Covid-19: universidade institui novo processo de desinfecção de máscaras N95

Com o rápido crescimento da epidemia no mundo, passa a ser necessário, mais do que nunca, o uso racional e a economia dos materiais de proteção individual.

A pandemia por Covid-19 e sua grande capacidade de transmissão tornaram os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) um recurso ainda mais valioso, embora limitado. Na China, altas taxas de infecção de profissionais de saúde foram verificadas inicialmente, evoluindo com uma considerável diminuição após a instituição de uso adequado dos EPI. No entanto, o rápido crescimento da epidemia ao redor do mundo estrangulou as cadeias de suprimentos de materiais de proteção hospitalares. Isso, por sua vez, causou escassez de equipamentos, inclusive de máscaras N95. Passa a ser necessário, mais do que nunca, o uso racional e a economia de tais materiais.

Nesse contexto, para prolongar o uso de máscaras N95, foram desenvolvidos novos métodos para sua esterilização e desinfecção, sendo o uso de Peróxido de Hidrogênio (água oxigenada) vaporizado um dos mais promissores. Uma das instituições a utilizar esse método, a Escola de Medicina da Universidade de Washington descreveu em um artigo o processo adotado para aplicá-lo em grande escala no seu Centro Médico-Acadêmico.

Médico utiliza máscara N95 que passou por processo de desinfecção com água hidrogenada

Máscaras N95 para Covid-19

Para o início do projeto, foi criada uma equipe multidisciplinar com especialistas em esterilização, saúde ambiental, médicos entre outros. Essa equipe montou um projeto piloto que desenvolveu o desenho para operacionalizar o processo de coleta, transporte e manuseamento das máscaras. O objetivo era retornar cada máscara N95 para o mesmo profissional de saúde que a usou, de maneira a aumentar a aceitação dos mesmos. Além de diminuir as preocupações a respeito do uso de cosméticos faciais e dos ajustes a diferentes formatos de rosto. Após mais algumas definições, iniciou-se o processo.

Ao final do turno, as máscaras N95 são retiradas, seguindo os padrões de higiene manual e facial, e colocadas dentro de um envelope de Tyvek (um material impermeável a líquidos mas que permite passagem de vapor), com a devida identificação do profissional e seu setor e com o posterior fechamento com lacre adesivo. Os envelopes são deixados em uma caixa destinada a seu armazenamento e transporte, disponível em locais específicos em cada setor.

Um funcionário designado para essa função, com EPI adequado, realiza a coleta nos setores ao final do turno, transportando as caixas até a sala de Peróxido de Oxigênio Vaporizado. Essa sala é composta por 5 áreas:

  1. Uma sala “infectada”, onde as caixas são deixadas em cima de estantes móveis em formato de grades;
  2. Uma área para a desinfecção, onde ocorre a vaporização com Peróxido de Oxigênio, após o transporte da estante, a retirada dos envelopes da caixa e a sua colocação deitados sobre as grades da estante;
  3. Área de aeração, onde os envelopes irão “descansar” até que os níveis de Peróxido de Oxigênio nas máscaras encontrem-se adequados;
  4. Uma área de estar para os profissionais desse serviço;
  5. Um local para higiene das mãos e rosto.

Veja mais: Coronavírus: o que fazer se a máscara n95 acabar? [vídeo]

Detalhamento do processo

As máscaras chegam dentro dos envelopes, no interior da caixa, que são colocados deitados sobre as estantes de grades e levados para a vaporização. Esse processo segue algumas especificações (temperatura de 20 °C, 40% de umidade relativa, e 10 g/unidade de volume de Peróxido de Hidrogênio) e dura cerca de 4 horas e meia.

Após esse processo, as máscaras N95 são levadas para a sala de aeração, onde sensores verificam regularmente os níveis de Peróxido de Hidrogênio nos envelopes. As máscaras são liberadas após identificados níveis zerados por dois diferentes sensores e então transportadas de volta para os respectivos setores.

A coleta, a desinfecção e a devolução ocorrem em cerca 24 horas, com as máscaras retornando para o mesmo profissional que a utilizou anteriormente. Atualmente, são desinfectadas cerca de 200 máscaras por ciclo, após expansões estruturais realizadas e que ainda estão ocorrendo no complexo hospitalar da universidade.

Adaptação à realidade brasileira

Apesar de contribuir para a reutilização de uma grande quantidade de máscaras N95, o modelo proposto pela universidade de Washington necessita de recursos estruturais específicos. A necessidade de um grande setor destinado para a desinfecção, com adaptações prediais de ventilação e de isolamento de estruturas, além de tecnologias como sensores de níveis de Peróxido de Hidrogênio e de condições ambientes são exemplos dessa limitação para reprodução no Brasil. No entanto, a experiência pode servir como um bom direcionamento de iniciativas no SUS e na rede hospitalar suplementar brasileira.

Referências bibliográficas:

  • Grossman J, et al. Institution of a Novel Process for N95 Respirator Disinfection with Vaporized Hydrogen Peroxide in the setting of the COVID-19 Pandemic at a Large Academic Medical Center. Journal of the American College of Surgeons. 2020;DOI: 10.1016/j.jamcollsurg.2020.04.029

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