Cuidados Paliativos e Enfermagem: recomendações durante o uso de morfina

A OMS destaca que um dos grandes desafios é a dificuldade de acesso as medicações essenciais como os analgésicos opioides, principalmente a morfina.

Ontem, dia 12 de maio, foi comemorado o Dia Internacional de Enfermagem, por isso o Nursebook, junto do Portal PEBMED, está realizando uma programação especial para esta semana: um texto por dia! Outras ações da semana de Enfermagem você encontra nas redes sociais do Nursebook!

enfermagem realizando administração de morfina

Uso de morfina

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em relação à inserção dos Cuidados Paliativos no mundo, destaca que um dos grandes desafios é a dificuldade de acesso as medicações essenciais como os analgésicos opioides, principalmente a morfina. Os desafios de acesso aos opioides são diversos com destaque para o excesso de trâmites para aquisição e distribuição, a ausência de treinamento entre profissionais de saúde para as melhores práticas e até mesmo as crenças equivocadas sobre opioides.

O sulfato de morfina é uma medicação essencial dentro da abordagem dos Cuidados Paliativos (CP), trata-se de uma analgésico opioide forte, com alto potencial para alívio de sintomas e que está indicado principalmente para o tratamento de dor moderada à intensa. Outra indicação muito comum é para o tratamento de dispneia em pacientes com doenças progressivas e/ou ameaçadoras de vida, por exemplo, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), cardiopatias, câncer de pulmão avançado entre outros. Além disso, é uma medicação relativamente de baixo custo, com distribuição pelo Sistema Único de Saúde e que pode beneficiar muitos pacientes.

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Desta maneira, considerando os profissionais de Enfermagem essenciais durante a administração de medicações, escolha de via, plano de cuidados, continuidade e monitoramento, algumas ações devem ser integradas ao plano de cuidados onde está indicado o uso de morfina.

Principais recomendações

  1. Conhecer as formas de apresentação: existem diversas apresentações para sulfato de morfina: solução injetável (ampola) de 1 e 10 mg/mL, comprimido simples de 10 mg e 30 mg, solução oral (gotas) de 10 mg/mL e cápsula de liberação prolongada de 30 mg, 60 mg ou 100 mg.
  2. Reforçar e orientar sobre o horário das medicações: de forma geral comprimidos simples de Morfina devem ser indicados de 4 em 4 horas, cápsula de liberação prolongada pode ser indicada com intervalos maiores, geralmente de 8 em 8 horas ou de 12 em 12 horas. Soluções injetáveis irão depender da necessidade do paciente, no entanto, vale ressaltar que podem ser administradas em bolus ou diluída em uma infusão contínua pela via subcutânea de acordo com a indicação médica. As doses e intervalos variam de acordo com o perfil do paciente e necessidade.
  3. Orientar sobre a necessidade de resgastes: durante a abordagem terapêutica com o uso de Morfina é de extrema importância que enfermeiros orientem e/ou administrem doses extras se necessário. Essas doses utilizadas quando necessário, servem de base para que o tratamento sofra ajustes durante a reavaliação.
    Compreender a importância da titulação: titulação é o processo de ajuste gradual das medicações. As melhores práticas para uso de Morfina recomendam que pacientes que nunca utilizaram opioides, comecem com doses baixas e aumentem gradualmente de acordo com a necessidade. Geralmente, essa dose diária é ajustada durante a reavaliação dos sintomas e averiguação de quantas doses extras foram utilizadas nas últimas 24 horas.
  4. Individualizar o Plano de Cuidados: importante a elaboração de um plano de cuidados individualizado e que compreenda o paciente como um ser único, para isso, na prática algumas doses de medicações opioides deverão ser ajustadas, por exemplo, pacientes idosos muito frágeis, com disfunção renal ou hepática deverão reduzir a dose padrão de início em 50%.
  5. Checar a execução do plano de cuidados: importante que enfermeiros chequem a execução do plano terapêutico, por exemplo, em pacientes internados os dispositivos devem ser checados sempre que houver queixa do sintoma, muitas vezes a dose medicamentosa permanece no equipo não atingindo o alvo de absorção, checar também se as doses extras estão sendo administradas, outras ações de checagem devem ser incorporadas na assistência.
  6. Combater crenças equivocadas sobre o uso de morfina: enfermeiros devem possuir competências técnicas baseada nas melhores evidências para orientar e combater crenças inadequadas entre os profissionais da saúde e população sobre o uso desta medicação.
  7. Utilizar instrumentos validados e avaliação diária dos sintomas: a avaliação dos sintomas e necessidades deve ser realizada diariamente e deve ser compartilhada entre todos os membros da equipe, por exemplo, durante a aferição de sinais vitais incorporar a dor como quinto sinal vital. Todas as alterações devem estar documentadas para integrar o processo de reavaliação.
  8. Orientar e monitorar os principais efeitos colaterais: um plano terapêutico para prevenção e alívio dos principais efeitos colaterais deve estar associado ao uso de morfina, por exemplo, um dos principais efeitos colaterais é a constipação, neste caso, laxantes e medidas não farmacológicos deverão ser prescritos e orientados.

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O uso da morfina e de outros opioides quando bem indicado, respeitando as evidências e boas práticas, pode ser estratégico para alívio de dor e dispneia. Para que o uso consciente da morfina se concretize nos serviços de saúde, recomenda-se a elaboração de protocolos com critérios e fluxogramas de indicação e distribuição, e ainda mais treinamentos frequentes destinados as equipes de enfermagem que assegurem a qualidade assistencial.

O mais importante é que não limitemos a compreensão de um sintoma como apenas uma queixa de manifestação física, um sintoma ou sofrimento deve ser compreendido como uma expressão multidimensional e para alívio completo dessas demandas que transcendem a dimensão física, devemos empregar diversas ações interdisciplinares em um trabalho contínuo e dinâmico efetivado por uma equipe multiprofissional, como prevê um dos princípios da abordagem dos Cuidados Paliativos.

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Referências bibliográficas:

  • Cherny N, Fallon M, Kaasa S et. al. [ed.]. Oxford Textbook of Palliative Medicine. Oxford University Press Fifth Edition. [Internet]; 2015; [citado em maio de 2020].
  • World Health Organization. Improving acess to Palliative care [Infográfico Internet]. WHO; 2015; [citado em maio de 2020].
  • World Health Organization. Integrating palliative care and symptom relief into primary health care: a WHO guide for planners, implementers and managers. [Internet]; 2018; [citado em maio de 2020].
  • World Health Organization. Improving acess to Palliative care [Infográfico Internet]. WHO; 2015; [citado em maio de 2020].

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