Covid-19: soroprevalência e desempenho analítico do ensaio Abbott Architect SARS-CoV-2 IgG

Realizou-se um estudo de coorte, com o objetivo de detectar a soroprevalência de casos de Covid-19, e determinar o desempenho analítico de kit diagnóstico.

Uma das principais estratégias para o adequado controle da pandemia e entendimento do comportamento do SARS-CoV-2, passa, obrigatoriamente, pela elucidação da dinâmica da produção de anticorpos e seu diagnóstico laboratorial.

Foi realizado um estudo de coorte, com o objetivo de detectar a soroprevalência de casos de Covid-19, bem como de determinar o desempenho analítico do kit Abbott Architect SARS-CoV-2 IgG, em pacientes na região metropolitana de Boise, no estado de Idaho, EUA.

Esse é um imunoensaio qualitativo para a determinação de anticorpos IgG contra o nucleocapsídeo do SARS-CoV-2, utilizando uma metodologia quimioluminescente, no sistema automatizado Architect, da fabricante Abbott.

O aparelho detecta sinais luminosos da reação antígeno-anticorpo, reportando numericamente os resultados em índices. De acordo com a bula do fabricante, o índice recomendado de cut-off (COI) para esse ensaio é de 1,40, ou seja, resultados com índices maiores que 1,40 são considerados reagentes, enquanto que abaixo desse limite, como não reagentes.

Métodos

A sensibilidade foi determinada utilizando os soros seriados de 125 pacientes com exames positivos para a Covid-19 detectados por técnicas moleculares (RT-PCR), a maioria oriunda de um hospital da região. A soroconversão dos anticorpos IgG aconteceu em 53,1% dos pacientes (IC 95% 39,4 – 66,3%) no 7o dia do início dos sintomas, 82,4% (51,0 – 76,4%) no 10o dia, 96,9% (89,5 – 99,5%) no décimo quarto dia, e em 100% dos pacientes no décimo sétimo dia de doença (décimo terceiro dia após a coleta do swab nasal), utilizando o cut-off recomendado pelo fabricante de 1,40.

Já a especificidade foi calculada usando como base 1.020 amostras de soro de 1.010 indivíduos diferentes que estavam armazenadas em laboratório. Essas amostras foram coletadas nos anos de 2018 e 2019, ou seja, antes da circulação viral nos EUA. Em apenas uma amostra foi encontrado um índice superior ao limite do cut-off, sendo reportado como um resultado falso-positivo. Todas as outras amostras (1.019) obtiveram índices inferiores ao cut-off (não regente), perfazendo uma especificidade de 99,90% nos soros pré-covid.

Foi observado que os anticorpos IgG detectados nos primeiros dias de sintomas tiveram um aumento consistente de seus índices nas amostras seriadas colhidas nos dias subsequentes.

Soroprevalência na população estudada

Foram testados 4.856 indivíduos da região metropolitana de Boise, que estavam interessados em saber se já haviam entrado contato com o vírus. Eles se candidataram voluntariamente a participar da pesquisa, mediante inscrição em uma plataforma eletrônica.

Em 87 pacientes foram detectados anticorpos IgG, correspondendo a uma soroprevalência de 1,79% na comunidade, utilizando-se o cut-off de 1,40. A prevalência foi maior nos indivíduos mais idosos (4%), enquanto que nos menores de 19 anos foi de apenas 0,4%.

Leia também: Covid-19: produção de anticorpos neutralizantes e sua aplicabilidade clínica

Limitações

A validação sorológica para o cálculo da sensibilidade foi utilizada, majoritariamente, em soros de pacientes internados e idosos (65,6% eram maiores de 60 anos de idade). Esse viés pode ter comprometido o fornecimento de informações precisas sobre a data do início dos sintomas. Além disso, a resposta imune de pacientes idosos é lentificada. Isso pode ter provocado um atraso no tempo de positividade do estudo (100% de sensibilidade após 17 dias de sintomas).

Outro viés importante se deve ao fato da seleção dos pacientes. Eles se autocandidataram, desejando conhecer seu estado sorológico, o que pode ter superestimado a soroprevalência.

O ensaio somente detecta os anticorpos IgG direcionados contra o nucleocapsídio viral. Desse modo, inviabilizaria seu uso em estudos que utilizam a proteína “spike” recombinante para o desenvolvimento de vacinas.

Considerações finais

O desempenho analítico do teste Abbott Architect SARS-CoV-2 IgG, demonstrou um excelente comportamento e consistência de resultados no estudo, concordantes com os dados apresentados em bula.

Os testes sorológicos de alta performance são promissores, e terão um papel importantíssimo no contexto da pandemia. Cabe salientar que, assim como todo exame laboratorial, ele deve ser validado por cada Laboratório Clínico, antes de ser disponibilizado para a população.

Referências bibliográficas:

  • Bryan A, et al. Performance Characteristics of the Abbott Architect SARS-CoV-2 IgG Assay and Seroprevalence in Boise, Idaho. Journal of Clinical Microbiology. Maio 2020; 00941-20; DOI:10.1128/JCM.00941-20

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