a um córrego, onde o esgoto corre a céu aberto. “Não resta dúvidas que essas condições são fatores propícios para a contaminação. Apesar de todo o esforço que dedicamos para dar melhores condições aos moradores, políticas públicas são ainda mais necessárias” afirma.

Próximos passos do projeto

Neste último final de semana o projeto Bora Testar esteve em Heliópolis, a segunda comunidade a ser testada para a Covid-19 na cidade de São Paulo.

Para esta testagem, quatro equipes compostas por enfermeiros realizaram a triagem e aplicaram os testes. “Todos os profissionais contratados temporariamente para a ação são selecionados na própria comunidade, uma maneira a mais que encontramos para dar apoio nesse momento de vulnerabilidade e desemprego”, conta Emília Rabello, uma das idealizadoras do projeto.

Os dados desta segunda etapa da campanha serão disponibilizados em breve.

As próximas ações da Campanha Bora Testar estão programadas para a Cidade Tiradentes, em São Paulo, e na Rocinha, no Rio de Janeiro.

Crowdfunding

A Campanha Bora Testar conta com apoio de empresas solidárias e com uma plataforma de crowdfunding para a compra de testes e o suporte logístico.

“Ainda buscamos investidores para viabilizar mais testes e temos nossa plataforma de crowdfunding para quem quiser nos apoiar na compra de testes e logística”, complementa Claudia Daré.

Conheça mais sobre o projeto nas redes sociais @boratestarcovid no Instagram e Facebook.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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