Covid-19: tratamento precoce com plasma convalescente reduz mortalidade

Pacientes com Covid-19 tratados com plasma convalescente morrem em taxas mais baixas do que aqueles que receberam tratamento padrão.

Pacientes com Covid-19 tratados com o plasma convalescente morrem em taxas significativamente mais baixas do que aqueles que receberam tratamento padrão isoladamente. Isso de acordo com resultados preliminares de uma pesquisa publicada recentemente no American Journal of Pathology, ainda sem revisão por pares.

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Representação gráfica do vírus causador da Covid-19 em pacientes tratados com plasma

Aplicação da técnica com plasma

Os médicos que trabalham no Houston Methodist, o primeiro centro médico acadêmico dos Estados Unidos a infundir pacientes com Covid-19 em estado crítico com plasma doado de pacientes recuperados, realizaram transfusões de plasma em 316 pacientes infectados entre março e julho. Depois, compararam os dados deles, 28 dias depois, com os de 251 pacientes que não receberam a substância.

A experiência mostrou que, se a aplicação da substância fosse realizada nas primeiras 72 horas após a internação, a chance de as pessoas ainda estarem vivas 28 dias depois era maior entre os que receberam a substância.

Nos casos em que a transfusão foi realizada após as primeiras 72 horas, não houve diferença na mortalidade, segundo o estudo. Para funcionar, o plasma também deveria ter alta concentração de anticorpos.

“Embora o plasma convalescente seja uma terapia segura, nossos dados apontam que uma consideração cuidadosa deve ser dada aos riscos e benefícios potenciais, uma vez que a transfusão pode ser benéfica somente no início do curso clínico”, avaliam os cientistas no estudo.

“Em nossa experiência, muitos pedidos de plasma convalescente são para pacientes que já receberam outras terapias e estão no final do curso da doença”, afirmam os pesquisadores.

Foram excluídos da pesquisa: pacientes com histórico de reações graves a transfusões de sangue; aqueles com doença em estágio terminal não compensada e intratável subjacente; e ainda quem possuía sobrecarga de fluidos ou outras condições que aumentariam o risco de transfusão de plasma.

“Embora a terapia de plasma convalescente permaneça experimental e tenhamos mais pesquisas a fazer, com mais dados para coletar, agora temos mais evidências seguras que podem ajudar a reduzir a taxa de mortalidade por esse vírus”, afirmou o médico James Musser, um dos autores do estudo.

Mais um estudo sobre a técnica

Outro estudo, disponibilizado no banco de dados de pré-impressão bioRxiv, mas ainda não publicado de forma definitiva, também aponta que pacientes que receberam o plasma em até três dias após o diagnóstico positivo da Covid-19 tinham mais chance de sobreviver.

Os médicos da clínica Mayo analisaram dados de 35.322 pacientes que receberam transfusões em 2,8 mil centros de tratamento intensivo nos Estados Unidos e seus territórios.

Em sua análise, os pesquisadores analisaram uma dúzia de ensaios em que pacientes com a Covid-19 hospitalizados receberam terapia com plasma convalescente.

Os doze ensaios, conduzidos em vários locais ao redor do mundo, incluíram mais de 800 participantes no total. Quando considerados em conjunto, sugerem que os pacientes que receberam plasma tinham menos da metade da probabilidade de morrer do que os pacientes que receberam outros tratamentos, de acordo com o relatório.

Especificamente, a taxa de mortalidade entre os pacientes que receberam plasma foi de 13%, em comparação com 25% entre os pacientes que receberam tratamentos padrão.

Embora essa seja uma tendência na direção certa, a nova análise não foi revisada por pares, nem alguns dos dados do ensaio que a análise examinou. Além do mais, apenas três dos doze estudos eram ensaios clínicos randomizados (RCTs), onde os pacientes são designados aleatoriamente para receber um tratamento ou padrão de atendimento, que são o padrão ouro para avaliar tratamentos médicos.

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As principais descobertas foram:

Nos pacientes que receberam o plasma em até três dias depois do diagnóstico, cerca de 9 a cada 100 não estavam mais vivos sete dias depois da transfusão. Nos pacientes que recebiam a substância quatro ou mais dias depois do diagnóstico, esse número subia para 12 a cada 100.

Pacientes que recebiam o plasma em até três dias, 22 a cada 100 morriam em até 30 dias após a transfusão. Já naqueles que passavam pela transfusão do quarto dia em diante, a mortalidade subiu para 27 a cada 100 no mesmo período.

A mortalidade também variou conforme a quantidade de anticorpos presentes no plasma recebido: a mortalidade entre os que receberam alta dose foi de 9%; entre os que receberam uma dose média, 12%; e, entre os que receberam uma dose baixa, quase 14%.

No segundo estudo, os pesquisadores avaliaram que a relação entre menor mortalidade e menor tempo até a transfusão indicou a eficácia do tratamento com plasma em pacientes hospitalizados com a Covid-19. A informação, segundo eles, pode ajudar no desenho de ensaios clínicos randomizados envolvendo plasma convalescente.

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Ressalvas

Embora promissor no papel, o tratamento precoce com plasma convalescente é difícil de ser estudado na prática, alertam os especialistas.

Entretanto, no contexto de uma pandemia, estudos bem controlados podem ser de difícil execução na escala e na velocidade exigidas para tirar conclusões claras para pessoas que podem precisar de tratamento imediatamente.

Para a infectologista Isabel Cristina Melo Mendes, colunista do Portal de Notícias da PebMed, os resultados do uso de plasma convalescente são promissores, mostrando o seu benefício em pacientes críticos com a Covid-19. No entanto, a especialista frisa que os resultados ainda são preliminares, com a natureza não controlada dos estudos aumentando o risco de vieses.

“Ambos os estudos mostram benefício com o uso precoce de plasma nas primeiras 72 horas. Também parece haver uma curva de dose-resposta, com maiores níveis de anticorpos exercendo maior benefício. Embora ainda com resultados insuficientes para recomendar o uso rotineiro como tratamento para a Covid-19, os achados podem indicar a melhor estratégia de administração do plasma convalescente a ser avaliada em outros estudos”, avalia Isabel Mendes.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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